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Reuters (Reino Unido): Pesadilla crónica del tráfico en Sao Paulo
Sao Paulo, la capital financiera de América Latina, padece de embotellamientos crónicos que cuestan unos 20.000 millones de dólares al año en horas perdidas. A continuación algunos datos sobre el tráfico en la mayor ciudad de América Latina: DEMASIADOS AUTOS... Sao Paulo es una megalópolis de 11 millones de habitantes, que trepa a más de 20 millones cuando se incluyen los suburbios de su región metropolitana. Es una selva de cemento de 1.530 kilómetros cuadrados, siete veces la superficie de Buenos Aires. Sus dimensiones son sólo comparables en la región con la Ciudad de México, pero con unos 17.000 kilómetros de calles tiene un 67 por ciento más de asfalto que la capital mexicana. El Ayuntamiento de Sao Paulo calcula que un 45 por ciento de los viajes en la ciudad se hacen en vehículos privados, en gran medida por la falta de transporte público. Sao Paulo tiene 7,2 millones de vehículos y según el estatal Instituto de Pesquisas Económicas Aplicadas (IPEA) las ventas de autos crecen más que el Producto Interno Bruto. ...Y POCO METRO Sao Paulo sufre un déficit crónico de transporte público. La ciudad depende en gran medida de una flota de 15.000 autobuses, una de las mayores del planeta, que deben disputar las calles con los automóviles y no solucionan el problema. El ayuntamiento de Sao Paulo calcula que en horarios tope la velocidad promedio de los autobuses ronda apenas los 12 kilómetros por hora. Urbanistas y autoridades dicen que la solución es mejorar el transporte público, en particular el metro. Pero el subterráneo de Sao Paulo tiene apenas 74 kilómetros de extensión, casi tres veces menos que el de la Ciudad de México, que comenzó a ser construido simultáneamente en la década de 1970. En la Ciudad de México hay un kilómetro de metro por cada millón de habitantes, mientras que en Sao Paulo la tasa es de un kilómetro por cada dos millones, dice Henrique Ribeiro de Carvalho, un experto del IPEA. "TIME IS MONEY" Los paulistanos pierden un promedio de 2 horas y 49 minutos diarios por culpa de los embotellamientos o un mes de su tiempo al año, según un estudio de la consultora Ibope. Paulo Resende, un investigador de la escuela de negocios Fundação Dom Cabral, calcula que de mantenerse ritmo actual en el 2020 los paulistanos pasarán casi 4 horas diarias atrapados en el tráfico. ¿El costo en horas perdidas? Unos 150 millones de reales por día, más de 21.000 millones de dólares al año, o un 10 por ciento del Producto Interno Bruto de la ciudad, según sus cálculos. SOLUCIONES Nicolau Gualda, un urbanista de la Escuela Politécnica de la Universidad de Sao Paulo, dice que la solución es redistribuir la densidad demográfica de la ciudad para reducir la dependencia del transporte. La mayoría de los trabajadores viven en la periferia y muchos viajan hasta 50 kilómetros para llegar a sus empleos. Otros expertos proponen cobrar un peaje para circular por el centro de Sao Paulo, una solución adoptada en ciudades como Londres o Estocolmo. Cândido Malta, de la USP, dice que una tasa de circulación de unos 2 dólares permitiría recaudar suficiente dinero para ampliar la raquítica red de metro. (Reporte de Esteban Israel. Editado por Damián Wroclavsky)
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Reuters - Ipea melhora projeção de crescimento do PIB do Brasil em 2021 a 4%
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REUTERS BRASIL: Comércio online cresce, mas é parte modesta do varejo - Ipea
A receita obtida pelo comércio eletrônico permanecia inferior a 1 por cento das vendas totais do varejo brasileiro em 2008, apontou um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Apesar de terem saltado de 2,4 bilhões para 5,9 bilhões de reais de 2003 para 2008, as vendas online ainda eram pouco representativas para o setor varejista como um todo, mostrou a pesquisa, que é a primeira do Ipea dedicada ao e-commerce.
O cenário se repete em relação à quantidade de empresas que aderiu a esse tipo de serviço. O número de companhias com atuação na Internet passou de 1.305 para 4.818 no mesmo intervalo, o que correspondia a somente 0,4 por cento do número de empresas varejistas no Brasil em 2008.
De acordo com o estudo, as lojas especializadas tiveram maior destaque nas vendas, respondendo por 73 por cento do volume total comercializado em 2008. Os produtos mais vendidos foram artigos culturais, recreativos e esportivos, incluindo CDs e DVDs, assim como produtos eletrônicos e acessórios. Em seguida aparecem produtos de perfumaria, cosméticos, itens farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de óptica.
O Ipea constatou que a adoção dos serviços de comércio eletrônico contribui para o aumento da produtividade das companhias, pois diminui custos de transação. No entanto, eles exigem investimentos em logística e tecnologia da informação.
QUEM COMPRA NA INTERNET
Do total de 63 milhões de usuários da Web em 2009, 19 por cento já fez compras online, segundo dados do Comitê Gestor da Internet citados no documento do Ipea.
A maioria são homens entre 35 a 44 anos com poder aquisitivo e níveis de instrução mais elevados.
De acordo com a pesquisa, não há diferença estatística significativa entre a propensão às compras online entre indivíduos empregados e pessoas inativas economicamente.
A pesquisa também contrariou a crença de que usuários de redes sociais tenham maior participação no volume de compras, devido à grande quantidade de propagandas nesse tipo de site.
