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REVISTA ÉPOCA - Uma terra de extrema desigualdade
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Revista Época : Cara a cara pela primeira vez
Com a abertura da temporada de debates, a campanha presidencial entra na fase decisiva, em que os candidatos confrontam estilos e propostas Alberto Bombig, Leonel Rocha e Mariana Sanches Na primeira eleição direta para a Presidência sem Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), vão abrir nesta semana a temporada de debates que ajudará o eleitor a decidir uma das disputas mais equilibradas da história. Na sexta-feira passada, a mais recente pesquisa Ibope/Estado de S. Paulo/TV Globo, divulgada pelo Jornal Nacional, deu a Dilma 39% das intenções de voto, 5 pontos a mais do que Serra. Marina obteve 7%. Esses números se referem ao cenário com todos os candidatos nanicos. Fotos: Paulo Liebert/AE, Vanessa Carualho/Parceiro/Ag. O Globo e Tiago Queiroz/AE
Eles debaterão pela primeira vez na TV Bandeirantes, que levará ao ar o confronto na quinta-feira 5 de agosto, a partir das 22 horas. Também foi convidado pela emissora o candidato Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, que não pontuou na pesquisa. Fonte: Ibope
O confronto dará início a uma série de pelo menos quatro debates (um deles pela internet). O mais aguardado pelas campanhas é o da TV Globo, marcado para a semana decisiva do primeiro turno, em outubro. Uma das preocupações da campanha de Serra é que o primeiro debate seja ofuscado pelo jogo entre São Paulo e Internacional, semifinal da Taça Libertadores da América, que será transmitido pela Globo, no mesmo horário. A previsão é que a partida retire audiência do debate em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
A expectativa é que esse primeiro confronto sirva como um ensaio geral da reta final da campanha. Ao lado dos programas do horário eleitoral, que começarão no dia 17, os debates se tornaram, em 21 anos de eleições presidenciais diretas, um dos principais instrumentos de avaliação dos candidatos pelos eleitores e foram decisivos, em muitos casos, para os rumos da campanha (leia o quadro abaixo). Os debates, apesar de cada vez mais engessados por regras, são uma das raras ocasiões em que os presidenciáveis se expõem de maneira mais aberta. Por causa disso, os marqueteiros se esmeram na preparação dos candidatos para minimizar os riscos de escorregões.
Por Dilma estar em alta nas pesquisas, representar o governo e ser inexperiente em confrontos desse tipo, a campanha do PT avalia que ela será o alvo preferencial dos ataques nos debates. Em sua preparação, Dilma tem se reunido com ministros e secretários das pastas mais importantes do governo para se atualizar sobre dados da gestão Lula. Ela vai mostrar que ajudou o presidente Lula a fazer um bom governo, diz Fernando Pimentel, um dos coordenadores da campanha de Dilma. Mais acostumada com os jargões burocráticos dos gabinetes do que com a linguagem popular das campanhas, Dilma foi aconselhada a não ser tecnicista ou professoral em suas respostas para não ser enfadonha. Outra recomendação é não ser agressiva. Desde o ano passado, Dilma tem sido preparada por Olga Curado, especialista em oratória indicada pelo marqueteiro João Santana.
Dilma tem se dedicado ao estudo de duas áreas: saúde e segurança pública. Nas pesquisas, a saúde aparece como a principal preocupação dos brasileiros e é uma área em que Serra tem o que mostrar por ter sido ministro no governo Fernando Henrique Cardoso. Na segurança pública, ela deverá enfrentar críticas ao controle das fronteiras terrestres, por onde há intenso tráfico de drogas. Dilma pretende responder aos ataques com o programa de combate s ao crack e os números das operações da PF que resultaram em prisões de traficantes internacionais. Eles tentam, mas não escapam Em cinco eleições, só FHC conseguiu se eleger sem participar de debates Fernando Maia/Ag. O Globo 1989 Fernando Collor (PRN) faltou a cinco dos seis debates realizados antes do primeiro turno. Mas esteve em dois debates com Lula (PT) entre o primeiro e o segundo turno. O último foi decisivo para sua vitória 1994 Líder nas pesquisas graças ao Plano Real, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) participou de um debate com Lula (PT). Venceu no primeiro turno, com 55% dos votos 1998 FHC foi reeleito no primeiro turno, com 53%dos votos, sem participar de nenhum debate Ivo Gonzales/Ag. O Globo 2002 Os candidatos Lula (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) participaram de três debates antes do primeiro turno. Entre o primeiro e o segundo turno, Lula foi a um debate com Serra e faltou a dois. Foi eleito com 61% dos votos 2006 Confiante que venceria no primeiro turno, o presidente Lula faltou aos três debates. A vitória não veio. Na disputa no segundo turno, Lula teve de participar de quatro debates com Alckmin. Venceu com 61% dos votos
Enquanto Dilma é uma estreante em debates, Serra é um veterano. Participou de três das últimas quatro eleições brasileiras. Seus mais celébres debates foram os confrontos finais de segundo turno com Lula, na disputa pela Presidência em 2002, e com Marta Suplicy, no pleito pela prefeitura de São Paulo em 2004. São esses dois que servirão agora de base na preparação do tucano. O duelo com Marta é tratado como uma referência no PSDB por apresentar semelhanças com o desafio atual. Em 2004, Marta era a prefeita, detinha bons índices de aprovação e disputava a reeleição com bandeiras como os CEUs (Centros de Educação Unificada) e o Bilhete Único, um sistema inovador em transporte público. Agora, Serra tem de novo como principal adversária uma mulher, Dilma, candidata de um governo bem avaliado e com marcas como o Bolsa Família e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
O que anima o PSDB e seus aliados é que Serra, ao contrário do que ocorreu em 2002, ganhou a eleição contra Marta. Na campanha municipal, o tucano tentou demonstrar total controle sobre os números da gestão petista e afirmou que, se eleito, manteria os principais programas, a exemplo do que deverá fazer neste ano.Serra evitou parecer agressivo por ter uma mulher como adversária. Mas não deixou de apontar falhas e contradições de Marta. Para os tucanos, a vitória de Serra em 2004 se deu porque ele conseguiu fixar no eleitor a imagem de que era o mais experiente e preparado. Exatamente como ele tentará fazer contra Dilma.
Na campanha de Serra, ainda não há consenso se o candidato deve partir para a discussão ideológica suscitada pelos ataques às relações do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do governo Lula com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. O mais provável é que Serra aborde essas questões ao falar do controle das fronteiras e da política externa. A preparação do tucano será feita pela equipe do marqueteiro Luiz González, o mesmo de 2004.
Marina iniciou a preparação para os debates ao formar o grupo de 92 colaboradores que está elaborando seu programa de governo. Eles estão abastecendo a candidata do PV com informações, números, leituras e enfoques. Marina já se sente à vontade para tratar, por exemplo, de economia, um tema que antes a deixava desconfortável. Como preparação para sabatinas e debates, ela costuma anotar tópicos em folhas de papel que ela chama de aranhas.
Antes do encontro na Bandeirantes, Marina passará por simulações, comandadas pelo marqueteiro Paulo de Tarso Santos, que começarão na segunda-feira. Colaboradores da campanha dizem não ter grandes expectativas quanto aos resultados do primeiro debate. Mas avaliam que Marina precisa ter um bom desempenho para ampliar o espaço de campanha. Como Marina dispõe de pouco tempo de propaganda na TV, os debates são úteis para torná-la mais conhecida. Será também a hora de ela tentar mostrar que tem mais a dizer além de pregar a defesa de florestas. Marina aposta que colherá bons resultados com a proposta do programa social de terceira geração. Ela tem dito que é a única a propor algo além da manutenção do Bolsa Família para o combate à pobreza. Inspirado por Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o programa social de terceira geração propõe metas e acompanhamento do Estado para que as famílias pobres superem sua condição social.
Marina tem a pretensão de quebrar a polarização entre PT e PSDB e se colocar como uma terceira via. Para conseguir isso, ela ainda precisa se mostrar uma candidata viável, com chances de vencer. Nos debates, terá de conter seu estilo prolixo, bom para discursos em palanques, ruim para a TV. Seus pontos vulneráveis são as lacunas no discurso do desenvolvimento sustentável não há até hoje uma alternativa verde viável para a geração de grandes quantidades de energia, por exemplo e suas convicções religiosas Marina é evangélica da Assembleia de Deus e já se disse contrária ao casamento gay. Depois, recuou e defendeu a união civil entre homossexuais.
