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UOL NOTÍCIAS - Corrupção e violência condenam o país à pobreza
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FOLHA DE S. PAULO | MERCADO - LAURA CARVALHO: O enigma do crescimento
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DCI - Menos impactados por estímulos ao consumo, serviços segue em retração
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FOLHA DE S. PAULO | MERCADO - MPEs derrubam produtividade brasileira
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Valor Econômico (SP): Saldo comercial do país com EUA, Europa e Ásia piora em 2013
Por Marta Watanabe e Rodrigo Pedroso
Resultado positivo mantido desde 2000 com a UE passou a déficit no ano passado
A balança comercial brasileira fechou 2013 com superávit de US$ 2,56 bilhões, mas esse pequeno saldo positivo não impediu a piora no resultado comercial com importantes parceiros no ano passado, na comparação com 2012. Houve elevação de déficit com os Estados Unidos, redução de superávit com a Ásia e o saldo com a União Europeia, positivo desde 2000, migrou para o vermelho no ano passado.
A mudança foi provocada por fatores diversos, como recuo das exportações de petróleo, queda de preços das commodities e importação em ritmo relativamente forte. Em 2014, a expectativa é de melhora modesta nos saldos dessas trocas.
Afetado principalmente pela queda na exportação de petróleo e álcool, as trocas com os americanos terminaram 2013 com déficit maior que o do ano anterior. No acumulado de 2013, o saldo negativo foi de US$ 11,42 bilhões, mais que o dobro do déficit de US$ 5,76 bilhões em 2012. Nas trocas com a Ásia houve queda de superávit, embora menor. O saldo positivo em 2013 foi de US$ 4,43 bilhões, contra US$ 6,45 bilhões em 2012. Com a China, porém, principal destino de exportações, o superávit avançou de US$ 6,98 bilhões em 2012 para US$ 8,72 bilhões.
A deterioração maior aconteceu nas trocas com a União Europeia. Depois de manter, de forma ininterrupta, desde 2000 superávit com o bloco, o Brasil fechou o ano passado com déficit de US$ 3 bilhões. Em 2012 o superávit foi de US$ 1,38 bilhão.
Para 2014, os analistas acreditam que a China continuará gerando uma demanda importante para as exportações brasileiras, mas sem crescimento extraordinário de superávit. Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que o crescimento das vendas ao exterior em 2013 foi impulsionado pela China que, mesmo com a economia em desaceleração, manteve um ritmo de compras acima dos demais parceiros comerciais brasileiros.
Os embarques aos chineses aumentaram 10,8% na média diária do ano passado ante o ano anterior, enquanto as exportações totais brasileiras recuaram 1% na mesma comparação. Em 2014, diz Ribeiro, os chineses devem seguir ganhando espaço.
Rodrigo Branco, pesquisador do Centro de Estudos de Estratégias de Desenvolvimento da UERJ (Cedes-UERJ), lembra que o superávit com os chineses em 2014 deve ficar muito próximo ao do ano passado. "Pode haver uma elevação do saldo, mas deve ser muito tímido, marginal, por conta do crescimento do país asiático em patamares parecidos ao deste ano."
Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), há risco de o superávit com os chineses diminuir, por conta de queda no preço das commodities. A demanda da China por minério de ferro e soja deverá se manter estável em relação a este ano, calcula ele. Isso porque a previsão de crescimento para o país asiático em 2014, diz Castro, é parecida com a de 2013, em torno de 7% a 7,5%. "Os preços, porém, deverão cair." Ele projeta recuo de 3% no preço do minério de ferro em 2014, na comparação com o preço de dezembro. Para a soja em grão, na mesma comparação, prevê queda de 9,2%.
"Ao mesmo tempo, a moeda chinesa tem passado por uma ligeira valorização, o que deve tornar as exportações da China mais caras", diz. De qualquer forma, Castro não acredita que isso afetará de forma drástica as importações de produtos made in China. A balança do Brasil com o país asiático, portanto, deve fechar 2014 com um superávit parecido com o de 2013, ou talvez um pouco menor.
A expectativa de muitos analistas é que a recuperação de produção de petróleo melhore, em 2014, o resultado das trocas com outro parceiro importante do Brasil, os Estados Unidos. A melhora esperada, porém, não é espetacular, porque se restringe a uma redução do déficit apresentado no ano passado.
O restabelecimento da produção de petróleo e combustíveis, diz Branco, pode propiciar uma melhora na balança com os Estados Unidos. O petróleo é um dos principais itens da pauta de exportação. Em 2012, representou um quinto dos embarques do Brasil aos americanos. Em 2013, a queda de produção, porém, afetou o desempenho das vendas. De janeiro a novembro de 2013, foram vendidos para os americanos US$ 3,2 bilhões em petróleo, queda de 40,2% em relação a igual período de 2012.
Ribeiro, da Funcex, lembra que os Estados Unidos são um dos parceiros históricos para o qual as exportações brasileiras seguem perdendo espaço. Ele acredita que o saldo melhore em 2014 por conta de uma exportação maior de petróleo, mas destaca que o problema não é só esse. A tendência de perda de clientes americanos para terceiros, diz, seguiu no ano passado. "Em 2014, nossa inserção no mercado norte-americano deve continuar bem complicada."
Fabio Silveira, economista da GO Associados, também prevê alguma melhora no comércio com os Estados Unidos em 2014 por conta do petróleo, mas avalia que o crescimento da economia do país ainda continua baixo, apesar da recuperação. Além disso, o Brasil continua perdendo espaço no mercado norte-americano devido à falta de competitividade.
Um dos grandes motivos de preocupação dos analistas é o comércio com a União Europeia. A instabilidade econômica da região, que já causou deterioração na balança em 2013, não promete ser diferente em 2014. Assim como em 2013, segundo Castro, da AEB, a balança brasileira com os europeus também deve terminar 2014 deficitária. A economia ainda instável do bloco europeu não promete aumento de demanda dos produtos exportados pelo Brasil.