Segundo o Ipea, isso pode ser explicado pelo fato de que o público das redes sociais é mais jovem. A probabilidade de consumo diminui alinhada à queda na faixa etária dos internautas.
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Reuters- Ipea eleva previsão de aumento do PIB agropecuário do Brasil para 1,9% este ano
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Revista Algo Mais- Em maio, 13,3% das pessoas ocupadas exerceram teletrabalho
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Revista Capital Econômico -Estudo do Ipea mostra recuperação do emprego durante a pandemia
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Revista Capital Econômico- Famílias de classe média e média-alta são as mais atingidas pela inflação em março
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Revista Carta Capital (SP): É a economia, estúpido Coluna de Mauricio Dias A oposição brasileira, como se sabe, esmera-se na procura de pelo em ovo. Isso é bom para o PT, mas é ruim para o processo democrático. Estudos feitos pelo Ipea mostram a razão pela qual a oposição tem dificuldade para construir um programa antigovernista. 0 índice de Expectativas das Famílias (IEF), realizada em 3.810 domicílios, distribuídos por mais de 200 municípios em todas as unidades da Federação assinala um aumento do otimismo das famílias brasileiras em relação à situação socioeconômica do país (tabela). A oposição propaga pessimismo. A população, no entanto, é otimista.
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Revista Carta Capital (SP): Mais injusta que excessiva
Impostos – A carga tributária do Brasil perpetua a desigualdade, desestimula os investimentos produtivos e é moderada sobre o patrimônio
Por Gerson Freitas Junior e Luiz Antonio Cintra De tempos em tempos, principalmente durante as eleições, esquenta o debate sobre os impostos pagos pela sociedade brasileira. Distorcida a partir da perspectiva de uns poucos atores sociais, destaque para a eterna choradeira do empresariado, a discussão em geral cria mais fumaça do que luz. Reforça-se a falsa impressão de que a carga tributária brasileira é das mais altas do planeta. E que o apetite aguçado do Leão seria a principal causa do desempenho econômico insatisfatório do País nas últimas décadas, o que também é outro mito. Longe de ser um exemplo vírtuoso para o restante do mundo, a estrutura tributária brasileira - mais do que o nível da carga - é ao mesmo tempo espelho e motor da brutal desigualdade da sociedade brasileira. Herança do período colonial, ela taxa pouco a renda e o patrimônio daqueles que ocupam o topo da pirâmide social. Um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada (Ipea) indica que os 10% mais ricos se apropriam de 75% da riqueza atualmente. No fim do século XVIII, na então escravocrata sociedade carioca, a parcela mais rica era mais moderada em sua ofensiva, ficava com 69% do bolo.
A estrutura tributária atual, como frisam os especialistas, perpetua as diferenças abissais entre os mais ricos e os mais pobres ao eleger os que têm menos para boi de piranha. Atualmente, metade da renda das familias que ganham até dois salários mínimos (cerca de mil reais) segue para o governo federal, estados e municípios. A "mordida" cai a 26% para as famílias com rendimento mensal acima de 15 mil reais.
Dessa montanha de recursos, uma parte muito pequena, menos de 10% do arrecadado, volta para a sociedade na forma de saúde, educação, segurança e saneamento, sem entrar no mérito da qualidade dos serviços prestados. Os detentores de títulos da dívida pública levam bem mais: cerca de 35% do Orçamento da União, parcela que tende a crescer neste ano à medida que sobe a taxa básica de juros, a que remunera os credores.
Com doutorado sobre o sistema tributário brasileiro, o economista Evilásio Salvador, professor da Universidade de Brasília, centra suas críticas na distribuição do bolo tributário. "O problema não é o nível da carga, que nem é tão alto como os empresários gostam de dizer. Temos um monstrengo regressivo que taxa principalmente o consumo, por meio de impostos indiretos, como o ICMS, pago por todos, independentemente da condição social. Deveríamos aumentar a taxação sobre os rendimentos mais altos e principalmente sobre o patrimônio."
No ranking da carga tributária (quadro à pág. 24), o Brasil aparece em primeiro lugar na América Latina, com o dobro da média dos países da região. A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, chegou a elogiar o sistema brasileiro, que lhe deu musculatura durante a turbulência. Imagine-se qual seria a nossa situação se, a exemplo do México, nossa carga fosse de apenas 10% do PIE. O indicador, longe de ser um problema, dá margem de manobra ao Brasil e nos ajudou a superar a crise de 2008. O PIB mexicano caiu 6% em 2009, e o pais parece hoje uma ilha de maquiladoras cercada pela violência do narcotráfico. Na avaliação do pesquisador Juan Pablo Jimenez, da Cepal, centro de pesquisas econômicas da ONU sediado no Chile, o Brasil, apesar de taxar mais, segue o padrão regional em matéria de estrutura tributária, e aí residem os maiores problemas. "Nos países latino-americanos, os sistemas tributários são em geral incapazes de cumprir suas duas funções primordiais: não conseguem garantir a estabilidade macroeconômica nem distribuir a riqueza. Também por esse motivo o México tem sofrido muito com a crise nos países ricos. O governo não tem meios de se contrapor à conjuntura ruim."
O fato de os países latino-americanos, Brasil incluído, concentrarem a taxação sobre o consumo também é prejudicial, avalia Jimenez, já que a arrecadação tende a cair com maior vigor nos momentos de queda da economia, além de ser essencialmente injusto. Pela facilidade de cobrança, segundo especialistas, fica difícil imaginar no Brasil uma mudança radical no sentido de desonerar o consumo. Apesar das promessas dos candidatos, o mais provável é o aumento das transferências compensatórias de renda para quem necessita.