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16103. Revista Época Negócios - Ipea projeta queda de 36,1% na produção industrial em abril ante março
Revista Época Negócios - Ipea projeta queda de 36,1% na produção industrial em abril ante março
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Revista Época: Ricardo Paes de Barros: "Falta resolver a pobreza na infância"
O economista que é referência no estudo da miséria afirma que o país precisa ter uma espécie de Bolsa Família para cuidar de crianças até 4 anos
Leandro Loyola
O economista Ricardo Paes de Barros é o responsável por acabar com o diletantismo nas discussões sobre pobreza. Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Paes de Barros desenvolveu métodos reconhecidos internacionalmente para medir a pobreza. Trabalhou na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, com James Heckman, prêmio Nobel de Economia em 2000. Desde o início do ano, Paes de Barros está na Secretaria de Assuntos Estratégicos, na Esplanada dos Ministérios. Tímido, do tipo que se mexe bastante enquanto fala, Paes de Barros trabalha num projeto ambicioso: unificar toda a rede de atendimento a crianças de 0 a 4 anos numa espécie de Bolsa Família infantil. “A pobreza em famílias com crianças nessa idade é o dobro da média”, afirma nesta entrevista a ÉPOCA. “A gente ainda não resolveu isso.”
ÉPOCA – Por que é preciso um programa da primeira infância?
Ricardo Paes de Barros – Nossa política para a primeira infância continua um pouco desarticulada, apesar de ser setorialmente muito rica. Você tem alguns indicadores de que a gente não está dando a atenção que a primeira infância precisaria. A pobreza em famílias que têm crianças pequenas é o dobro da média brasileira.
ÉPOCA – Há uma explicação para isso?
Paes de Barros – A explicação é que as famílias que têm crianças pequenas são aquelas que estão no início da sua vida no mercado de trabalho. Então, elas são naturalmente vulneráveis. Mas as famílias que têm idosos também são muito vulneráveis. E a gente desenvolveu toda uma infraestrutura de proteção aos idosos que hoje funciona perfeitamente. Na primeira infância, a gente não resolveu. Todo país mais desenvolvido começa a se preocupar muito com isso. Os países europeus, o Canadá e os Estados Unidos têm uma política voltada para famílias com crianças pequenas e para a redução da pobreza nessas famílias. Eles sabem que a pobreza nessas famílias vai ter consequências mais graves do que a pobreza em qualquer outra família. Um casal que não tem filho e está pobre é uma coisa. Um casal com um bebê e pobre é outra coisa, mais complicada.
ÉPOCA – O senhor afirma que o Brasil é um país mediano em termos de mortalidade infantil, o que contrasta com seu PIB de país quase rico. O Brasil não está distribuindo renda como deveria?
Paes de Barros – Sempre fomos um país que, num cenário mundial, teve uma posição econômica melhor do que na área social. Nos últimos dez anos, a gente reduziu esse hiato. A gente tem avançado mais no social em nível mundial. Há países ultrapassando o Brasil na área econômica, e o Brasil está ultrapassando outros países na área social. Mas a gente ainda tem uma posição econômica melhor que a posição social. Independentemente dessa questão da solidariedade com as crianças pequenas, há várias razões – mais egoístas, digamos assim – para a gente estar preocupado com elas.
ÉPOCA – Quais são essas razões?
Paes de Barros – Qualquer pequena intervenção com uma criança pequena tem uma resposta muito rápida. Em segundo lugar, não só é fácil você arrancar um sorriso de uma criança s pequena, mas aquela satisfação tem um impacto sobre a formação do cérebro dela, que vai durar 80, 90 anos. Então, com pouco esforço, você pode fazer uma mudança que vai durar muito tempo. É isso que o (James) Heckman (prêmio Nobel de Economia de 2000) chama de complementaridade dinâmica. Ao fazer uma intervenção aqui, você tem um impacto, mas também um impacto sobre os impactos. Nos Estados Unidos, foram feitos estudos em que eles acompanharam, por 40 anos, crianças que tiveram acesso a uma atenção mais cuidadosa e outras que não tiveram. Você percebe que aquilo teve impacto sobre tudo: violência, educação, inserção no mercado de trabalho, se o cara vai ter uma casa, a duração do casamento, número de filhos. Quando as crianças nascem, as diferenças são pequenas. Cinco anos depois, elas já são grandes. Se há uma hora em que você pode promover igualdade, é nessa hora.
ÉPOCA – O que pode ser feito em termos práticos?
Paes de Barros – Vamos chamar todos os serviços disponíveis de uma coisa só. A saúde no Brasil hoje tem um passo a passo muito cuidadoso, mas não é interligada com a assistência social, nem com a educação, nem com os direitos humanos. Tem de unificar tudo num programa, como é o Bolsa Família. A pessoa que for lá vai encontrar um cara (um funcionário) que dirá: “Bem-vindo à primeira infância no Brasil”. Ele vai esclarecer tudo, desde a gravidez até a creche.
ÉPOCA – Em 2002, o senhor disse que o Brasil já tinha programas sociais suficientes. Agora basta ligar o que já existe?
Paes de Barros – Naquela época, o Brasil tinha um monte de programas, mas não tinha escala. Hoje, há vários municípios fazendo coisas geniais. Por exemplo: o Trevo de Quatro Folhas (programa de atenção à infância de Sobral, no Ceará) ganhou todos os prêmios mundiais. Mas, se você for a Juazeiro do Norte, talvez o cara de lá nem saiba que o programa de Sobral existe. Não estamos aprendendo muito um com o outro. É costume a gente ouvir coisas do tipo: “Na Indonésia tem um programa assim. A gente também tem, mas está lá em Juiz de Fora. E esse? Tem, mas lá em Blumenau”. O que estamos propondo é fazer o alicerce para consolidar isso. Nada que não seja puro bom-senso.
ÉPOCA – Qual é o custo disso?
Paes de Barros – É mínimo. É o custo de organizar. Agora, isso pode ter um impacto enorme para chamar a atenção para a primeira infância. Veja como o Bolsa Família não só foi bom para os pobres, mas serviu para o Brasil se unir na luta contra a pobreza. Elaborar um programa desses cria na sociedade uma consciência da importância da questão. Um amigo meu, o economista José Márcio Camargo, foi à Costa Rica. San José (a capital do país) não é uma cidade bonita, mas você sabe que o país é uma beleza. Ele (Camargo) estava numa praça, com um ministro, e perguntou: “Cadê a riqueza de vocês? Vocês estão escondendo em algum lugar”. Aí, as criancinhas estavam saindo todas arrumadinhas de uma escola. O ministro apontou para as crianças. “Está ali.”
ÉPOCA – A presidente Dilma estabeleceu como meta erradicar a miséria até 2014. Isso é factível?
Paes de Barros – Não tem nenhum país do mundo que tenha taxa de desemprego zero. A mesma coisa vai acontecer com a pobreza. Existe uma pobreza residual. Quando a gente fala em erradicar, não é zerar: é baixar a um nível muito baixo, vamos dizer 2%, 3%, 4%. O que a gente quer é ser capaz de identificar rapidamente que uma pessoa se tornou pobre e rapidamente tirá-la da pobreza. O que vai ser importante não é quantos pobres você tem, mas há quanto tempo a pessoa está pobre. No governo passado, a gente tinha uma estratégia. Acho que agora a gente tem uma estratégia melhor para combater uma pobreza muito menor. A gente está numa trajetória de reduzir a extrema pobreza à metade a cada cinco anos – quando as Metas do Milênio falam em reduzir a pobreza à metade em 25 anos. Se há algum país do mundo que demonstrou que erradicar a pobreza é possível, é o Brasil.
ÉPOCA – Numa reportagem recente, a revista New Yorker menciona sua preocupação com a postura da nova classe média em relação aos pobres. Quais os efeitos disso?
Paes de Barros – Eu falava mais no condicional que no real. Tiramos 30 milhões de pessoas da pobreza. Elas foram beneficiadas por uma política social dirigida para elas. Os que saíram da pobreza têm de demonstrar solidariedade com os que ficaram. Se isso não acontecer, você pode ter mais dificuldade para fazer política para os que ficaram. Ocorreu isso nos Estados Unidos com o New Deal I. Lá, os beneficiados pelo New Deal, quando saíram da pobreza, buscaram uma forma de organização da sociedade em que diziam: “Governo sai da frente, não atrapalha. Deixa eu ir para a frente”. O Brasil também pode ter isso. Mas essa é muito mais uma preocupação do que um fato.