Branco, do Cedes-UERJ, diz que os países europeus estão tentando ampliar as exportações e procurando novos mercados. Entre eles, países emergentes, como o Brasil. As trocas com o bloco europeu já refletiram isso em 2013, com elevação das importações brasileiras originadas da UE em 5,5% e o recuo de 3,6% dos embarques para o bloco, levando em conta a média diária.
Para Silveira, o protecionismo dos países europeus também tem dificultado as exportações brasileiras para a região. As negociações para um eventual acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia geram expectativas de avanço em 2014, mas os economistas não acreditam que isso fará diferença nas trocas no curto prazo. "Teoricamente o acordo deve sair em 2014, mas isso não irá alterar a dinâmica do comércio com a União Europeia no ano que vem", diz Castro.
Além disso, paralelamente aos esforços de um acordo com o Mercosul, os europeus, dentro da estratégia de abrir novos mercados, têm mantido negociações com vários países. Um dos que podem afetar de forma significativa a exportação brasileira é o acordo Trans Atlântico, entre Estados Unidos e União Europeia, que deve versar tanto sobre padrões de comércio como de investimento. Vera Thorstensen, do Centro de Comércio Global e Investimento da FGV-SP, diz que esse acordo permitirá aos Estados Unidos elevar as exportações de commodities para a Europa e concorrer com as vendas brasileiras.
Para alguns analistas, o mercado latino-americano vai compensar o recuo das vendas aos europeus. "Mas não dá para esperar algo muito diferente do que vem sendo observado nos anos anteriores", diz Ribeiro, do Ipea. Em 2013, lembra, a Argentina ganhou espaço principalmente com a compra de automóveis e autopeças de fornecedores brasileiros. O abrandamento das restrições a produtos brasileiros também contribuiu para o crescimento de 8,1% nas vendas aos argentinos na média diária do ano passado em relação a 2012.
Branco, pondera, porém, que não se pode esperar para este ano outra "boa surpresa" que o comércio com os argentinos propiciou em 2013. "Há muitas ingerências políticas no comércio com a Argentina e provavelmente o resultado não se repetirá da mesma forma”.
Silvio Campos Neto, economista da Tendências, também acredita que não se pode esperar muito da Argentina para o resultado da balança comercial. O que ele classifica como voluntarismo nas políticas comerciais do governo argentino torna difícil a previsão do comportamento da demanda pelos produtos brasileiros. "É um país de complementaridade de setores industriais e com peso importante. Mas é um país complicado e com uma situação econômica desfavorável", afirma.
Assim como outros analistas, Lia Valls, professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), também não prevê mudanças na composição dos principais parceiros brasileiros neste ano em relação ao resultado de 2013. A única exceção fica por conta da Argentina. "A relação pode piorar, há sempre um risco, pois a pauta tem grande peso em automóveis”.
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Brasil Econômico (RJ): Olhar do Planalto - Pedras no caminho da indústria
Por: Sonia Filgueiras
Estudo do Ipea mostra, de modo geral, que as empresas mais inovadoras se sentem bem posicionadas no mercado doméstico, mas o mesmo não acontece frente aos concorrentes externos
Uma enquete eletrônica aplicada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o objetivo de examinar como a questão da produtividade vem sendo tratado pelas empresas brasileiras aponta conclusões preocupantes - se considerarmos o desafio de crescimento que o país tem pela frente em um contexto de recuperação internacional ainda lenta. A baixa qualificação da mão de obra surge como o principal entrave à expansão da produtividade. A carga e a complexidade tributárias aparecem como o fator que mais impacta negativamente a competitividade do grupo pesquisado, mas seguida de muito perto pelos custos da mão de obra e pela regulação trabalhista.
Considerando as conclusões anteriores, não chega a causar surpresa uma terceira informação apontada pela enquete: as empresas que responderam à pesquisa, em sua maioria, informam que se sentem competitivas no mercado doméstico, mas mal posicionadas na competição internacional. A enquete computou 851 respostas, a maioria de grandes empresas inovadoras da indústria e de alguns segmentos mais inovadores do setor de serviços (cerca de 30% das empresas respondentes têm mais de 500 funcionários). Mais da metade da amostra é composta de empresas da indústria de transformação (alimentos, máquinas e equipamentos e produtos de informática, dentre outros setores).
Alguns resultados: ao avaliar a importância de 15 possíveis gargalos com impacto negativo sobre a eficiência no processo de produção propriamente dito, a baixa qualificação da mão de obra é um fator de alta ou média importância para 67% das empresas. A baixa escala de produção está em segundo lugar (54%) e, em terceiro, o mau desempenho dos fornecedores em termos de prazo e de confiabilidade (45% das empresas deram alta ou média importância a esse fator).
Na questão que busca identificar fatores externos (uma lista de 13 foi apresentada) que, na visão das empresas, afetam a sua competitividade, a carga tributária é vista como um gargalo de alta ou média importância por 90% das empresas, seguida dos custos da mão de obra e da regulação trabalhista (88% atribuíram alta ou média importância a este fator) e da complexidade tributária (83%). Os custos dos insumos e matérias-primas e a taxa de juros aparecem logo a seguir. Ambos foram selecionados como fatores relevantes por 74% das empresas.
O câmbio ainda é um fator de alta ou média importância por 60% das empresas. "Vale salientar que, segundo empresários ouvidos, é a incerteza jurídica derivada das ações trabalhistas uma das maiores preocupações, e não necessariamente os custos rotineiros de mão de obra", afirmam os pesquisadores Fernanda De Negri e João Maria de Oliveira, autores do estudo. Quanto à qualificação da mão de obra, a baixa qualidade do ensino brasileiro é citada pelos autores como uma possível causa.