Economista-chefe da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco bate na tecla de que a carga tributária brasileira é das mais elevadas do mundo, fato que a confederação atribui ao "peso do Estado". "O gasto público é semelhante apenas ao de alguns poucos países da Europa Ocidental. Não tem nenhuma economia emergente, ou mesmo madura, como o Japão, que se assemelhe ao Brasil. Na América Latina, todos os países pagam menos impostos." No dia 20, a CNI e várias outras entidades empresariais lançam novo movimento para chamar atenção para esse debate. O risco é mais uma vez ampliar a nebulosidade que costuma acompanhar iniciativas semelhantes.
As estatísticas indicam que o panorama internacional não condiz exatamente com a avaliação da CNI. Um estudo comparativo da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que a carga brasileira se aproxima da média da União Europeia, e não está muito distante do patamar estadunidense. Mas é fato que o Brasil é líder na América Latina. O que a CNI esquece de mencionar é que a África também é um exemplo de baixa carga tributária - e, como se sabe, não pode ser considerada exemplo de desenvolvimento social justo, assim como os latino-americanos. Além do mais, o Brasil tem a maior economia, a maior população e a maior área do subcontinente, o que demanda vasta presença do Estado.
Além do tamanho dos tributos, Castelo Branco considera negativa outra característica: os governos tendem a criar sistemas de exceção, que costumam vir acompanhados do risco de distorções. "Esses impostos não podem ser sustentados pelas microempresas? Então criamos o Simples. Um determinado segmento econômico não consegue competir? Então damos isenção. É difícil calcular? Então fazemos o cálculo com base no lucro presumido", ironiza. E concorda em deslocar a cobrança dos impostos para a renda. "Fazendo isso, você abre espaço para taxar menos a produção. Mas aumentar imposto sobre a renda é sempre complicado, a gritaria é geral."
A análise do economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, segue em outra direção. Para ele, a carga tributária não é alta. "Comparada aos países do Primeiro Mundo, considerando nossa renda per capita e a péssima distribuição de renda, a carga brasileira poderia ser até maior", afirma. O economista pondera que, para o empresário, o problema não está exatamente em quanto se paga, mas em como se paga. "A questão principal é a burocracia, a dificuldade para se calcular o valor do imposto e recolhê-Io, as inúmeras exigências, fiscalizações e embargos. A carga não é alta, mas é irritante", afirma Lessa.
Um estudo recente do Banco Mundial, dá uma ideia da complexidade do sistema. O Brasil ocupa a 150a posição entre os países onde mais tempo é gasto para quitar os tributos: consome de uma empresa em média 2,6 mil horas ao ano. Nos demais países da América Latina, esse "custo" cai a 385 horas, e é de 194 nos países da OCDE. Também o custo para arrecadar impostos é elevado. No Brasil, chegou a 11,3 bilhões de reais em 2009 ou 1,35% da arrecadação total, de acordo com pesquisadores da FEA- USP. Apenas Portugal supera o Brasil nesse quesito, com um custo de 2,75% do arrecadado.
Lessa chama ainda a atenção para a má distribuição da carga tributária, "feita de modo a driblar aspectos constitucionais". A partir da Constituição de 1988, os impostos dispararam em razão do regime de repartição de rendas tributárias, mais favoráveis aos estados e municípios, sem correspondentes transferências de encargos - o que obrigou a União a criar uma gama de contribuições que não são divididas com os demais entes da federação.
Mesmo assim, Lessa rechaça a crítica de queépreciso reduzir os gastos previdenciários, a fim de diminuir o tamanho do Estado e, com isso, a porcentagem dos impostos sobre os empresários. "Não se discutem os gastos da seguridade social, porque ela foi pré-pactuada entre os brasileiros. Decidimos em 1988 que todos teriam direito à saúde e que cada brasileiro teria direito a uma aposentadoria digna. Fixamos entre nós mesmos um pacto pelo qual todo brasileiro garantiria a seguridade social dos demais." Para ele, as contribuições sociais devem ser tratadas como impostos, com participação dos estados e municípios.
Para o ex-reitor da UFRJ, engana-se quem compara a carga brasileira com a de outros países que não oferecem qualquer rede de proteção social ao cidadão. "China e Índia possuem arranjos institucionais completamente diferentes do nosso. O Brasil é um país gigantesco e muito industrializado, muito urbanizado, que internalizou nas metrópoles a miséria social. Na China e na Índia, boa parte da população ainda está no campo."
Na década de 1960, observa, metade da renda nacional (a totalidade do rendimento de todos os brasileiros) provinha do trabalho. Hoje o trabalho responde por apenas 37% da renda. "O que cresceu no Brasil foram os rendimentos do não trabalho, e a responsabilidade disso é dos lucros reais dos bancos brasileiros, que cresceram, em média, 11% ao ano durante o governo de Fernando Henrique Cardoso e 14% durante o mandato de Lula."
O economista Antônio Correa Lacerda, do Departamento de Economia da PUC-SP, afirma que os problemas do sistema de impostos devem-se principalmente à concentração de renda. "Há dois efeitos. O primeiro é que a carga tem de ser elevada para que o Estado possa suprir a maioria da população que não tem renda, e isso sobrecarrega quem tem mais renda. Segundo, trata-se de uma carga pouco inteligente, que tributa muito o investimento e a exportação. Ao tributar o investimento, desestimula-se a produção e, ao tributar a exportação, perde-se competitividade."
Diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, João Sicsú critica o enfoque dominante na discussão em torno da reforma tributária no País. "As críticas vão sempre no sentido de mostrar que o Estado ocupa um tamanho exagerado na economia e que é preciso reduzi-Io. Mas os números indicam que isso não é verdade. É preciso considerar o conceito de carga tributária líquida, quando se leva em conta as transferências que a União faz, para pagar aposentadorias, subsídios, pensões etc. Por esse critério, a carga cai a 20% do PIE, menor que na Alemanha, de 21%, Canadá, que tem 23%, e pouco acima dos EUA, que é de 16%."
Sicsú concorda com o caráter "regressivo e concentrador de riquezas" do sistema atual. "E é justamente nesse ponto que a reforma tributária deveria avançar. Mas o que vemos é uma discussão sobre a redistribuição entre os estados, o equilíbrio do pacto federativo, a eliminação da guerra fiscal e como cortar o custo da arrecadação. Mas não se discute como podemos avançar na justiça social. É essa a essência da questão."
Ainda que haja muito a ser feito, é inegável que o País avançou em algumas frentes, realizando "minirreformas" aquí e ali. Foi esse o caso das micro e pequenas empresas. A preocupação com a questão tributária praticamente saiu da pauta desse segmento empresarial desde 2007, quando o governo instituiu o sistema Simples Nacional, que unificou o pagamento de oito tributos para empresas com faturamento de até 2,4 milhões de reais ao ano, com alíquotas de 4% a 17% da receita bruta.
Segundo o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella, o resultado da mudança legal é evidente. Há quatro anos, afirma, havia aproximadamente 2 milhões de pessoas jurídicas operando no Brasil, dos quais 1,7 milhão eram micro e pequenas empresas. Em 2009, o número dobrou, para 3,4 milhões. "Muitos empreendedores tomaram a decisão de abrir uma empresa ou se formalizar diante desse regime de tributação mais justo", considera. Para Tortorella, as pequenas arcam com uma carga tributária média de apenas 5%, muito menos que as empresas que recolhem sobre o lucro presumido (12% a 15%). Mas o grande benefício do Simples, diz, foi a desburocratização. "Antes, o microempresário tinha de ir ao banco dez vezes por mês para recolher todos os impostos. Hoje, ele perde uma hora." Atualmente, 70% das empresas no País operam no regime do Simples.
Diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o economista Julio Sergio Gomes de Almeida filia-se à ala que defende a redução da carga tributária, dos atuais 35% para cerca de 30%. "Essa redução pode ocorrer, mas é preciso que o Estado tenha gastos sociais à altura das nossas necessidades e uma participação expressiva nos investimentos de infraestrutura, e ainda temos muito a fazer nessas duas frentes", avalia, para quem o sistema vigente "trata mal" a atividade econômica.
A "redução seletiva" de impostos sugerida pelo Iedi procura ampliar a competitividade da indústria, setor que tem perdido espaço no mercado internacional. "As exportações não deveriam pagar impostos. Hoje, elas contam com um sistema de devolução que não funciona. Também é preciso reduzir os impostos sobre os investimentos produtivos. No mundo inteiro, esses investimentos dão direito a créditos tributários, mas aqui isso não acontece. É preciso tirar os impostos que incidem sobre a folha de pagamentos, de 20%, paga pelas empresas. Essa conta deveria migrar para tributos gerais, como o PIS/ Cofins e o Imposto de Renda. Além disso, os produtos da cesta básica não deveriam pagar nenhum tipo de imposto, para minimizar a regressividade do sistema."
Sicsú, do Ipea, chama atenção para outro ponto confuso do debate sobre os impostos, que tem origem no crescimento verificado na fatia do Leão, até chegar aos 36% do PIE. "Na década de 90, durante o governo FHC, vários tributos e impostos foram criados, inclusive para fazer frente às necessidades de gastos surgidas com a Constituição de 1988. Mas no governo Lula o crescimento da carga tem outra explicação. Ocorre que nos últimos anos, com o crescimento da economia, ampliou-se a formalização, mais empregos com carteira assinada surgiram, e tudo isso aumenta a arrecadação. Alguns economistas dizem que isso significa ampliar o sacrifício da sociedade, mas não é isso o que está acontecendo mais recentemente." E cita o caso da CPMF, extinta desde 2008, numa vitória da oposição no Congresso.
Em ao menos um ponto empresários, governo e especialistas concordam: não há reforma tributária que resista a uma economia debilitada. A conjuntura desfavorável acirra as disputas pelos recursos públicos em queda ou estagnados. No momento em que a economia voltou a crescer - tendência reforçada pelas perspectivas abertas com o pré-sal- passa a ser possÍvel alterar o estado das coisas. "É preciso avançar na isonomia, já que a carga recai principalmente sobre os trabalhadores com carteira assinada, os funcionários, além do consumo", diz Salvador, da UnB. "É preciso retomar a discussão sobre uma maior participação de estados e municípios, mas as responsabilidades também têm de ir junto."