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Revista Época: A fonte está secando
O Fundo de Amparo ao Trabalhador financia o BNDES e paga o seguro-desemprego. Agora, dá sinais de esgotamento financeiro – um problema de difícil solução Por Marcelo Rocha, Leonel Rocha e Leandro Loyola. Com Murilo Ramos Após dois meses de mandato, a presidente Dilma Rousseff recebeu, na semana passada, dirigentes das seis centrais sindicais brasileiras no Palácio do Planalto. Foi um encontro simbólico. Tratados sem cerimônia durante os oito anos do governo Lula, quando obtiveram inúmeras vantagens, os sindicalistas vinham reclamando da frieza dispensada a eles por Dilma. No primeiro encontro, os sindicalistas trataram com a presidente do reajuste da tabela do Imposto de Renda, de terceirização de mão de obra e do eventual fim da contribuição sindical, que sustenta sindicatos e centrais. Os sindicalistas saíram satisfeitos e sorridentes. Mas as duas partes não trataram de um assunto espinhoso, que preocupa tanto o governo como os sindicatos: a situação financeira do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), um dos maiores fundos públicos da América Latina e uma das mais relevantes fontes de financiamento público do país.
Há três semanas, os conselheiros responsáveis pela gestão do FAT receberam o relatório de gestão do fundo em 2010. A arrecadação e o patrimônio cresceram, como o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, divulgou rapidamente. Mas os números não são animadores. As despesas do FAT estão crescendo mais rapidamente que as receitas. O déficit do fundo foi baixo no ano passado (leia no quadro abaixo), mas o documento prevê que ele vai crescer e poderá atingir R$ 9 bilhões em 2014. Isso significa que, para se sustentar, o fundo precisará de uma injeção de recursos do Tesouro Nacional.
Em operação desde 1992, o FAT tem um patrimônio de R$ 170,7 bilhões e é abastecido por recursos do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep). O dinheiro do PIS vem da cobrança de um tributo sobre a receita bruta das empresas. O Pasep é recolhido pelo governo de acordo com os salários dos funcionários públicos. Reunidos no FAT, esses recursos pagam o seguro-desemprego, o abono salarial e financiam projetos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e programas de formação de trabalhadores.
O primeiro sinal de problemas no FAT surgiu em 2008. O relatório de gestão daquele ano projetava que, se a trajetória de crescimento das despesas se mantivesse, associada ao desaquecimento da economia na ocasião, o fundo teria seu primeiro “déficit operacional”. A previsão se concretizou. Em 2009, pela primeira vez, o FAT gastou mais do que arrecadou. Foram R$ 2,3 bilhões. No ano passado, o déficit foi menor – R$ 409 milhões. Mas a perspectiva não é boa. O texto do relatório de gestão de 2010 prevê déficits no futuro “mesmo em um cenário de crescimento da economia”. Nesse caso, não há mágica. “Se as fontes de receita não forem suficientes, só resta o Tesouro colocar dinheiro no FAT”, diz o economista José Márcio Camargo, da PUC do Rio de Janeiro.
A principal causa do déficit do FAT é o aumento da despesa com seguro-desemprego, para onde vai a maior parte do dinheiro do fundo (no ano passado, dos R$ 29,7 bilhões gastos pelo FAT, R$ 20,4 bilhões foram destinados a trabalhadores desempregados). O seguro é um benefício que varia de R$ 545 (um salário mínimo) a R$ 1.010 mensais, pagos durante cinco meses. Esses gastos vêm aumentando sistematicamente – apesar da queda no desemprego. Entre 2004 e 2010, o gasto com o seguro subiu de R$ 7,2 bilhões para os atuais R$ 20,4 bilhões. “O Brasil deve ser o único país onde o gasto com seguro-desemprego cresce quando o desemprego cai”, afirma José Márcio Camargo. A explicação é a taxa de rotatividade no mercado de trabalho (número de trabalhadores que trocam de empregos), que é alta no Brasil e vem crescendo ainda mais. Em 1999, a taxa era de 29%. No ano passado, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), atingiu 36% dos trabalhadores. “Há enormes incentivos para as pessoas serem demitidas”, diz Camargo. Os incentivos são os benefícios previstos na lei trabalhista. Com o baixo índice de desemprego, muitas pessoas forçam a demissão para receber indenização e Fundo de Garantia. Enquanto procuram outra ocupação, recebem o seguro.
Outra razão do déficit do FAT é o aumento dos empréstimos concedidos ao BNDES. Por lei, pelo menos 40% dos recursos do FAT devem ser destinados ao BNDES para financiar “programas de desenvolvimento econômico”. Entre 2004 e 2010, os empréstimos do FAT ao BNDES cresceram 82% (leia o quadro abaixo). Nos últimos anos, o BNDES tem sido um dos motores do governo para turbinar o crescimento econômico. Se continuar nesse ritmo, as projeções mostram que os empréstimos poderão chegar a R$ 22,1 bilhões em 2014.
As soluções para o impasse do FAT não são fáceis. Reduzir o dinheiro repassado ao BNDES exigiria uma mudança na Constituição – o que é muito complicado, ainda mais num momento de ufanismo oficial com os índices de crescimento do PIB. Uma saída seria mudar a lei para reduzir o número de pessoas aptas a receber o seguro-desemprego. Outra solução seria o governo aderir a uma resolução da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que limita as demissões – e, então, diminuir os gastos com o seguro-desemprego.
“O FAT está sobrecarregado com o seguro-desemprego”, afirma o economista Roberto Gonzalez, pesquisador do Instituto de Política Econômica Aplicada (Ipea). “Por isso deixa de investir em qualificação e inserção de trabalhadores no mercado, uma de suas funções primordiais.” Os menores desembolsos do FAT vão para programas de treinamento e qualificação de mão de obra. Neste ano, o Conselho Deliberativo do FAT (Codefat) pediu R$ 1 bilhão para isso. Mas, com os cortes no Orçamento, o valor não deverá passar de R$ 200 milhões. Isso vai na contramão do que o país precisa. “Há falta de mão de obra qualificada. A demanda está crescendo muito mais rápido que a oferta”, afirma o economista José Pastore, especializado em mercado de trabalho. A falta de mão de obra de melhor qualidade pode impor limites ao crescimento econômico.
Os programas de qualificação de mão de obra têm uma finalidade nobre. Mas, nos últimos anos, viraram fonte de escândalos. O Tribunal de Contas da União (TCU) tem dezenas de investigações sobre desvios de recursos que deveriam ser direcionados para qualificação. Uma delas, em 2008, atingia a Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos (CNTM). Filiada à Força Sindical, a CNTM mantém, em São Paulo, centros onde os trabalhadores podem buscar vagas e receber seguro-desemprego. Naquele ano, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho, foi acusado de lutar para que o governo passasse dinheiro do FAT diretamente a entidades ligadas a sindicatos. Pouco antes o TCU havia aprovado um acórdão que vetava a prática.
O presidente do Codefat na ocasião, Luiz Fernando Emediato, conseguiu aprovar uma resolução que driblou a restrição imposta pelo TCU. A CNTM firmou um convênio de R$ 46,4 milhões com o Ministério do Trabalho, dos quais R$ 24,4 milhões foram liberados. ÉPOCA teve acesso a um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) sobre o convênio. O documento chama a atenção para o reajuste e a prorrogação da vigência do convênio. No início, a CNTM deveria receber R$ 18,9 milhões do FAT, mas o valor mais que dobrou em menos de três anos. Segundo a AGU, o reajuste desrespeitou a Lei de Licitações.
Outro problema do FAT está na gestão de seus recursos. Composto de representantes do governo, das centrais sindicais e de sindicatos patronais, o Codefat está esvaziado desde 2009. Naquele ano, o rodízio estabelecia que Luiz Fernando Emediato fosse sucedido na presidência por alguém da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Mas o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, manobrou e colocou na presidência Luigi Nese, da Confederação Nacional dos Serviços (CNS), uma entidade inexpressiva, criada menos de um ano antes graças a uma portaria assinada por Lupi. Por causa do golpe, as maiores entidades patronais se retiraram do Codefat. Perdido em problemas de gestão e em um modelo financeiro corroído por distorções de mercado e por uma legislação antiquada, o FAT precisa de atenção.
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Revista Época: Como o Estado deve atuar na economia?
O maior desafio do próximo presidente será incentivar o desenvolvimento sem precisar avançar no bolso do contribuinte
Por Marcos Coronato Marcos de Paula/AE MAIS UMA Equipamento de perfuração da Petrobras no Rio de Janeiro. O governo criou outra estatal para atuar no setor, a Pré-Sal
Todo dia, esteja em casa, no trabalho ou se divertindo, o brasileiro anda aos esbarrões com um sócio grandalhão. O cidadão tem com o sócio um contrato: entrega a ele parte substancial do dinheiro que ganha e, em troca, espera que seja limpo o caminho para buscar a prosperidade. O sócio deveria garantir muita facilidade para o cidadão comprar, vender, poupar, planejar, investir, empreender, negociar, contratar. Atualmente, porém, em diversas situações o brasileiro não pode contar com a ajuda desse sócio o Estado, uma organização formada por cerca de 540 mil funcionários, divididos por uma infinidade de repartições, departamentos, secretarias e autarquias, cujo dirigente máximo é o presidente da República.