Na comparação com os concorrentes, quase metade das empresas (47%) afirma que sua produtividade é similar aos seus concorrentes domésticos. Apenas 14% informam que seus níveis de produtividade são mais baixos que os de seus concorrentes domésticos e 28% dizem que são maiores. Mas, quando a comparação é feita com concorrentes internacionais, o quadro se inverte: 40% das empresas disseram ter níveis de produtividade inferiores aos dos seus concorrentes localizados fora do país e apenas 6% informaram acreditar que sua produtividade é maior que a dos concorrentes externos (veja o gráfico). "Ou seja, o diagnóstico destas empresas, de modo geral, é que estão bem posicionadas no mercado local, mas mal posicionadas no mercado externo", apontam os autores. Finalmente, a enquete mostra que boa parte das empresas pesquisadas tem consciência de suas responsabilidades no que diz respeito a monitorar seu desempenho produtivo: 68% declararam acompanhar sua produtividade por meio de indicadores quantitativos e 71,4% declararam ter realizado seu último investimento significativo em ampliação da capacidade e/ou de modernização nos últimos dois anos.
São todos problemas conhecidos e ajudam a explicar porque a indústria brasileira tem mostrado tanta dificuldade de reagir à crise internacional, apesar dos financiamentos subsidiados do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e das desonerações fiscais oferecidas pelo governo. São também problemas de solução complexa. Por isso, lançam dúvidas sobre a capacidade do setor de contribuir de forma mais importante na recuperação econômica do país em 2014.
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18350. Reunião IPEADATA
02/07 Reunião IPEADATA Palestrante: Erivelton Pires Guedes– Técnico de Planejamento e Pesquisa do IPEA Horário: das 14h às 17h Local: Auditório do 16º andar – Av. Presidente Antônio Carlos, 51, Rio de Janeiro (RJ) Informações: Thais Fernanda Souza Costa (thais.costa@ipea.gov.br) Telefone: (21) 3515-8601 Realização: Dimac (Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas). Obs1: O evento não é aberto ao público externo
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Programa debateu a influência de fatores externos e internos à escola nos resultados do IDEB
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Folha de S. Paulo (SP): Novas caras
Educação na pré-escola, crime, saúde e informalidade são alguns dos temas que estão no radar dessa nova geração de economistas listada pela Folha; a seguir um pouco sobre o que estudam, o que pensam sobre trabalhar no governo e sobre os atuais problemas do país
Gabriel Ulyssea Estudos sobre a informalidade no mercado de trabalho acompanham o economista Gabriel Ulyssea desde o mestrado, na PUC-Rio. No ano passado, sua tese de doutorado (também sobre o tema) foi premiada pela Anpec (associação que reúne alunos de pós-graduação em economia).
Concluiu os estudos na Universidade de Chicago, orientado pelo Prêmio Nobel James Heckman.
Aos 34 anos, Ulyssea tem uma vivência de governo que o diferencia dos economistas de sua idade. Participou da formulação do Fundeb (fundo que provê recursos para o pagamento de professores do ensino básico), quando o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ainda era secretário de Tarso Genro, então ministro da Educação.
“Foi interessante ver a política sendo feita”, diz. “É a maneira mais direta de impactar a realidade. Isso me motiva muito.”
Entrou par o Ipea (instituto governamental de pesquisa econômica) e foi trabalhar com Ricardo Paes de Barros, referência nos estudos sobre desigualdade.
Em 2006, escreveu capítulos e ajudou Paes de Barros a organizar o livro “Desigualdade de Renda no Brasil: uma Análise da Queda Recente”, reunião dos principais estudiosos do tema no país.
Isso tudo antes dos 27 anos, quando partiu para a Universidade de Chicago. Estudou como a informalidade afeta a rotina das empresas.
Constatou que a redução dos impostos na folha de pagamento pode aumentar a formalização das empresas, mas pouco afeta a vida dos trabalhadores.
“Com o ganho de margem, elas podem contratar mais funcionários informais e há pouco impacto sobre os salários”.
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Valor online (SP): Depreciação de 10% do real elevaria PIB em 2,8 pontos em quatro anos
Flávia Lima
A forte desvalorização do real ainda não teve força suficiente para reanimar a indústria. Nos últimos dois anos, em termos nominais, o real caiu 31% frente ao dólar. Em termos reais (descontada a inflação), tomando-se a diferença entre a inflação ao consumidor dos EUA e a inflação brasileira medida pelo IPCA, a depreciação no período foi de 21%. Afinal, quando serão sentidos os efeitos do real mais fraco sobre a economia?
Estudo da USP de Ribeirão Preto tenta elucidar a questão, ao apontar que os resultados de um câmbio depreciado sobre a economia são, sim, expressivos, mas não aparecem da noite para o dia. Segundo o estudo, feito a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), uma desvalorização de 10% da moeda local em termos reais elevaria o PIB em 2,8 pontos percentuais em quatro anos. Sobre o PIB da indústria, os efeitos seriam ainda maiores: mais 3,4 pontos à indústria como um todo e 4 pontos à indústria da transformação, mais exposta à concorrência internacional.
Os cálculos tomam como base a taxa de câmbio efetiva, mais importante para determinar a competitividade do país, pois leva em consideração as moedas dos principais parceiros comerciais do Brasil - e não apenas o dólar. Desde 2012, a depreciação da taxa de câmbio foi de 26%, segundo o índice do Ipea. Para os pesquisadores da USP de Ribeirão Preto, são várias forças atuando sobre o PIB e é possível que, sem a depreciação do real, a situação fosse pior. Fora isso, dizem eles, a desvalorização cambial por si só não é suficiente para assegurar que os ganhos obtidos via balança comercial e aumento da produtividade sobrevivam para além do período apontado de quatro anos. Para que o efeito sobre o PIB seja mais perene, a depreciação deve ser encarada como uma gatilho para outras reformas.