Outro ponto da discussão tem a ver com a elisão fiscal, ou seja, a capacidade de algumas empresas (principalmente as de grande porte) driblarem o pagamento dos tributos. "Avançamos bastante na evasão fiscal, mas a elisão ainda é um problema. Existe uma verdadeira indústria para não pagar impostos no País que se alimenta da falsa impressão de que os impostos são exagerados", afirma Salvador. De certa forma, é possível estabelecer um paralelo com o que acontece com o debate sobre a justiça. Quem costuma reclamar da existência de um "Estado policial" é justamente quem possui mais condições de remunerar advogados de grife e que, geralmente, não passa mais de duas noites em uma cela limpa na cadeia. Ou nem isso .•
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REVISTA CARTA CAPITAL - A casta não se enxerga
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REVISTA CARTA CAPITAL - Austeridade para quem?
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REVISTA CARTA CAPITAL - Calamidade no Nordeste
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REVISTA CARTA CAPITAL - CAPA - 2018, déjà-vu de 1989
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REVISTA CARTA CAPITAL - ECONOMIA - Na boca dos crocodilos
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REVISTA CARTA CAPITAL - Em pele de cordeiro
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REVISTA CARTA CAPITAL - Para reduzir o abismo
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REVISTA CARTA CAPITAL | ESPECIAL - TEMER TALVEZ NÃO ENTREGUE O QUE PROMETEU AO MERCADO, MAS ENCARREGOU-SE DE SABOTAR A PREVIDÊNCIA PÚBLICA E ABRIR CAMINHO PARA OS PLANOS PRIVADOS
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Revista Carta Capital: Brasil e Irã se distanciaram sob Dilma, diz analista
O ano de 2011 evidenciou, apesar das negativas do Itamaraty, um afastamento entre Brasil e Irã. A distância pôde ser percebida antes mesmo das duras declarações de Ali Akbar Javanfekr, porta-voz pessoal do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, contra a política externa de Dilma Rousseff para a República Islâmica, de acordo com Reginaldo Mattar Nasser, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em relações internacionais.
Em meio às afirmações do Itamaraty de que ambos os países mantêm os mesmo laços do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Nasser, doutor em ciências sociais, aponta que o primeiro sinal de mudança na relação com o Irã aconteceu após a crítica de Dilma ao tratamento dado pela nação persa a Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por supostamente ter sido cúmplice na morte do marido.
"Desde esse episódio, houve um conjunto de pequenas ações que remontam a um quadro diferente da política de Lula", diz.
Na visão do Itamaraty, contudo, as declarações de Javanfekr, chefe da agência de notícias estatal iraniana Irna, ao jornal Folha de S.Paulo, são "pessoais e não refletem a realidade".
O porta-voz afirmou, em tom incomum na diplomacia internacional, que desde a posse de Dilma, Brasil e Irã se afastaram, pois a presidenta "golpeou tudo que Lula havia feito" na relação com o país e "destruiu anos de bom relacionamento."
Questionado por CartaCapital, o Ministério das Relações Internacionais informou que não havia motivos para se pronunciar a respeito das críticas porque "a relação dos países continua correta e não compartilhamos essa óptica."
Mas um ponto simbólico, aponta o analista, contradiz o pronunciamento do Itamaraty e indica uma clara mudança na relação entre os países: a passagem de Ahmadinejad pela América Latina sem incluir o Brasil no roteiro. "Mesmo que o Irã tenha optado por não pedir ao Itamaraty uma visita oficial, isso mostra o receio do país em ter sua solicitação negada ou ver o presidente ser recebido por membros do segundo escalão."
De acordo com Nasser, a política do governo Dilma em relação ao Irã também traz diferenciais na questão nuclear. Em 2010, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayip Erdogan, trabalharam para concluir um acordo que enviaria ao Irã urânio enriquecido fora do país, evitando o processamento do material na República Islâmica. A negociação, porém, não foi considerada válida pelas potências mundiais.
"Atualmente, há um silêncio do Brasil e não houve manifestação clara a respeito da questão nuclear desde a publicação do relatório da Agência Internacional de Energia Atómica (Aiea) no final do último ano", destaca, em referência ao documento do órgão da ONU que apontou indícios de intenção armamentista no programa nuclear iraniano.
O analista afirma que outros países se manifestaram a respeito e discutiram inclusive sanções econômicas contra o Irã, como o embargo dos 27 países da União Europeia ao petróleo iraniano aprovado nesta segunda-feira 23. "O governo está em silêncio, o que é significativo se comparado ao arrojo de Lula naquele momento."
Nasser acredita ainda que o comportamento brasileiro pode indicar uma alteração de postura em um cenário mais amplo. "A abordagem de Lula em relação ao Irã visava se contrapor às grandes potências, mostrar voz própria para inserir o Brasil e outros emergentes no cenário internacional", diz. E completa: "Se o País está se abstendo de se manifestar sobre o assunto, precisamos ficar atentos em relação a outros temas políticos e econômicos que poderiam vir pela frente."