O relacionamento entre o cidadão e seu sócio indesejado é conflituoso. Interessa a todo governante que o Estado seja o mais poderoso possível e que sofra um mínimo de cobranças; ao cidadão interessa o oposto: que o Estado seja tão frugal quanto possa, ao cobrar impostos, e extremamente eficiente, ao retirar os entraves do caminho para a prosperidade individual. Por isso, uma das difíceis opiniões que todo eleitor precisa formar é sobre o papel e o peso do Estado no desenvolvimento econômico. Esse será o tema do quinto encontro da série ÉPOCA Debate, na segunda-feira (13/9), na sede da Editora Globo (que publica ÉPOCA).
O Estado já assumiu diferentes tamanhos e responsabilidades, de acordo com o momento. Em 1995, só o governo federal arrecadava em impostos o equivalente a 19% da riqueza produzida no país. Essa fatia chegou a 23% em 2002 e passa de 25% neste ano. Durante o regime militar, o Brasil chegou a ter quase 600 empresas estatais, atuando em setores como máquinas industriais, siderurgia ou fabricação de aviões. De acordo com os pesquisadores Francisco Antônio Pinto e José Eduardo Castello Branco, da Secretaria de Planejamento do Rio de Janeiro, ao longo dos anos 80 e com a onda de privatizações nos anos 90, esse número caiu. Ainda assim, existem 115 estatais federais, em áreas tão diversas quanto finanças, agronegócio, energia e tecnologia da informação. Reprodução
O governo Lula trouxe de volta ao debate público a possibilidade de criar outras ou de ressuscitar algumas estatais, para atuar em setores como seguros, fertilizantes, banda larga ou petróleo, sem mostrar claramente por que elas seriam necessárias. Um exemplo foi a criação da Pré-Sal (antes chamada de PetroSal), a empresa que deverá representar o governo ao lidar com a exploração de petróleo na camada pré-sal, espremendo-se entre a Petrobras (cujo maior acionista é o próprio governo) e a Agência Nacional do Petróleo (que zela pelos interesses da sociedade nesse mercado). No Brasil, o Estado também tem amplas participações em grupos privados, é o destino de grande parte dos investimentos da classe média, o principal tomador de dinheiro emprestado por meio das aplicações de renda fixa, o maior financiador de investimentos empresariais de longo prazo, o administrador da maior parte do dinheiro para as aposentadorias e o maior responsável pela geração de eletricidade. Somos um país com alto grau de intervenção estatal. Perto de 40% da riqueza do Brasil passa pelas mãos do Estado, índice superior à média dos países emergentes, diz o economista Paulo Rabello de Castro, presidente da empresa classificadora de risco SR Rating e articulista de Época (leia sua coluna) .
Isso é bom para o país? Quanto menos cérebros cuidam do planejamento e das decisões econômicas, mais proliferam as oportunidades de corrupção e as chances de ocorrer má gestão dos recursos. Mas onde estará o ponto ideal entre o governo excessivamente concentrador e o governo ausente? Os economistas têm divergências variadas nesse campo. No Brasil, uma divisão prática, porém grosseira, opõe os s desenvolvimentistas aos liberais. O rótulo desenvolvimentista caberia aos defensores de uma atuação econômica abrangente do Estado, que indicaria claramente os setores estratégicos para a economia e atuaria com todos os seus recursos para criar, desenvolver e proteger empresas selecionadas. O selo liberal caberia aos críticos desse tipo de atuação do Estado, desejosos de que o governo tivesse como meta melhorar o ambiente de negócios e deixar o caminho livre para que o setor privado trabalhe como achar melhor. Nos últimos anos, porém, o mundo ficou mais complicado para quem gosta desse tipo de carimbo. A economia se comporta em ondas, e a crise econômica global levou o pêndulo mais para o lado do ativismo estatal, diz o sociólogo Glauco Arbix, professor da USP e ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Raimundo Paccó COBRANÇA Cartaz é colado no lançamento de um ato empresarial contra a CPMF, em São Paulo. O governo federal arrecadará o equivalente a 25% do PIB em 2010
Por ativismo estatal entenda-se a maior participação dos governos na direção da economia. Após a crise, isso ocorreu até em países com maior tradição liberal, como Estados Unidos ou Reino Unido e o mundo se pergunta quão rapidamente e em qual extensão esses governos recuarão de seus novos papéis. Várias das democracias que mais crescem, como Índia e Coreia do Sul, admitem uma forte participação do governo na condução da economia. Arbix diz que esse ativismo estatal não é uma ideia pronta, mas um processo em andamento, que ninguém sabe bem como vai acabar, nem se vai acabar bem. É difícil achar o equilíbrio. Mas esse novo ativismo, qualquer que seja ele, não pode se misturar com o desenvolvimentismo à moda antiga, diz. Isso porque os governos das democracias atuam agora em economias mais abertas, com maior respeito por liberdades individuais e empresariais. 40% da riqueza do Brasil passa pelo Estado. É um índice superior à média dos países emergentes
Reprodução
Nesse cenário global mais complicado, o Brasil conta, ironicamente, com uma vantagem: seus problemas no que diz respeito à atuação do Estado no desenvolvimento econômico são muito mais básicos e, de tão evidentes, despertam consenso entre diferentes correntes de pensamento. O primeiro é a alta carga de tributos, que torna produtos e serviços mais caros, retira riqueza de circulação e dificulta o crescimento das empresas. Fora do governo, há uma unanimidade entre os economistas: o Estado brasileiro cobra demais, no mesmo nível que países europeus, como a Alemanha, e oferece pouco em retorno. Resolver o problema não é tão simples quanto parece. Executivo e Legislativo discutiram intensamente a possibilidade de uma reforma tributária ao longo da maior parte dos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, sem chegar a uma proposta politicamente aceitável. No primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o Ipea chegou a formular um plano para reduzir a carga tributária, ao longo de dez anos, de 35% do PIB para 28%. A ideia não angariou defensores no governo. O problema espera por um presidente que tenha a determinação e o senso de urgência necessários para enfrentá-lo.
O segundo ponto que o próximo governo deveria resolver é a dificuldade para abrir e manter um negócio no país. As pequenas empresas têm de ser a base da economia, as maiores responsáveis pelo dinamismo, pela inovação. Sem elas, o crescimento não vai ser sustentável, diz Arbix, da USP. Entre 2007 e 2009, o ambiente de negócios no Brasil melhorou muito, segundo o ranking do Fórum Econômico Mundial. O país subiu 16 posições entre as nações pesquisadas. Em 2010, a marcha foi interrompida, enquanto outros países seguiram adiante (caso da Indonésia) ou já aparecem em posição bem superior (como o Chile). Facilitar os empreendimentos entre os brasileiros seria uma forma de qualquer governo criar empregos e fortalecer a economia, sem precisar crescer nem gastar mais. Reprodução
Outro aspecto frágil da economia brasileira é um paradoxo: uma inflação ainda elevada (previsão de 5% em 2010) convive com os juros mais altos do mundo (10,75% ao ano). O principal responsável pela aberração é o alto endividamento público: 42% do PIB. O gasto anual do governo federal saiu de 15% do PIB em 2003 para quase 19% neste ano. Assim, o governo alimenta a inflação por meio do que consome e do que empresta.
Os principais candidatos à Presidência da República têm propostas vagas, que não podem ser chamadas de soluções. Dilma Rousseff, do PT, coloca ênfase nas obras de infraestrutura e já disse que gostaria que os impostos punissem menos os assalariados mais pobres. Em linhas gerais, pretende manter a política econômica atual: forçar a formação de grandes empresas brasileiras multinacionais. José Serra, do PSDB, insiste em tópicos importantes, como equilibrar as contas do governo, melhorar a infraestrutura, aumentar o investimento público, reduzir a carga de impostos e a taxa de juros. Seja qual for o próximo presidente, espera-se que ele preserve condições duramente conquistadas, como a inflação e o endividamento público sob controle. Em segundo lugar, que avance na resolução dos problemas econômicos, sem esquecer que, nessa história, os cidadãos e as empresas são os atores principais.
Diante dessa lista de tarefas, é fundamental lembrar também que não bastam boas ideias é preciso executá-las bem. Isso exige um setor público eficiente. A administração pública precisa de equipes menos permeáveis ao sistema político, afirma Claudia Costin, ex-ministra da Administração Federal, secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro e autora do livro recém-lançado Administração pública. A democracia funciona quando os desejos do eleitor são implantados por funcionários selecionados, não por preferências partidárias, e sim por competência. Numa palavra, uma máquina pública sem aparelhamento político-partidário.