Dentre elas, o estudo destaca a necessidade de aumento da poupança interna (em detrimento do consumo) como algo crucial tanto para manter o câmbio depreciado, quanto para aumentar o investimento e os níveis de crescimento. "Não adianta desvalorizar o câmbio artificialmente, mas a taxa de poupança continuar a mesma, pois o real vai acabar se apreciando novamente", diz o coordenador da pesquisa e professor da Faculdade Economia da USP Ribeirão Preto, Rudinei Toneto Júnior.
O estudo abordou também o lado menos atrativo da depreciação cambial - o impacto sobre a inflação - e trouxe conclusões importantes. De modo diverso da regra tomada como geral, segundo a qual uma desvalorização cambial de 10% leva a um aumento de 0,6 ponto percentual no IPCA, os pesquisadores apontam que a cada 10% de desvalorização nominal do câmbio, 0,10 ponto seria repassado ao IPCA. Nos períodos em que a taxa de inflação é maior, porém, o repasse também tende a ser maior. Logo, para amortecer melhor esse impacto inflacionário e sustentar o crescimento, diz o também pesquisador Luciano Nakabashi, a poupança volta a ser peça central.
A tese, no entanto, não é consensual. Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), diz que o efeito de uma desvalorização cambial expressiva talvez fosse insuficiente para alterar a pauta de exportações brasileira, concentrada em commodities. "Daria um desconto a essas estimativas porque elas olham para o passado". Silvia destaca ainda o fato de o Brasil ser um país de baixa poupança doméstica - justamente um dos gargalos apontados pelo estudo. Segundo ela, isso significa que nos períodos em que passa por ciclos de investimentos, necessariamente precisa importar mais. "Um câmbio mais desvalorizado é ruim para esse processo de investimento". Para ela, a economia brasileira ainda depende muito de insumos importados e da incorporação de tecnologia via importados.
Até mesmo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Paulo Francini, admite que uma taxa de câmbio competitiva não seria solução para todos os problemas da indústria. "Precisamos de sólido equilíbrio fiscal e crescimento da taxa de poupança". Para Francini, é difícil falar em taxa de câmbio ideal porque simplesmente "não há como agradar a todos os setores". "Um dólar a R$ 3 seria bom para todo mundo. Mas entre R$ 2,50 e R$ 3 já é um equilíbrio adequado".
Segundo Francini, é preciso reconhecer que existem setores em que o Brasil não é mais tão competitivo. E recomenda afastar a figura do "herói" ao se pensar no empresário. "Cada um faz a sua parte desde que estimulado para tal". Para ele, a indústria de transformação representa 13% do PIB e pode caminhar para os 8% ou 9%. "Não tem país que dê certo desse jeito".
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EBC: Brasil 4D será testado no Distrito Federal em fevereiro
Por Mariana Tokarnia, da Agência Brasil
Brasília - A partir de 15 de fevereiro, 300 famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família no Distrito Federal vão usar a televisão para acessar benefícios e serviços dos governos federal e distrital. Poderão fazer consultas a vagas de emprego, oportunidades de capacitação profissional; ter acesso ao calendário de vacinação, além de acessar conteúdos e serviços bancários e de aposentadoria. Tudo pelo controle remoto da TV.
As famílias farão um teste do Projeto Brasil 4D, coordenado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A expectativa é que em dez anos o projeto alcance as mais de 13 milhões de famílias beneficiárias do programa. O teste será acompanhado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que irá fazer uma pesquisa de campo e divulgar um documentário sobre o projeto.
Os testes começaram no ano passado em João Pessoa, onde 100 famílias tiveram acesso à plataforma Ginga, criada e desenvolvida no Brasil. Por meio de um conversor, na tela da TV, os moradores tiveram acesso a oferta de empregos, a cursos de capacitação e a orientações para obtenção de documentos, além de informações sobre serviços e benefícios do governo federal, como aposentadoria, campanhas de saúde e os programas Bolsa Família e Brasil Carinhoso, entre outros.
Segundo o coordenador e idealizador do Projeto Brasil 4D, o superintendente de Suporte da EBC, André Barbosa, na cidade, foi constatada economia de R$ 12 mensais por família. "As famílias economizaram por não ter que pegar ônibus e ir até os lugares para procurar emprego ou capacitação, conseguir informações. Fizeram tudo pela TV", explica. Ele calcula que, quando o projeto estiver em vigor, a economia possa chegar, em dez anos, a um total de R$ 7 bilhões.
A intenção é levar os benefícios da internet a famílias de baixa renda que ainda não têm acesso à banda larga, explica Barbosa. O projeto funciona em parceria com empresas de telefonia, pela tecnologia 3G, usada em telefones móveis. Tudo deve ser custeado pelo governo.
O Projeto Brasil 4D deve ser testado na cidade de São Paulo em abril e maio. Os temas oferecidos serão saúde e educação. Os usuários poderão agendar consultas no Sistema Único de Saúde (SUS). Participarão do teste 2,5 mil famílias no primeiro semestre e mais 2,5 mil no segundo semestre.
Entre os parceiros no projeto estão o Banco do Brasil, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a Caixa Econômica Federal, o DataSUS, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Totvs, HMATV, Oi, a Telebras e o governo do Distrito Federal.
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Valor Econômico (SP): Acordos reduzem ou zeram alíquotas no comércio com a AL
Por Rodrigo Pedroso
Meta brasileira é chegar ao livre comércio em praticamente todo o continente em 5 anos
Depois de “perder” 6% das exportações para Peru, Colômbia, Bolívia e Equador, em 2013, uma parcela expressiva das tarifas de comércio com esses países começou 2014 zerada ou reduzida. Com desenvolvimento tímido desde a assinatura em 2005, o cronograma dos Acordos de Alcance Parcial (ACE), que o Brasil assinou dentro do Mercosul com os países andinos, vai evoluir de forma consistente neste e no próximo ano. As novas tarifas podem ajudar o país a preservar o mercado em um momento em que a China avança sobre a América Latina e proliferam, no mundo, as negociações e assinaturas de acordos bilaterais e entre regiões.