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Revista Carta Capital: O Brasil que tem fé no futuro Por André Barrocal Desde 2008, o País é recordista mundial na redução do desemprego. E em uma década incorporou ao mercado formal de trabalho o equivalente à população de Minas Gerais. Eis a base da confiança da maioria silenciosa O casal mineiro Marcio Silva, operário da construção civil, e Luzia, doméstica, deixou o Brasil em 2000, cansado de procurar emprego. Foi tentar ser feliz em Lisboa. E conseguiu. Na Portugal ba-fejada pelo ingresso na União Europeia, sobravam investimentos públicos, esperança e oportunidades. A vida boa durou até o ano passado, quando a crise que assola o continente desde 2008 tornou impossível para Silva achar vaga em uma obra. Com o marido triste, ferido no orgulho pelo fato de só a mulher ainda conseguir trabalho, Luzia começou a pensar em cruzar o Atlântico no sentido inverso. "Todo brasileiro ia para lá e dizia que o Brasil estava bem. A gente também via pela tevê, pela Record Internacional, notícia de que o Brasil estava bem de emprego. Se a gente não voltasse, perdia tudo o que ganhou lá", diz ela. Foi difícil, mas eles marcaram o retorno: dezembro último. Um mês depois, Mareio, de 45 anos, e Luzia, de 42, estabeleciam-se em Valinhos, no interior de São Paulo. E como na chegada a Portugal no início do século, não têm do que reclamar. A história do casal teve um final feliz por uma grande razão: no período em que estiveram fora, o mercado de trabalho brasileiro sofreu uma verdadeira revolução. Na última década foram cria¬dos 19 milhões de empregos formais, com carteira assinada, entre postos fixos, temporários e na administração pública. O contingente equivale a toda a população de Minas Gerais, segundo maior es¬tado do País. Por causa da expansão, o nú¬mero de trabalhadores formalizados atingiu o recorde histórico de 48 mi¬lhões. Seus efeitos, da venda de carros à comercialização de imóveis, estão á vista. Essa extraordinária oferta de oportunidades, rara na his¬tória nacional, é o principal sustentáculo do otimismo da maioria da população em re¬lação ao seu futuro, de seus fi¬lhos e do País. Um otimis¬mo que até o momento resiste aos pouco confortáveis indicadores gerais da eco¬nomia. Nos últimos dois anos, o cresci¬mento do PIB minguou e a inflação, em¬bora não alarmante, permanece bem acima do desejável. O ativismo da equi¬pe econômica, que praticamente lan¬ça um pacote por mês de incentivos lo¬calizados à produção, parece demons¬trar uma escolha equivocada por ações táticas e não estratégicas. O cenário desestimula os empresários e alimenta o discurso pessimista da oposição parti¬dária e midiática, mas encontra escas¬so apoio na maioria silenciosa. As pes¬quisas de opinião continuam a captar o otimismo dos consumidores. A aprova¬ção ao governo atinge níveis históricos, e Dilma Rousseff, a esta altura dos even¬tos, desponta como favorita absoluta para as eleições de 2014, embora seja ce¬do para avaliações mais precisas. Não se pode dizer que a oferta de em¬prego tenha favorecido um público ou região específicos. Ela tem sido genera¬lizada por ramo de atividade e geografi¬camente, ainda que algumas situações chamem mais a atenção. O setor de ser¬viços (7 milhões de postos novos), o co¬mércio (4 milhões) e a indústria (3 mi¬lhões) lideram o ranking de contratações em termos absolutos. Nessa ordem se¬guem como os maiores patrões. A cons¬trução civil e o extrativismo foram, po¬rém, os campeões de geração de emprego em termos proporcionais (altas de 170% e 100%, respectivamente). Nenhum dos oito setores catalogados pelo Ministério do Trabalho registrou redução de vagas nos últimos dez anos. Houve uma leve alteração no ranking entre as cinco regiões brasileiras. O Nor¬deste, que em 2003 perdia do Sul, gerou 500 mil postos a mais e passou a ocupar o segundo lugar em geração de empre¬gos. O Sudeste, responsável por metade dos postos de trabalho formais do País, continua na ponta. Em termos relativos, o melhor desempenho deu-se no Nor¬te, que dobrou sua quantidade de vagas. Juntos, o Nordeste, o Norte e o Centro- -Oeste avançaram de 30% para 32% no estoque de empregos com carteira. Com a expansão do mercado de traba¬lho, a taxa de desemprego caiu pela meta¬de em dez anos e ronda mínimas históri¬cas, entre 5% e 6%. A renda média dos as¬salariados subiu perto de 25%. A partici¬pação dos salários na economia, que ha¬via recuado nos anos 1990, fermentou e chegou a 44% em 2009, último dado ofi¬cial disponível. As mudanças ocorreram con¬tra a maré reinante nos paí¬ses ricos. Nos Estados Uni¬dos e na Europa, as oportu¬nidades desapareceram e o desemprego só fez crescer em uma década. A situação ficou dramática depois da crise financei¬ra que varreu o mundo desenvolvido em 2008. Portugal, que tão bem acolhera a família Silva, exibe hoje desemprego de 17%, a terceira pior taxa europeia. Mais de 200 milhões de indivíduos perambu¬lam atrás de ocupação pelo planeta. E, entre 2013 e 2014, serão mais 8 milhões, nas pessimistas previsões da Organiza¬ção Internacional do Trabalho. E, pior, ele é grave entre os mais jovens. Em algumas nações europeias, dois em três ha¬bitantes com menos de 25 anos não en¬contraram trabalho. No mesmo período, constata o Fundo Monetário Internacio¬nal, o Brasil tornou-se o campeão mun¬dial na redução do desemprego. A profunda transformação no merca¬do de trabalho nacional tem impactos di¬retos e