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Revista Época: Dilma, Serra e Marina ficam cara a cara pela primeira vez Os três principais concorrentes à Presidência da República abrem nesta quinta-feira (5) a temporada de debates que ajudará o eleitor a decidir uma das disputas mais equilibradas da história Alberto Bombig, Leonel Rocha e Mariana Sanches Na primeira eleição direta para a Presidência sem Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), vão abrir nesta semana a temporada de debates que ajudará o eleitor a decidir uma das disputas mais equilibradas da história. Na sexta-feira passada, a mais recente pesquisa Ibope/Estado de S. Paulo/TV Globo, divulgada pelo Jornal Nacional, deu a Dilma 39% das intenções de voto, 5 pontos a mais do que Serra. Marina obteve 7%. Esses números se referem ao cenário com todos os candidatos “nanicos”.
Eles debaterão pela primeira vez na TV Bandeirantes, que levará ao ar o confronto na quinta-feira 5 de agosto, a partir das 22 horas. Também foi convidado pela emissora o candidato Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, que não pontuou na pesquisa.
O confronto dará início a uma série de pelo menos quatro debates (um deles pela internet). O mais aguardado pelas campanhas é o da TV Globo, marcado para a semana decisiva do primeiro turno, em outubro. Uma das preocupações da campanha de Serra é que o primeiro debate seja ofuscado pelo jogo entre São Paulo e Internacional, semifinal da Taça Libertadores da América, que será transmitido pela Globo, no mesmo horário. A previsão é que a partida retire audiência do debate em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
A expectativa é que esse primeiro confronto sirva como um ensaio geral da reta final da campanha. Ao lado dos programas do horário eleitoral, que começarão no dia 17, os debates se tornaram, em 21 anos de eleições presidenciais diretas, um dos principais instrumentos de avaliação dos candidatos pelos eleitores e foram decisivos, em muitos casos, para os rumos da campanha (leia o quadro abaixo). Os debates, apesar de cada vez mais engessados por regras, são uma das raras ocasiões em que os presidenciáveis se expõem de maneira mais aberta. Por causa disso, os marqueteiros se esmeram na preparação dos candidatos para minimizar os riscos de escorregões.
Por Dilma estar em alta nas pesquisas, representar o governo e ser inexperiente em confrontos desse tipo, a campanha do PT avalia que ela será o alvo preferencial dos ataques nos debates. Em sua preparação, Dilma tem se reunido com ministros e secretários das pastas mais importantes do governo para se atualizar sobre dados da gestão Lula. “Ela vai mostrar que ajudou o presidente Lula a fazer um bom governo”, diz Fernando Pimentel, um dos coordenadores da campanha de Dilma. Mais acostumada com os jargões burocráticos dos gabinetes do que com a linguagem popular das campanhas, Dilma foi aconselhada a não ser “tecnicista” ou professoral em suas respostas para não ser enfadonha. Outra recomendação é não ser agressiva. Desde o ano passado, Dilma tem sido preparada por Olga Curado, especialista em oratória indicada pelo marqueteiro João Santana.
Dilma tem se dedicado ao estudo de duas áreas: saúde e segurança pública. Nas pesquisas, a saúde aparece como a principal preocupação dos brasileiros e é uma área em que Serra tem o que mostrar por ter sido ministro no governo Fernando Henrique Cardoso. Na segurança pública, ela deverá enfrentar críticas ao controle das fronteiras terrestres, por onde há intenso tráfico de drogas. Dilma pretende responder aos ataques com o programa de combate s ao crack e os números das operações da PF que resultaram em prisões de traficantes internacionais.
Eles tentam, mas não escapam Em cinco eleições, só FHC conseguiu se eleger sem participar de debates 1989 Fernando Collor (PRN) faltou a cinco dos seis debates realizados antes do primeiro turno. Mas esteve em dois debates com Lula (PT) entre o primeiro e o segundo turno. O último foi decisivo para sua vitória 1994 Líder nas pesquisas graças ao Plano Real, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) participou de um debate com Lula (PT). Venceu no primeiro turno, com 55% dos votos 1998 FHC foi reeleito no primeiro turno, com 53%dos votos, sem participar de nenhum debate 2002 Os candidatos Lula (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) participaram de três debates antes do primeiro turno. Entre o primeiro e o segundo turno, Lula foi a um debate com Serra e faltou a dois. Foi eleito com 61% dos votos 2006 Confiante que venceria no primeiro turno, o presidente Lula faltou aos três debates. A vitória não veio. Na disputa no segundo turno, Lula teve de participar de quatro debates com Alckmin. Venceu com 61% dos votos Enquanto Dilma é uma estreante em debates, Serra é um veterano. Participou de três das últimas quatro eleições brasileiras. Seus mais celébres debates foram os confrontos finais de segundo turno com Lula, na disputa pela Presidência em 2002, e com Marta Suplicy, no pleito pela prefeitura de São Paulo em 2004. São esses dois que servirão agora de base na preparação do tucano. O duelo com Marta é tratado como uma referência no PSDB por apresentar semelhanças com o desafio atual. Em 2004, Marta era a prefeita, detinha bons índices de aprovação e disputava a reeleição com bandeiras como os CEUs (Centros de Educação Unificada) e o Bilhete Único, um sistema inovador em transporte público. Agora, Serra tem de novo como principal adversária uma mulher, Dilma, candidata de um governo bem avaliado e com marcas como o Bolsa Família e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
O que anima o PSDB e seus aliados é que Serra, ao contrário do que ocorreu em 2002, ganhou a eleição contra Marta. Na campanha municipal, o tucano tentou demonstrar total controle sobre os números da gestão petista e afirmou que, se eleito, manteria os principais programas, a exemplo do que deverá fazer neste ano.Serra evitou parecer agressivo por ter uma mulher como adversária. Mas não deixou de apontar falhas e contradições de Marta. Para os tucanos, a vitória de Serra em 2004 se deu porque ele conseguiu fixar no eleitor a imagem de que era o mais experiente e preparado. Exatamente como ele tentará fazer contra Dilma.
Na campanha de Serra, ainda não há consenso se o candidato deve partir para a discussão ideológica suscitada pelos ataques às relações do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do governo Lula com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. O mais provável é que Serra aborde essas questões ao falar do controle das fronteiras e da política externa. A preparação do tucano será feita pela equipe do marqueteiro Luiz González, o mesmo de 2004.
Marina iniciou a preparação para os debates ao formar o grupo de 92 colaboradores que está elaborando seu programa de governo. Eles estão abastecendo a candidata do PV com informações, números, leituras e enfoques. Marina já se sente à vontade para tratar, por exemplo, de economia, um tema que antes a deixava desconfortável. Como preparação para sabatinas e debates, ela costuma anotar tópicos em folhas de papel – que ela chama de “aranhas”.
Antes do encontro na Bandeirantes, Marina passará por simulações, comandadas pelo marqueteiro Paulo de Tarso Santos, que começarão na segunda-feira. Colaboradores da campanha dizem não ter grandes expectativas quanto aos resultados do primeiro debate. Mas avaliam que Marina precisa ter um bom desempenho para ampliar o espaço de campanha. Como Marina dispõe de pouco tempo de propaganda na TV, os debates são úteis para torná-la mais conhecida. Será também a hora de ela tentar mostrar que tem mais a dizer além de pregar a defesa de florestas. Marina aposta que colherá bons resultados com a proposta do “programa social de terceira geração”. Ela tem dito que é a única a propor algo além da manutenção do Bolsa Família para o combate à pobreza. Inspirado por Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o “programa social de terceira geração” propõe metas e acompanhamento do Estado para que as famílias pobres superem sua condição social.
Marina tem a pretensão de quebrar a polarização entre PT e PSDB e se colocar como uma “terceira via”. Para conseguir isso, ela ainda precisa se mostrar uma candidata viável, com chances de vencer. Nos debates, terá de conter seu estilo prolixo, bom para discursos em palanques, ruim para a TV. Seus pontos vulneráveis são as lacunas no discurso do “desenvolvimento sustentável” – não há até hoje uma alternativa verde viável para a geração de grandes quantidades de energia, por exemplo – e suas convicções religiosas – Marina é evangélica da Assembleia de Deus e já se disse contrária ao casamento gay. Depois, recuou e defendeu a união civil entre homossexuais.