Os acordos fazem parte da intenção do governo brasileiro de chegar ao livre comércio em quase todo continente latino-americano nos próximos cinco anos. Para muitos países da região, o Brasil “ofereceu” antes a redução das tarifas de importação.
Os dois primeiros ACEs, assinados pelo Mercosul, em 1996, com Chile e Bolívia, tornaram plenos em 2014. Com os chilenos, o teto de produtos com tarifas reduzida ou zerada foi atingido ainda em 2004. Com os bolivianos, os 46 produtos que ainda aguardavam para entrar na lista conjunta entraram neste ano. Em 2005, mais de 80% do comércio com peruanos, colombianos e equatorianos estará contemplado pelos acordos. Em cinco anos, quase todo o comércio do país com América do Sul estará livre de alíquotas de importação.
O Peru é o país onde mais produtos foram incluídos na redução de alíquotas com o Brasil. Dos cerca de 6.000 produtos contidos no acordo assinado no fim de 2005, 4.930 tiveram tarifas reduzidas ou zeradas neste ano, número que representa 86% do que o Brasil exporta aos peruanos. Ano passado, apenas 10% da pauta entrava no acordo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
Colômbia e Equador compõem hoje o ACE 59, que também contava com a Venezuela. Como o país presidido por Nicolás Maduro foi incorporado ao Mercosul, existe agora um cronograma diferente de redução das alíquotas do comércio exterior com o Brasil. O acordo foi fechado com a Comunicação Andina, em janeiro de 2005, e neste ano incorporou um terço dos 6.000 produtos na lista brasileira com os colombianos e metade das 6,5 mil linhas tarifárias com os equatorianos.
O salto maior no comércio com os dois países, entretanto, ocorrerá ano que vem, quando 80% da pauta com os colombianos estará com alíquotas reduzidas ou zeradas. Neste ano, o acordo atingiu 52% da corrente de comércio. Com o Equador, o quadro é similar. A atual desoneração, de 37% da pauta, subirá para 82% em 2015.
“Em 2019, todo o continente vai ter praticamente livre comércio com o Brasil, com raras exceções na América Latina, como o México”, afirma o diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Mdic, Marcio Naves. O diretor explica que os acordos previam primeiro uma maior aberutra brasileira, que hoje possui maior porcentragem de produtos colombianos, equatorianos e peruanos, com tarifas reduzidas para a entrada no país do que o contrário. “É de interesse do governo expandir trabalhos desse tipo com a região”. A redução neste e no próximo ano acontece em um cenário de queda das exportações brasileiras aos vizinhos.
O mercado sul-americano é importante para as manufaturas brasileiras. Entretanto, com as exceções contidas nos acordos – o setor de açúcar, forte no Brasil, não está em nenhum ACE, por exemplo – o ganho maior, na visão de analistas, está na possibilidade de inclusão de novos produtos e negócios na região pelos empresários. Produtos que até então não eram atrativos podem ganhar uma chance de competição no exterior, se tiverem tarifas menores.
Fernando Ribeiro, técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que a desvalorização cambial do ano passado, somada a alíquotas menores, pode ajudar o Brasil também na disputa dos mercados sul-americanos ante os concorrentes. “O país vem registrando, nos últimos anos, uma erosão da preferência nesses mercados pelos acordos de livre comércio assinados com asiáticos, chineses e norte-americanos”, afirma.
A venda aos mercados latinos é uma das principais fontes de renda no comércio exterior para a indústria nacional. Ribeiro firma que neste ano o Brasil deve registrar aumento dos embarques de máquinas e equipamentos mecânicos e elétricos aos sul-americanos fora do Mercosul. A indústria automotiva, principal setor industrial exportador para a região, no entanto, não deve sofrer grande influência dessa mudança em relação a 2013.
“São mercados importantes e que precisam ser cada vez mais estimulados e divulgados. A indústria automotiva, no entanto, possui políticas mais específicas para comércio exterior em função da complementaridade da cadeia produtiva. A produção brasileira é mais voltada ao Mercosul e ao México, onde possuímos acordos para o setor”, diz.
Apesar de considerar importante a redução das alíquotas com os vizinhos, Lia Valls, professora do Ibre-FGV, adota tom menos otimista. A perda de competitividade da indústria brasileira nos últimos anos é uma barreira mais forte ao aumento das exportações a esses mercados do que tarifas elevadas. “No geral, a redução tarifária melhora o acesso ao mercado, mas o efeito fica muito ligado aos tipos de produtos que estão nessa redução”, afirma.
A desvalorização cambial ocorrida ao longo do ano passado, apesar de ajudar nas exportações, também não causou o efeito esperado segundo a pesquisadora. “As manufaturas não responderam muito. O aumento ocorreu mais devido às vendas de automóveis, puxada pelo acordo com a Argentina”, diz Lia.
A falta de conhecimento do empresariado brasileiro sobre o ACE também deve ser levada em conta, de acordo com a advogada especialista em comércio internacional Cynthia Kramer, do escritório L.O. Baptista – SVMFA. Ela espera maior procura por clientes em busca de informações ao longo deste ano, assim como de empresas querendo se proteger da alíquota menor para a entrada dos produtos dos vizinhos. “Uma das reclamações dos clientes do escritório é que não há uma política externa de comércio exterior muito clara do governo brasileiro. Mas, apesar de lento, o cronograma dos acordos está andando aos poucos”.