potenciais em uma série de áreas distintas, e não apenas na economia, on¬de são perceptíveis e até polêmicos - há quem defenda o aumento do desemprego para conter a inflação. O brasileiro sente-se confiante e otimista, já não se assusta com o risco de demissão como em outros tempos, revela outras preocupações e - paradoxo? - pode até ficar mais saudável. No início dos anos 2000, as pesquisas de opinião apontavam a falta de empre¬go como a primeira ou a segunda maior dor de cabeça dos brasileiros, ao lado da segurança pública. Nada parecido com a atualidade. Entre os paulistanos, só 5% temem o desemprego, o que coloca o tema no quinto lugar entre os princi¬pais problemas, atrás de drogas, assal¬to em casa, assalto na rua e inflação, se¬gundo pesquisa Datafolha divulgada no Dia do Trabalho. Em abril, levantamen¬to do Ibope, em parceria com um orga¬nismo internacional, indicara resultado semelhante. O desemprego era o sexto problema nacional, com 4% de respos¬tas, enquanto drogas e criminalidade li¬deravam. O temor global com a perda de emprego era três vezes superior. "A sociedade brasileira parece pa¬cificada com relação ao acesso ao em¬prego. A discussão de direitos agora es¬tá em primeiro plano. Isso é fantástico", afirma a socióloga Nadya Araújo Gui-marães, da Universidade de São Paulo (USP) e do Centro Brasileiro de Análi¬se e Planejamento (Cebrap). Autora de livros e estudos sobre mercado de tra¬balho, ela acredita que a mudança tor-nou o cidadão-trabalhador mais exigen¬te com o Estado e os patrões. Não por acaso, portanto, o Congresso acaba de estender às domésticas os benefícios da carteira assinada. Ou que os sindicatos pressionem os parlamentares por uma redução da jornada de trabalho. O desejo de exercer um direito mo¬tivou o gerente-comercial paulista¬no Regis Dias, de 33 anos, na busca por uma vida nova e, enfim, um registro em carteira. Durante 12 anos, entre 1998 e 2010, ele viveu de trabalhos precários na indústria de embalagens plásticas. "Se tirei férias duas vezes nesse perío¬do, foi muito", lembra. Há três anos, resolveu arris¬car. Entrou numa facul¬dade de Engenharia Me¬cânica, alistou-se em uma empresa de recrutamen¬to virtual e logo foi cha¬mado para ser vendedor em uma loja de sistemas de áudio e ví¬deo para residências. Em dezembro de 2012, tornou-se o chefe de vendas de uma das unidades, um shopping em São Paulo. E até recusou uma oferta de salário melhor feita pela concorrência. Em julho, vai sair de férias e viajar com o filho para os Estados Unidos. O turismo é uma das três áreas que mais lucram com a expansão do merca¬do de trabalho formal, segundo pesqui¬sas do Data Popular, instituto especiali¬zado na demanda dos emergentes brasi-leiros, as classes C, D e E. O motivo é sim¬ples. Quem tem carteira assinada traba¬lha 11 meses, mas recebe 13 contrache¬ques, sem contar o adicional de férias. Quem também se beneficia são os negócios em educação e a indústria da beleza. No primeiro caso, pelo fa¬to de uma qualificação melhor engor¬dar a renda mensal. A cada ano extra de aprendizado, apurou o Data Popular, o salário sobe 15%. Se todos os trabalha¬dores formais tivessem um ano a mais de formação, a massa salarial cresceria 109 bilhões de dólares. Já o setor de cos¬méticos tira proveito da ampliação fe¬minina no mundo da CLT, a lei que com¬pletou 70 anos na quarta-feira Io. Boa parte das carreiras das mulheres é de relacionamento com o público, o que as estimula a caprichar na aparência. O exército feminino ocupa hoje cerca de 20 milhões de pos¬tos de trabalho, quase 42% do total de empregos formais existentes. No fim de 2002, a participação era de 40%. No contracheque, a histórica disparidade em relação aos homens man¬teve-se praticamente igual. Desde 2003, o rendimento de ambos os sexos cresceu quase na mesma proporção, 25%. A dife¬rença entre a média, que era de 21%, bai¬xou para pouco mais de 20%. A paranaense Simone Girotto, de 29 anos, é uma entre os 8 milhões de mu¬lheres formalmente empregadas nos úl¬timos dez anos. Em certa medida, ela se beneficia da própria melhora de vida das trabalhadoras. Desde fevereiro, ela é esti¬lista em uma indústria de lingerie no mu¬nicípio de Marechal Cândido Rondon, no Paraná. Um caso parecido com aquele da família Silva de alguém que reencontrou o futuro na terra natal antes abandonada por falta de perspectivas. Natural de Umuarama, também no Paraná, Simone mudara-se nos anos 2000 para São Paulo, a fim de tentar a carreira de modelo. Em 2008, concluiu o cur¬so universitário de “negócios da moda” e passou a trabalhar em pequenas e gran¬des confecções. No ano passado, foi demi¬tida após pedir aumento. Segurou-se um tempo com a indenização até que, por in¬dicação de uma amiga, foi parar em Cân¬dido Rondon. Apesar do choque de trocar uma das maiores cidades do mundo por uma de 47 mil habitantes, sente-se satis¬feita. E não só pelo salário. “Jamais imagi¬nei que pudesse ser tão feliz trabalhando com lingerie, esse segmento é totalmente novo para mim, estou gostando muito.” Especialista em políticas sociais, o economista Marcelo Neri assumiu, em setembro de 2012, a presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do governo, e uma das primeiras tarefas que coordenou foi uma pesquisa sobre o progresso do País no ano passado. O levantamento, que incluiu a subjetividade como uma das quatro dimensões analisadas, revelou uma sociedade mais contente. Os 3,8 mil brasileiros ouvidos