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Revista Época: O arrocho da classe média Por José Fucs, Isabel Clemente e Thais Lazzeri, com Marcos Coronato e Ana Luiza Cardoso Despesas com serviços como médicos e escola subiram mais do que a inflação oficial. Por que isso ocorreu - e como lidar com a alta dos preços
O mineiro Alan dos Santos Alencar, de 43 anos, responsável pela área de tecnologia de uma revenda da Volvo e professor universitário, teve de promover um ajuste dramático em suas contas para não ficar no vermelho. Depois de analisar em detalhes as despesas com sua mulher, Diane, de 42 anos, e a filha Laura, de 15 anos, ele se deu conta de que os gastos com restaurantes, cinemas e saídas à noite estavam pesados demais. Com uma renda familiar de R$ 8 mil, teve de adotar um remédio amargo, mas inevitável: cortar gastos. As idas semanais a restaurantes foram substituídas por refeições em praças de alimentação de shoppings. O cinema foi trocado por um serviço que oferece filmes e séries de TV pela internet. A viagem de férias da família ao exterior ficou para depois. Agora, Alencar diz que, antes de fazer qualquer compra expressiva, ele e Diane avaliam se o gasto é prioritário - e como impactará as contas e os projetos familiares no longo prazo. Sua filha passou a ter uma mesada de R$ 500 para cobrir suas despesas do dia a dia. "É uma maneira de ela aprender a administrar o próprio dinheiro - e de a gente controlar melhor os gastos", afirma. "Descobri que ter uma adolescente em casa muda muito as contas de uma família."
O caso de Alencar não é isolado. Hoje, no Brasil, milhões de famílias da classe média tradicional, que viviam com uma folga relativa até pouco tempo atrás, têm de fazer as contas e mudar os hábitos para manter o orçamento sob controle. Fazem parte desse contingente os assalariados e os empresários de pequeno e médio porte relativamente bem-sucedidos, com um patrimônio conquistado quase sempre com o próprio esforço, além dos profissionais em ascensão na carreira. Em sua maioria, eles têm diploma universitário, nível cultural elevado e estão acostumados a frequentar restaurantes, bares, cinemas e shows. Sempre que possível, viajam para fora do país com a família ou com os amigos. Segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), a classe média tradicional, também chamada classe A/B, é uma massa formada por 21,5 milhões de pessoas, o equivalente a 11,2% da população brasileira. Embora sua importância econômica esteja diminuindo nos últimos anos, com a ascensão das faixas de menor renda, a classe média tradicional ainda representa cerca de um quarto do consumo nacional, de acordo com a Nielsen, uma empresa de pesquisa e análise de mercado - uma fatia estimada em cerca de R$ 800 bilhões por ano, equivalente a 35 vezes o custo do Bolsa Família para o governo em 2013.
A classe A/B responde por 86% das matrículas em escolas particulares, 78% das viagens e 74% dos gastos com lazer e cultura do país. "O desenvolvimento nos últimos dez anos não contemplou a classe média tradicional", diz o economista Waldir Quadros, professor da Universidade de Campinas (Unicamp). Estudioso da classe média brasileira, ele defendeu, no final dos anos 1970, sua tese de mestrado. "A classe média está espremida, nervosa."
Ao contrário do que ocorre com as faixas de renda mais baixa, o responsável pela alta no custo de vida dessa faixa da população não é a inflação do tomate ou de outros alimentos. A alta dos alimentos afeta todo mundo, mas pesa mais para os mais pobres. O que mexe com o bolso da classe A/B é um fenômeno chamado pelos economistas de "inflação de serviços". Ela inclui itens como escolas, planos de saúde, empregadas domésticas, restaurantes e viagens, com maior peso no orçamento de quem ganha mais. Essa inflação dos serviços não se reflete plenamente nos principais indicadores de inflação do país. No IPCA, o índice oficial, calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os serviços representam apenas 20% do total, embora alcancem 60% ou até 70% dos gastos familiares nas faixas de renda mais alta, segundo Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular - voltado para o estudo do consumo dos emergentes e das faixas de menor poder de compra (classes C, D e E).
Nos últimos cinco anos, enquanto a inflação oficial ficou na faixa de 35%, a inflação dos serviços atingiu quase 45%, de acordo com o IBGE. Nos últimos 12 meses encerrados em abril, não foi diferente. A inflação oficial, pressionada pelos preços dos alimentos, ficou em 6,5%, no teto da meta do governo. Só que os serviços subiram, em média, 8,13%, quase um terço a mais. Segundo o IBGE, 60% dos serviços subiram mais que a inflação no período. Apesar de ter havido uma ligeira desaceleração na alta dos serviços em abril, não se esperam grandes mudanças até o final do ano. "Está havendo uma transformação dos preços relativos da economia, em favor do setor de serviços", afirma o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica no governo Lula. "Isso equivale a mudar o padrão de consumo da sociedade e a reduzir o poder real de compra da classe média mais alta."
Diante do aumento dos preços de alguns serviços, é difícil acreditar que o país vive uma fase de estabilidade econômica. Desde 2008, a escola das crianças subiu quase 50%. Os planos de saúde, 42%. O dentista, 48%. A empregada doméstica, antes da mudança da legislação, 75%. Os restaurantes, 66%. As passagens aéreas, 178%. O estacionamento, 65%. As oficinas mecânicas, 47%. Isso pelos números oficiais do IBGE, que refletem uma média de todo o país. Dependendo da região em que cada um vive e da composição de gastos de cada um, a inflação dos serviços pode ter tido um impacto ainda maior no orçamento.
Embora ela afete da mesma forma quem acabou de subir um degrau na pirâmide social e quem já fazia parte da classe média antes, pode-se dizer, sem risco de cometer uma injustiça, que quem chegou agora já está no lucro. De um jeito ou de outro deu um salto no poder de compra, no consumo e na qualidade de vida. Para quem já estava acostumado a ter um padrão melhor e tem de mudar seu estilo de vida, a situação é mais complicada. "A classe média alta não quer usar os serviços públicos, mas os gastos com serviços privados já estão no limite de sua renda", diz Márcia Sola, diretora do Ibope Inteligência, instituto de pesquisas de mercado e de opinião. "É inconcebível essa alta dos preços dos serviços num país de renda média como o Brasil, com baixa qualidade de mão de obra", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida.
No Rio de Janeiro, a bancária Renata Senna, de 38 anos, diz que teve de reduzir a jornada de trabalho de sua empregada doméstica de cinco para dois dias por semana, entre outros cortes, para manter o orçamento sob controle. Com uma renda familiar de R$ 6.800 por mês, ela diz que passou a realizar mais tarefas domésticas, com o apoio do marido, Luiz Paulo Neves Filho, um ano mais velho, e até da filha Ana Clara, de 6 anos. Em São Paulo, a professora universitária Renata Wassermann, de 42 anos, conta que gastava R$ 3.200 por mês com a escola dos dois filhos, Laura, de 9 anos, e Alexandre, de 7. Recentemente, aproveitando a mudança da família para um apartamento no bairro do Butantã, na Zona Oeste da cidade, decidiu transferi-los para uma escola pública bem cotada perto de casa. Assim, ela economiza 20% da renda da família, de R$ 15 mil, sem prejudicar a educação dos filhos. Também com uma renda mensal de R$ 15 mil, a advogada gaúcha Alessandra Busato, de 38 anos, de Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, diz que chegava a gastar até R$ 800 por mês no salão de beleza. Depois de anos, mudou de salão e conseguiu cortar os gastos pela metade. Ela afirma que, agora, também faz hidratação facial e no cabelo em casa. Tudo isso para fazer o mês caber no salário e economizar algum dinheiro para projetos futuros.
Em São Paulo, o publicitário Danilo Corci, de 38 anos, indignado com os preços abusivos cobrados nos bares, resolveu reagir. Com sua mulher, Camila, e dois amigos, lançou no início de abril o site Boicota SP. É um palanque para as pessoas falarem sobre os preços altos, do restaurante ao xerox. Se quiser, o representante do estabelecimento mencionado pelos usuários no site pode entrar em contato por e-mail, para dar sua versão dos fatos. Poucos dão o retorno, segundo Corci. A ideia dos empreendedores era ter cerca de 3 mil usuários simultâneos no primeiro ano. Em pouco mais de um mês, Corci diz que o site já atingiu 50 mil pessoas navegando ao mesmo tempo e mais de 150 mil usuários únicos por dia. "Costumo dizer que a gente não é um Procon, mas um espaço para troca de experiências e sugestões." Corci também já não vai tanto a bares com os amigos. Eles passaram a se reunir em suas casas e a comprar as bebidas no supermercado. "Não dá para comparar a sensação de beber num barzinho à de fazer isso em casa, mas a companhia continua sendo ótima - e não me sinto lesado com o valor da conta."