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Carta Capital (SP): Quem precisa de casa?
Por Paula Freire Santoro
O Brasil possui um déficit habitacional de aproximadamente 5,24 milhões de domicílios, segundo revelou pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) com base em dados de 2012. No período entre 2007 e 2012, houve uma redução de cerca de 350 mil moradias. Para chegar a esse número, considerou-se que havia 870 mil domicílios precários; 1,76 milhão de domicílios com famílias que coabitavam, moravam juntas em um único cômodo ou domicílio sem quererem; 2,29 milhões domicílios tinham gastos excessivos com aluguel; e 510 mil domicílios estavam adensados, com famílias muito grandes para o imóvel que habitavam.
Por outro lado, recente balanço do programa federal Minha Casa Minha Vida, iniciado em 2008, apresentou a entrega de 1,32 milhão de novas moradias durante os anos de 2009 a 2013. Mais de 1,9 milhão de unidades foram contratadas desde 2011 até o mesmo período.
Por que, diante do aumento das construções, o País não diminuiu as suas necessidades habitacionais proporcionalmente? Os efeitos da própria política habitacional ajudam a entender: nem todas as construções têm sido adquiridas por quem precisa de moradia e, num efeito contrário, essas construções inflam os preços da terra e terminam dificultando o acesso. Isso se agrava ainda mais em grandes cidades ou regiões metropolitanas, onde a terra já é cara e escassa.
Para efeitos de cálculo do déficit habitacional são consideradas habitações precárias as casas improvisadas e/ou rústicas, ou seja, moradias que não tenham dependência destinada exclusivamente à moradia, como famílias que moram no trabalho etc. Ou cuja construção tenha característica de favela, com paredes de madeira aproveitada ou outro material. Além da precariedade da casa, a área também é frágil: carente de serviços públicos essenciais, irregular e que ocupa o território de forma desordenada e densa, algumas vezes sobre áreas menos propícias à urbanização.
O Censo Demográfico do IBGE agrupa os domicílios nessas condições no que chama de "aglomerado subnormal", criando uma expressão pejorativa para os que ocupam essas áreas, que em algumas cidades respondem por quase a metade dos domicílios e que têm feições que a aproximam muito do que seria uma habitação normal.
Uma análise recente elaborada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) mostrou que os Censos anteriores subdimensionavam o tamanho dessa pobreza e mapeou os domicílios localizados fora dos "aglomerados subnormais", mas que possuíam as mesmas características destes. Resultado: a precariedade foi revista e ampliada. A incorporação dessa metodologia pelo Censo de 2010, que revelou que 11,5 milhões de pessoas moravam em aglomerados subnormais distribuídas em 3,22 milhões de domicílios, cerca de 1 milhão a mais de pessoas em relação à 2000.
É preciso, porém, cuidado para não cair nas armadilhas que podem mascarar as dinâmicas em curso. Os dados da última década (2000-2010) mostram que cresceu o número de pessoas e domicílios em favela, enquanto a estimativa dos últimos anos afirma que essa precariedade está diminuindo e teve redução de 30% (segundo com pesquisas do Ipea-IBGE, 2007-2012).
Além da precariedade, considera-se para o cálculo do déficit as famílias que coabitam de forma forçada, ou seja, os casos em que mais de uma família vive no mesmo cômodo ou domicílio, mas que declaradamente gostariam de se mudar. Havia 1,76 milhão de domicílios nessa situação em 2012, número que diminuiu perto de 26% naquele período analisado.
No passado, considerava-se para efeitos de cálculo que o ideal era que vivesse uma família por moradia. Mas a cultura brasileira de morar é muito diversa, e muitas famílias optam por morar juntas porque querem, mesmo tendo condições de ter outro domicílio. Nesse caso, estas não entram mais no cálculo das necessidades habitacionais.
Além disso, hoje as famílias diminuíram de tamanho e as configurações mudaram. São comuns netos que moram com a avó, famílias de uma pessoa só e casais sem filhos ou do mesmo sexo, superando o modelo familiar de pai, mãe e dois filhos tido como mais tradicional. O aumento das possibilidades faz crescer também a demanda por habitação para essas famílias.
Há também famílias que são muito grandes para a moradia que ocupam e, portanto, necessitam de uma nova. Consideram-se adensamento excessivo do domicílio os casos em que vivem mais de três habitantes por cômodos, considerados assim os quartos e as salas.
Famílias mais pobres, que ganham até três salários mínimos e gastam mais de 30% dos seus ganhos com o aluguel, entram na conta de quem precisa de moradia. Isso porque nem todo mundo precisa de casa própria para estar morando bem, mas gastar mais de 30% do que ganha com aluguel pode significar que a família está deixando de comer e de se vestir, para poder morar e, portanto, precisa de moradia para poder desenvolver-se minimamente, de forma saudável.
O Ipea sinalizou que houve um aumento de cerca de 30% das famílias que têm gastos excessivos com aluguel entre 2007 e 2012, que coincide com a criação do Programa Minha Casa Minha Vida, em vigor desde 2009. Isso acontece porque o aluguel sofre influência dos preços de compra e venda dos imóveis, que por estarem altos, têm feito com que as famílias comprometam grande parte da renda familiar no seu pagamento.
A subida dos preços tem relação com o aumento do poder de compra de imóveis permitido pelas mudanças no financiamento imobiliário e com a ampliação do crédito e do tempo de pagamento para 30 anos. O mercado entende esse aumento da capacidade de pagamento e sobe os preços até valores que a maior parte das pessoas consegue pagar. O governo federal, por sua vez, tem aumentado o teto dos financiamentos, hoje em 750 mil reais, permitindo que os preços dos imóveis continuem subindo. Isso quer dizer que a própria política de financiamento habitacional tem aumentado o ônus das famílias com o aluguel, aumentando o déficit habitacional.
É justamente nas regiões metropolitanas, onde tem mais gente morando e há maior riqueza econômica, que se concentram as maiores necessidades habitacionais. Em 2010, quase 60% da população que vive em favelas estava concentrada nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Salvador e Recife.
O caso de Brasília não é diferente e possui agravantes. Sua ocupação é controlada, uma vez que a cidade planejada nasceu preservada pelo patrimônio histórico, e possui ocupação muito pouco densa, o que colabora com o aumento dos preços. Também o valor do aluguel em Brasília é influenciado pelo subsídio à moradia que o governo dá a determinados funcionários públicos, tornando a cidade inacessível a grande parte da população, que migra para sua periferia, nas cidades satélites, expressão da pobreza desde a sua construção.
Este padrão de ocupação foi sendo construído na história do País, marcada por profundas desigualdades sociais que se expressam na organização do território. Há poucos morando em áreas com boas condições urbanas e boa qualidade de vida, e muitos que, por falta de condições e opções, terminam por ocupar áreas ainda não urbanizadas, precárias ou de risco à vida.
Mudar essa situação significaria inverter esse quadro e construir habitação para quem precisa e não para estimular o mercado imobiliário, cuja lógica termina inflando os preços e dificultando o acesso à moradia aos mais pobres.
Significa também não apenas produzir novas moradias, mas fazê-las bem localizadas, em áreas centrais e bem servidas de infraestrutura urbana, serviços públicos e oportunidades de emprego. Para isso é preciso enfrentar muitas resistências. Os mais ricos que não querem se misturar, a classe média que segue o mesmo raciocínio e um pensamento generalizado de que áreas melhores localizadas são boas para shoppings centers e usos mais rentáveis, e não para receberem bons projetos de habitação de interesse social.
Tal forma de ocupar a cidade tem acirrado a desigualdade social e a violência. Os "rolezinhos” estão aí justamente para sinalizar que os espaços não estão acessíveis a todos e que poder consumir não significa poder viver a cidade e suas oportunidades em plenitude.
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Agora Paraná (PR): Engenheiro, uma profissão cortejada
Por Jacir J. Venturi
Clássica e recorrente é uma das definições de engenheiro: um solucionador de problemas. Decorrente de sua formação que estimula o raciocínio lógico, é um cartesiano, que se soma às características pragmáticas e utilitárias das disciplinas técnicas estudadas no curso. No entanto, para fazer jus à essa definição, necessita também de instintos darwinistas: flexível, versátil, capaz de se adaptar às elevadas exigências do mundo hodierno. E nunca se falou tanto em humanização da engenharia e, neste mister, um construtor de pontes, em vez de muros.
Hoje é uma profissão cortejada, com elevada empregabilidade. Prenuncia-se um apagão de engenheiros no Brasil e seguramente é um dos gargalos já percebidos pelas indústrias, construtoras e serviços públicos. A necessidade de nosso país demandaria 60 a 80 mil novos engenheiros por ano, porém diplomam-se apenas 42,8 mil. Apenas 6% dos universitários brasileiros são concluintes de uma das engenharias, enquanto nos países asiáticos e na maioria dos países desenvolvidos esse índice varia de 15 a 35%.
No Brasil, duas singularidades agravam a carência desses profissionais: a) apenas 48% atuam na área de engenharia após diplomados. A outra parte é cooptada para a gestão, finanças, informática, docência, consultoria, etc.; b) 57% dos ingressantes evadem-se da graduação.
A melhor metáfora é a de um funil, de boca larga e dois bicos estreitos de saída. Ou, didaticamente, em números redondos: de cada dez calouros de engenharia, quatro recebem o diploma, sendo que dois exercerão a profissão e outros dois seguirão áreas afins.
A valorização das engenharias não é percebida só pelo mercado. É vultoso o incremento de ingressantes e a abertura de novas faculdades. Saltou de 454 cursos em 1995 para 3.045 em 2013. Qual o curso com maior número de calouros em 2013?
Com a vigorosa expansão das faculdades, um dos maiores gargalos está na contratação de engenheiros para a carreira acadêmica. Para certas disciplinas há uma blague: "dormiu engenheiro, acordou professor". Um estudo que tem a credibilidade do Ipea (publicado em nov./13) revela que a contratação de engenheiros até 2020 apresentará uma taxa de crescimento de 10,5%. Muito superior será a necessidade para a extração e refino de petróleo e gás (28%). Hoje o Brasil dispõe de 937 mil engenheiros, porém apenas 300 mil atuam na área. É pouco, muito pouco, sendo verdade que 70% do PIB de uma nação depende das engenharias.
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O Globo (RJ): Melhoria no painel de controle
Artigo de Sergei Soares
Quando se dirige algo – de um carro a uma empresa – um bom painel de controle é fundamental. Apenas com evidências sobre a situação externa e o desempenho da máquina se pode traçar o melhor curso e modo de dirigir para chegar aonde se quer. Não é diferente quando se trata de uma sociedade inteira. A direção da sociedade brasileira – que cabe não apenas ao governo, mas a cada um de nós – será tanto melhor quanto melhor for o painel de controle que nos diz como e para onde estamos indo.
Hoje, indicadores fundamentais no nosso painel de controle são a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). As duas têm orientado ações por quase quatro décadas, e debates como aqueles envolvendo o desempenho ou o aumento e depois a queda da desigualdade foram travados em torno dos seus números. As histórias da Pnad e da PME se confundem com a história dos debates sobre as políticas sociais no Brasil.
Mas todas as histórias chegam ao fim. A Pnad e PME têm uma folha de serviços prestados à nação, mas serão agora substituídas por uma pesquisa melhor em todas as dimensões. A nova Pnad, ou Pnad Contínua, será apresentada à nação pelo IBGE hoje com várias melhorias.
Enquanto hoje temos informações mensais que cobre apenas seis regiões metropolitanas, em breve poderemos contar com informações mensais representativas para o Brasil sobre vários indicadores. A Pnad Contínua também contém uma amostra representativa de todos os brasileiros que será seguida ao longo de um ano, o que permitirá o acompanhamento de indicadores que dependem da existência de múltiplas entrevistas. Finalmente, o esquema amostral na Pnad Contínua permitirá que se observe em maior detalhe o que ocorre no conjunto dos municípios médios e pequenos, até hoje um pouco negligenciados nos períodos intercensitários.
O resultado final é uma melhoria inequívoca no painel de controle da sociedade brasileira.
Mas a mudança não é indolor e o principal custo de melhoria do nosso painel de controle será a falta de comparabilidade. Os números da PME e da Pnad antiga não são comparáveis com os números da nova Pnad Contínua. Como sempre haverá aqueles que insistem em comparar o incomparável, o que devem encontrar?
Com relação ao emprego, provavelmente, as tacas de desocupação serão maiores na Pnad Contínua. Isso porque ela cobre o interior do país – menos dinâmico que as regiões metropolitanas cobertas pela PME – e usa um questionamento que mede melhor o subemprego.
Com relação a renda e pobreza, a Pnad Contínua tencionará medir melhor certas rendas não muito bem medidas na atual PNAD. Por outro lado, a nova Pnad Contínua irá mostrar de modo mais intenso o interior do país, no qual as rendas são menores. Acredito que a renda será maior e a pobreza, menor.
Todas estas comparações não mostram mudanças reais – para ver estas teremos que comparar PNAD Contínua com PNAD Contínua – mas apenas o que se espera da mudança do instrumento. São o preço a pagar para melhorar nosso painel de controle.
Sergei Soares é pesquisador do Ipea
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O Globo (RJ): Lente mais exata
Míriam Leitão
Pela primeira vez na história, o Brasil tem um retrato do desemprego que se pode chamar de nacional. O dado divulgado ontem pelo IBGE é um termômetro do mercado de trabalho mais amplo, que inclui capitais, cidades médias e pequenas. A taxa de desemprego no segundo trimestre de 2013 estava em 7,4% no Brasil, mas no Nordeste chegou a 10%.
Não, o desemprego não aumentou. Todo mundo tem na cabeça dados menores, mas era de uma medida muito limitada, com dados de apenas seis regiões metropolitanas. Em novembro, foi 4,6%. Agora é um esforço muito maior. Foram visitados 211.344 domicílios em 3.464 municípios. O coordenador de Emprego e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explica que no fim do ano a divulgação chegará ao detalhe da taxa de desemprego de cada estado e cada capital. Haverá também os dados de rendimento. O trabalho de preparação da entrada desta pesquisa foi exaustivo: o IBGE vem fazendo reuniões com a academia, o mercado, jornalistas, há muito tempo.
Quando se agrega o interior e as outras capitais menores, o que se vê é um desemprego maior, mas, como explicou o pesquisador do Ipea Sergei Soares, no GLOBO de ontem, só se pode comparar a Pnad Contínua com a Pnad Contínua. Perde-se a série histórica, mas ganha-se um retrato mais fiel e exato.
Em qualquer medida, o desemprego é desigual: o Sul do país tem uma taxa baixíssima, 4,3%; o Nordeste, a maior taxa, 10%. A tendência era captada também pela Pesquisa Mensal de Emprego, o Sul sempre teve a menor taxa, e o Nordeste, a maior. Mas se vê agora que a desigualdade é maior. E é pior ainda o desemprego de jovens. Chega a 15,4% no Brasil, mas com 9% no Sul e 19,8% no Nordeste.
O índice ficou maior ao incluir os dados do interior. Isso mostra menor dinamismo fora das grandes capitais. Havia a esperança de que estivesse havendo uma saída das empresas das congestionadas capitais para cidades menores. Há muito caso de relocalização de empresas e empregos, mas uma parte do interior e das capitais está com taxas mais altas de desemprego.
Um nível de 7,4% de desemprego é mais compatível com o crescimento do PIB de 2%. Mas o que se vê também é que, quando se compara o mesmo indicador, está havendo queda de desemprego no período pesquisado de 2012 e 2013.
A pesquisa inclui jovens a partir de 14 anos na população em idade de trabalhar. Parece estranho. A explicação dada pelo IBGE é que o trabalho é permitido, com limitações, aos 16 anos, mas existe uma permissão para ser aprendiz aos 14 anos. "A gente sabe que a maioria dos que trabalham nessa idade está em trabalho ilegal, mas tínhamos que incluir na pesquisa", diz Cimar. Considera-se ocupada a pessoa que fez um trabalho remunerado de pelo menos uma hora por semana. E desocupado é quem, nos últimos 30 dias antes da entrevista, procurou emprego e não conseguiu. No emprego doméstico, 69% não têm carteira assinada. E o Congresso fica enrolando a regulamentação da lei dos trabalhadores domésticos.
A população fora da força de trabalho pula de 28%, na faixa etária de 40 a 59 anos, para 77%, entre quem tem 60 anos ou mais. Porque quem trabalhava se aposentou. Hoje, as pessoas ficam muito mais tempo com capacidade produtiva, pela maior expectativa de vida e novo estilo de viver. Mas o Brasil é o país da aposentadoria precoce. Ontem mesmo a Petrobras anunciou um plano de demissão incentivada, para quem tem 55 anos ou mais. Quem sair terá incentivos financeiros, mas talvez a empresa perca pessoas que, nessa idade, têm capacidade e maturidade. A presidente Graça Foster, por exemplo, está no auge de sua vida profissional aos 60 anos.
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Para esse debate, recebemos Ana Querino, da ONU Mulheres, e Rurany Silva, da SPM
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