atribuíram nota média de 7,1 para a própria felicidade. Se o Brasil usasse essa nota no tradicional ranking mundial da felicidade do instituto Gallup, saltaria seis posições e se colocaria no posto de número 16. Segundo Neri, o bolso explica a alegria. Em dez anos, a renda cresceu acima do ritmo da economia, situação acentuada em 2012. E, apesar de os programas sociais como o Bolsa Família serem responsáveis por parte importante da melhora da renda, o motor principal foram os contracheques. "O símbolo da nova classe média é a carteira de trabalho", diz o economista, que desde março acumula interinamente o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. O trabalho proporciona satisfação por ter adquirido um papel central na vida dos indivíduos nas sociedades modernas. Quando dois estranhos se encontram em uma ocasião social, por exemplo, é comum que comecem a conversa por assuntos profissionais e que se definam um para o outro a partir das atividades que exercem. A própria imagem de nós mesmos está quase sempre associada à carreira. Por isso, ter uma ocupação faz bem para a cabeça. Professor na Universidade Católica de Brasília, o psicólogo Celso Aleixo de Barros, especializado em psicologia do trabalho e organizacional, conduziu em 2009 uma pesquisa com 204 trabalhadores desempregados ao menos há seis meses. O objetivo era medir e entender o impacto da desocupação na saúde mental. Conclusão: desemprego produz baixa autoestima, estado de ânimo e humor reduzidos, estresse, ansiedade, vergonha, humilhação e distúrbios do sono. "Trabalho por si só não garante felicidade, é preciso ter espaço para a criatividade. Mas no nosso tipo de sociedade não tem saída: não dá para ser feliz sem trabalho", afirma o psicólogo. Não se trata de uma peculiaridade brasileira. O sociólogo português Pe¬dro Araújo, da Universidade de Coim¬bra, fez uma pesquisa, em 2005, com sete ex-trabalhadores de uma fábrica de cerâmica falida e chegou a conclu¬sões parecidas sobre os efeitos psíqui¬cos deletérios da desocupação. "A cons¬ciência de que uma experiência de tra¬balho adquirida ao longo da vida se po¬de tornar subitamente inútil é uma ex¬periência dolorosa", afirma. Morador de Nova Gló¬ria, município de 8,5 mil habitantes no in¬terior de Goiás, o cam¬ponês Nelson dos Reis da Cunha, de 63 anos, é um caso de quem re¬siste à ideia de abrir mão da experiência de uma vida. Apesar de ter se aposenta¬do em 2010, ainda trabalha na colheita de cana-de-açúcar para uma agropecuá¬ria de Nova Glória. Em 2002, a empresa parou de recorrer a Cunha, a quem paga¬va, mas não registrava em carteira. Ele se virou com serviços esporádicos até 2008, quando o antigo patrão passou a requisi¬tá-lo de novo a cada safra, agora de ma¬neira formal, como trabalhador tempo¬rário. O agricultor anda ansioso, pois ain¬da não foi chamado para a colheita que em tese começaria em abril. "Sou pessoa inquieta, gosto de trabalhar." E se esporte é vida, trabalho também seria. Em novembro de 2008, o Ministé¬rio da Saúde da Inglaterra encomendou ao médico Michael Marmot, professor de Saúde Pública na University College London, um estudo com propostas para o governo reduzir as iniquidades em saúde a partir de 2010. Durante o traba¬lho, chamaram a atenção de Marmot estatísticas intrigantes: no início dos anos 1980, a mortalidade entre os de¬sempregados ingleses havia sido maior do que entre os ocupados. Era a época do governo de Margaret Thatcher, a inimi¬ga dos sindicatos e do Estado de Bem--Estar Social. No relatório final, o médi¬co indicou seis objetivos que o governo deveria perseguir para melhorar a saúde pública, e o terceiro deles era gerar mais e melhores empregos. Para José Gomes Temporão, ex-mi¬nistro da Saúde, o trabalho, sobretu¬do quando formalizado, é um estímulo graças à sensação de utilidade à socie¬dade, além da segurança financeira pa¬ra comer e se cuidar de forma mais ade¬quada. Por outro lado, ressalta, "depen¬dendo do tipo de trabalho, pode haver impacto negativo por estresse, aciden¬tes e doenças profissionais". A revolução no mercado de trabalho tem influência em áreas distintas, e uma das grandes questões é se terá - ou conti¬nuará a ter - na política. Ou seja, se na elei¬ção presidencial do próximo ano pesará a favor do governo federal e da presiden¬ta Dilma Rousseff. Com base em pesqui¬sas de seu instituto, o sócio-diretor do Da¬ta Popular, Renato Meirelles, avalia que a percepção do eleitorado está em mutação. Segundo ele, o trabalhador reconhe¬ce o ex-presidente Lula como responsá¬vel pelo emprego, e isso teria assegurado sua reeleição em 2006 e a vitória em 2010 da candidata escolhida por ele. Esse mes¬mo trabalhador não se apavora mais com a hipótese de ser mandado embora, topa pedir demissão para buscar uma opor¬tunidade melhor, e agora quer saber co¬mo vai progredir mais depressa. "As duas últimas eleições foram sobre legado. A de 2014 vai ser sobre futuro." Recém-chegada ao Brasil, a família Silva ainda curte o presente como nos bons tempos de imigrantes em Lisboa, mas não deixa de pensar no futuro. E torce para que este não traga arrepen¬dimentos. "Viemos embora porque Por¬tugal e a Europa toda estão em crise, en¬quanto o Brasil evoluiu, as pessoas que deixei para trás estão melhores, têm ca¬sa, carro", diz Luzia. "Se naquele tempo o Brasil estivesse bem como hoje, eu não saía. E enquanto estiver bem, não vou voltar a sair."
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