Se a renda da classe média tivesse acompanhado a alta dos preços dos serviços, ela poderia ser absorvida de forma indolor. Isso não aconteceu. A renda da classe A/B subiu bem menos que a dos emergentes e das classes de menor renda. Na última década, a renda dos 10% mais pobres subiu 91,2% em termos reais (acima da inflação), enquanto a dos 10% mais ricos, 16,6%, segundo Marcelo Neri, ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autor do livro A nova classe média (Ed. Saraiva). É preciso levar em conta que esses 16,6% de ganho real a que Neri se refere podem ser uma miragem. Como o índice de inflação usado no cálculo - o INPC, apurado pelo IBGE - também não reflete o peso real dos serviços para a classe média, o aumento de renda pode ter sido bem menor que o anunciado ou nem sequer ter existido. "É uma boa tese", diz Neri. "Isso me faz lembrar aquela imagem da Belíndia: o lado rico do Brasil está tão estagnado quanto a Bélgica, enquanto o lado pobre está crescendo como a Índia e a China."
Há, ainda, outros fatores que afetam a queda do poder de compra da classe média tradicional. Não dá mais para contar com ganhos obtidos com aplicações no mercado financeiro, como acontecia até pouco tempo atrás. O ganho real de outrora minguou. Com a inflação oficial na faixa de 6,5% ao ano e a taxa básica de juros - a Selic, que serve de referência para todas as outras - em 8% ao ano, o ganho real é praticamente zero para a maioria dos aplicadores, que não recebem a taxa "cheia" nos bancos - ou até negativo (abaixo da inflação), se o valor aplicado for baixo. O Imposto de Renda também abocanha uma fatia maior dos salários e afeta o rendimento da classe média. Segundo um estudo elaborado pelo Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), a defasagem da tabela do Imposto de Renda na fonte alcança 66,4% nos últimos 16 anos. Enquanto o IPCA avançou 189,54%, a tabela foi atualizada em 73,95%. Não por acaso, a proporção de famílias de maior renda que não conseguirá pagar em dia as dívidas aumentou de 1,9% para 2,2% desde setembro do ano passado, segundo um estudo da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Nos cinco primeiros meses de 2013, a inadimplência subiu 20% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Serasa Experian, uma empresa de informações de crédito. Apesar de a classe média ter incorporado 9,2 milhões de "novos ricos" entre 2003 e 2011, de acordo com Marcelo Neri, já começam a aparecer sinais de retração no consumo do segmento. A seguir, alguns exemplos.
- Nos dois primeiros meses de 2013, houve queda de 20% no faturamento dos bares em São Paulo, segundo uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) com 600 associados - e não apenas por causa da Lei Seca;
- No segundo trimestre de 2013, a intenção de compras pela internet na faixa de renda mais alta é de 76,5% - 7,4 pontos abaixo do primeiro trimestre e o índice mais baixo desde 2007, segundo um estudo do Programa de Administração de Varejo (Provar) e da e-bit, uma empresa de informações sobre o mercado virtual;
- Nos últimos meses, houve uma queda de 20% nos pedidos de reembolso de consultas particulares aos planos de saúde, de acordo com a Federação Nacional de Saúde Complementar;
- Em 2012, segundo uma pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel, outro instituto de pesquisas de mercado, o número de itens comprados pelas classes A e B caiu 4%, embora o valor gasto para comprá-los tenha aumentado 5%;
? Também no ano passado, a quantidade de imóveis financiados pelos bancos para famílias de maior renda caiu 7%, segundo dados da Associação Brasileira de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
No momento, é difícil dizer se esses sinais negativos se aprofundarão e se espalharão pelos demais setores da economia nos próximos meses, contribuindo para conter a alta nos preços dos serviços. Caso a inflação dos serviços persista, uma saída, defendida por alguns economistas, é esfriar um pouco o mercado de trabalho, para reduzir a demanda de serviços e de bens. Essa solução é defendida, entre outros, pelo consultor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central. É uma solução cuja probabilidade de implementação no atual governo é perto de zero. Se, porém, o mercado de trabalho se mantiver aquecido e o desemprego no menor nível da história, não há muito a fazer no curto prazo. Faltam profissionais qualificados para trabalhar no setor de serviços, em todos os ramos de atividade: engenharia, medicina, trabalhos domésticos, construção civil e mecânica de automóveis. Se já é difícil evitar o aumento de preços dos serviços normalmente, porque eles quase não sofrem concorrência dos estrangeiros, tudo piora num cenário de escassez de mão de obra.
No longo prazo, só um choque de produtividade e investimentos pesados em educação, com treinamento e capacitação profissional intensivos, poderá transformar esse quadro perverso, que afeta o poder de compra da classe média tradicional. Os ganhos de escala, possíveis com a ascensão dos emergentes à classe A/B, também podem contribuir para resolver a questão. "Em países desenvolvidos, compensa-se a mão de obra escassa otimizando a prestação de serviços. Um médico atende em várias salas alternadamente, com a ajuda de uma enfermeira, e um sujeito sozinho cuida de uma lanchonete", afirma o economista Roberto Macedo, ex-secretário de Política Econômica no governo Collor. "A oferta de produtos pode oscilar ao longo de semanas - ela depende da disponibilidade de matéria-prima", diz o economista Paulo Piccheti, doutor pela Universidade de Illinois e professor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre)-FGV. "Só que a oferta de serviços depende da oferta de gente formada e oscila ao longo de gerações."
O calvário da classe média tradicional, portanto, ainda deve continuar por um bom tempo. Para enfrentar a inflação dos serviços sem quebrar o orçamento, restam apenas as ações individuais, como as adotadas pelo mineiro Alencar - que mudou os hábitos e cortou as despesas da família - ou o ativismo de Danilo Corci, o publicitário de São Paulo que criou o site Boicota SP, cujos resultados ainda estão por se provar. Muitas vezes, os prestadores de serviços têm mais flexibilidade para negociar e baixar preços que vendedores de produtos. Há margem de negociação também com escolas e profissionais liberais, como advogados, arquitetos e decoradores. "Nos Estados Unidos, existe a cultura do 'faça você mesmo'. Na Europa, a classe média não come carne todo dia", diz o cientista político Alberto Carlos Almeida. "Aqui, estamos nos aproximando disso. Não será preciso, talvez, cortar a carne, porque o Brasil é o maior produtor mundial, mas terá de cortar outra coisa." Para a classe A/B, talvez seja o caso de lembrar o velho lema de campanha do ex-deputado e ex-ministro Antônio Delfim Netto: "Eu era feliz e não sabia".
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Revista Época: Os brasileiros mais influentes de 201
Quem são as pessoas mais influentes do Brasil, aquelas capazes de liderar, inspirar ou comover os brasileiros? Nesta edição, como faz desde 2007, ÉPOCA apresenta a lista das 100 personalidades mais influentes do país. Ela está dividida nas categorias Líderes, Heróis, Construtores e artistas. Inclui aqueles que na avaliação da redação de Época, mais se destacam em 2012. Os textos sobre eles são escritos por gente também influente, capaz, pela proximidade ou pelo conhecimento, de iluminar a história e o caráter de quem o Brasil precisa conhecer.
JOAQUIM BARBOSA Com sua firme atuação no julgamento do mensalão, o primeiro negro a assumir a presidência do STF encarnou o clamor popular pelo combate à corrupção O menino pobre do interior que se formou em Direito e hoje preside um dos Poderes da República. Essa é a inspiradora história do primeiro negro a comandar a mais alta corte do país. Mineiro de Paracatu, primogênito de oito filhos e arrimo de família desde os 16 anos de idade, a trajetória de Joaquim Barbosa cumpriu-se sob o signo da superação. Fruindo o estatuto de celebridade por sua firme atuação num dos julgamentos mais marcantes do Supremo Tribunal Federal (STF) - do mensalão - Joaquim corporificou o clamor popular pelo combate inapelável à corrupção, sem compromisso com a planejada indulgência dos mafiosos, sem concessões ou artifícios decorrentes das dívidas de gratidão. Com isso, reconciliou a jurisprudência penal do Supremo com a República - a coisa pública - e, secundado majoritariamente por seus pares, fez do Tribunal um campeão de audiência. Implacável na defesa do interesse público, ele foi aclamado nas redes sociais como o mais novò herói de capa preta. À ciranda de adversidades e obstinações que forjou sua personalidade deve-se somar - além do êxito nas mais distintas cátedras universitárias - a experiência de quase duas décadas no Ministério Público Federal como procurador da República, cargo que Joaquim só deixou em 2003, quando foi convidado pelo então presidente Lula para integrar o STF. Nove anos depois, sua posse à frente da Suprema Corte faz dele um ícone antecipado daquele país que volta e meia teima em se anunciar - um Brasil novo, avesso a desigualdades e privilégios. Joaquim Barbosa é o arauto de uma novidade: por formação, atitude e imposição, ele é o magistrado "de pé", que quer um Judiciário "sem floreios" ou "rapapés" e, sobretudo, mais igualitário e eficaz.
Alexandre Camanho, procurador regional da Republica e presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República
CARLOS AYRES BRITTO Ele conduziu, com suave vigor e imperturbável serenidade, o julgamento que já se tornou um marco histórico do Judiciário brasileiro a alta e reconhecida importância da atuação do ministro Ayres Britto não vem apenas da longa trajetória na corte, durante a qual foi, sobretudo como relator, responsável pela condução de acórdãos memoráveis sobre temas de relevo transcendente para a sociedade brasileira, como o da pronúncia de inconstitucionalidade da Lei de Imprensa e o do alcance e disciplina jurídica da reserva indígena Raposa Serra do Sol. E, não obstante esse papel, exercido com irretocável independência, firme convicção e não menor propriedade técnica, já bastasse por justificar-lhe tal reconhecimento público, sua notável contribuição institucional foi muito além. Todos os que acompanhamos o mais importante julgamento criminal da história da Suprema Corte brasileira não podemos deixar de sublinhar, como ápice de sua decisiva presidência, o inexcedível espírito público, o suave vigor, o ostensivo empenho, a rara sobranceria e a imperturbável serenidade com que presidiu, na fase substantiva, o julgamento da conhecida Ação Penal 470. O povo deve-lhe o haver tornado possível concluir, de maneira retilínea, em tempo compatível com a gravidade e a complexidade de uma causa singular por muitos títulos, inclusive pelo elevado número de denunciados, o julgamento que, sem dúvida, constituirá marco histórico do Judiciário brasileiro.
Cezar Peluso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
ROBERTO GURGEL O procurador-geral da República foi o responsável pela denúncia contra os réus do mensalão Dizer que Roberto Gurgel detém elevadíssimo quociente intelectual é chover no molhado. Como ainda é chover no molhado dizer que ele acumula, com toda exuberância, talento e cultura. Prefiro vê-lo pelo dominante prisma do ser humano que já não abre o menor espaço, uma frincha que seja, entre sua pregação e sua prática. Ele se tornou a encarnação de seu próprio discurso. O nome apropriado para esse tipo de simbiose é... autenticidade! Autenticidade que traduz o luminoso estado de quem já ascendeu ao patamar da consciência, que outra coisa não é senão evolução espiritual. Crescimento interior. Por isso que ele, Roberto Gurgel Santos, agrega leveza e firmeza ao máximo de empenho e seriedade em tudo o que faz. O resultado é a mais objetiva qualificação das coisas assim conscientemente feitas. Enfim, louvo esse tão superlativo modo pessoal e profissional de ser, próprio dos que andam de fim para fim e de topo para topo da existência.
Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
RICARDO LEWANDOWSKI Ao inocentar alguns acusados, o ministro do STF manifestou uma voz minoritária e dissonante, que precisa ser respeitada Cada vez maior é a movimentação social a favor das minorias e do respeito à liberdade de expressão. Aqueles que não tinham voz, que estavam à sombra, hoje podem sair às ruas e pleitear um lugar ao sol e o direito de ser diferente. Ventos democráticos renovaram o poluído ar deixado pelo autoritarismo, pelo sectarismo. Mas que democracia é essa que atende pelo nome de satisfação pessoal, que inadmite visão discordante, que massacra os que contrariam a corrente majoritária? A independência do magistrado revela a finalidade precípua de defesa do Estado, das instituições e do cidadão. Protege-se o juiz nos atos jurisdicionais, para poder concretizar o direito como resultado do processo da submissão do fato à norma, a partir da ciência e consciência, da formação intelectual e humanística possuídas. Mede-se a maturidade de um país pela observância à decisão formalizada, seja qual for, desde que fundamentada e anunciada publicamente. Imaginar que a defesa de entendimento minoritário reflete apoio político comprado implica supor que os integrantes da ótica vencedora estão também comprometidos com a mídia ou a opinião pública. Censurar posturas diversas daquela que se tem e, a um só tempo, alardear modernidade e pluralidade soa, no mínimo, como hipocrisia. Uma sociedade aberta, tolerante e consciente pressupõe escolhas pautadas nas várias concepções sobre os mesmos fatos. Parafraseando Voltaire, afirmo, ministro Ricardo Lewandowski, que, até quando divirjo da interpretação dada ao contido em processo da competência do Supremo, defendo o direito de Vossa Excelência de proclamar o que pensa. Siga em frente! Caminhamos rumo à quadra em que a coragem de dizer as próprias verdades não será motivo de assombro.
Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral e presidente do Instituto Metropolitano de Altos Estudos (Imae)
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA O ex-presidente enfrentou um câncer de laringe ao mesmo tempo que ajudou a eleger o prefeito da maior cidade do país Luiz Inácio Lula da Silva é o maior político brasileiro de todos os tempos. O povo é testemunha de sua trajetória, marcada pelo combate incansável às desigualdades sociais do nosso país, pela luta por democracia e pela construção do governo que mais fez o Brasil avançar. Depois, ajudou a eleger sua sucessora, a presidenta Dilma Rousseff, com quem divide índices recordes de aprovação. Recentemente, sua história de vida ganhou mais um componente de superação. Acometido por um câncer na laringe, passou por cinco meses de tratamento que subtraíram sua energia e sua voz, emblemas de sua força política. Travou uma luta silenciosa e venceu a doença. No fim de março, veio a público para agradecer a Deus e às preces dos brasileiros. Declarou» que iria "continuar lutando para ver se conseguimos melhorar a vida do povo brasileiro um pouco mais", como se o episódio fosse um breve hiato em sua missão. E assim fez, se engajando em campanhas eleitorais por todo o país, inclusive na minha, aqui em São Paulo. Como em outros momentos de sua vida, cada adversidade, crítica e questionamento faziam crescer sua fibra e determinação. Já tinha aprendido com Lula, ele presidente e eu ministro da Educação, que nossas ações tinham o poder real de mudar a vida das pessoas. Neste ano, agradeço a ele por me abrir um novo caminho: nas ruas e nos palanques, conversando com o povo. E nas urnas, com a confiança depositada pelos cidadãos em nosso projeto político transformador e progressista.
Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo e ex-ministro da Educação
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Ele redefiniu a posição de ex-presidente ao fomentar o debate e a formação de novas gerações e ganhou a maior láurea mundial das ciências sociais Sua extraordinária biografia bastaria para credenciá-lo entre os mais sábios, mercê da força do bom exemplo, uma mercadoria cada vez mais apreciada numa época marcada pela incerteza no campo dos valores. Não por outro motivo, em 2007, FHC passou a fazer parte do grupo conhecido como The Elders (Os Mais Velhos), do qual fazem parte Nelson Mandela, o Bispo Tutu, Koíi Annan, Jimmy Carter, entre outros. Um orgulho para o país. Em 2012, outro: aos 81 anos, foi o primeiro cidadão latino-americano a receber o Prêmio Kluge - uma espécie de Nobel para as ciências sociais - concedido pela Biblioteca do Congresso Americano. Os premiadores destacaram sua capacidade incomum de unir ação e teoria, engajamento político e excelência acadêmica, e de renovar-se continuamente, de modo a permanecer na fronteira do debate sobre o aperfeiçoamento da democracia. O intelectual presidente foi o primeiro a estabelecer uma biblioteca presidencial no país, no seio de um centro de pesquisa, seu instituto, o iFHC, que alterna eventos com os maiores líderes deste planeta e com estudantes que vêm conhecer seu acervo, conversar sobre valores democráticos e ouvir histórias, novas e velhas, sobre a inflação e outras drogas viciantes, bem como te¬mas emergentes de governança global. Por todos esses atributos, ao reinventar a ex-Presidência, dignificou ainda mais o cargo, ampliando sua expressão simbólica, sobretudo quando associado à simples conduta pessoal. A despeito de estar afastado das lides políticas e de ter se recusado a seguir o exemplo de Brutus na tragédia de Juliu Cesar, foi incessantemente atacado, na imprensa e no Judiciário, com vistas a destruir o seu legado e também esse seu discreto apostolado em torno da virtude pessoal. Mas o tempo e a verdade sumiram com essa fumaça. FHC rejuvenesceu ainda mais. O que pode ser mais atual e pertinente do que um paradigma de conduta pessoal?
Gustavo Franco, ex-presidente do Barco Central
AÉCIO NEVES O senador alia a tradição de sabedoria, entendimento e cordialidade da política mineira com uma gestão moderna Para mim, Aécio Neves são vários. Há o amigo generoso, o "carioca" entusiasta e o homem público notável. Meu amigo Aécio faz parte daquele imenso contingente de mineiros que são também cariocas, de vivência e espírito. Nascido em Belo Horizonte, ainda criança mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde viveu toda a adolescência. