04/02/2022 11:27 |
Atlas lançado pelo Ipea avalia deficiência de infraestrutura nas periferias do Brasil Ausência de iluminação e de calçadas são alguns dos problemas. Pesquisadores debateram exclusão social e racismo em webinar do lançamento do livro Com reflexões sobre racismo e exclusão social, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou nesta quinta-feira (3), durante webinar, o livro Atlas das Periferias no Brasil: Aspectos Raciais de Infraestrutura nos Aglomerados Subnormais, que analisou o acesso aos serviços de infraestrutura nas periferias brasileiras. A pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea, ressaltou que, por toda complexidade e dedicação envolvidas, o lançamento do Atlas representa um momento de celebração. “Este é um projeto coletivo e interdisciplinar, gestado há mais ou menos três anos, ao qual se uniram, sob a coordenação da pesquisadora Fernanda Lira, bolsistas e estagiários, além de professores e pesquisadores da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Federal Fluminense, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Goiás, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana e do Ministério Público do Trabalho”, enfatizou. Camarano destacou que o Atlas se inicia com uma reflexão sobre o conceito de aglomerados subnormais, avança para o termo periferia, de modo a se alinhar com a população que vive nesses espaços, objeto da pesquisa. “O Ipea se compromete a continuar nesse trabalho, buscando construir uma série histórica e utilizando as informações do próximo censo demográfico de 2022. Para isso, estimulamos o diálogo com outras metodologias e grupos de pesquisa”, afirmou. A pesquisadora e coordenadora do Atlas, Fernanda Lira, explicou que os chamados “aglomerados subnormais” foram tratados pelo projeto como “periferias” a partir da perspectiva dos moradores desses locais. “A metodologia do Atlas baseia-se nos microdados dos aglomerados subnormais do último censo realizado pelo IBGE, em 2010. Ao todo, havia no Brasil 6.329 aglomerados mapeados, com uma população residente de mais de 9,4 milhões de pessoas”, explicou. De acordo com Lira, os critérios de avaliação de infraestrutura dos locais analisados foram a presença ou ausência de pavimentação, de calçada, de meio-fio ou via, de bueiro ou boca-de-lobo, de rampa para cadeirante (acessibilidade), de arborização, de acesso a serviços públicos no entorno do domicílio, de esgoto a céu aberto, entre outros. Isabella Lunelli, pesquisadora e uma das autoras do Atlas, afirmou que o Censo de 2010, de onde provêm os dados do Atlas, simbolizou um avanço nos estudos demográficos relacionados à população indígena ao utilizar o critério da autodeclaração e permitir conhecer seus dinamismos internos. Foram identificados 900 mil indivíduos pertencentes a 305 povos distintos, verificando-se que 36% dos indígenas já estavam em áreas urbanizadas. No entanto, o estudo constata a expressiva invisibilidade dos povos indígenas nas cidades, tidas como um não-lugar dos povos indígenas. O Atlas identificou, segundo Lunelli, que 7% da população indígena em áreas urbanas vivem de forma permanente nas periferias. Nos locais de moradia da população indígena foram percebidas diversas carências, como ausência de identificação no logradouro (63,6%), inexistência de calçadas (69%), insuficiência de bueiro/boca-de-lobo (77,2%), falta de rampa para cadeirante (99,6%), ausência de meio-fio/guia (60,2%), déficit de pavimentação (44,0%), déficit de iluminação pública (23,0%), ausência de arborização no entorno do domicílio (72,5%), esgoto a céu aberto (29,6%) e lixo acumulado (14,6%). “Os dados sugerem que, tanto os povos indígenas que sempre estiveram nos territórios urbanos, como os que estão sendo forçados a se deslocarem em busca de melhores condições de vida, estão suscetíveis a não encontrarem isso, deparando-se com condições ainda mais precárias. Por isso, essa publicação tem um potencial enorme para subsidiar pesquisas e planejamento de políticas públicas que vinculem população indígena e urbanização, trazendo elementos para entender o fenômeno de favelização ao qual a população indígena está suscetível, sobretudo nas regiões Norte, Sudeste e Nordeste”, explicou Lunelli. Para o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), fundador e coordenador do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Geografia Regional da África e da Diáspora (NEGRA), Denilson Oliveira, as favelas, periferias ou aglomerados, que se encontram em distintos locais geográficos, representam uma parte central da forma urbana brasileira. “Infelizmente, mesmo após mais de cem anos, as favelas são pouco estudadas. Inúmeras experiências sociais são silenciadas e subalternizadas. Entendemos que esse desprestígio é marca do racismo estrutural da nossa sociedade, que negou políticas de reparação à população negra no período pós-abolição, consolidando a propriedade nas cidades, nas mãos de homens brancos e de posses”, afirmou. Leia a íntegra do Atlas das Periferias Assessoria de Imprensa e Comunicação do Ipea |
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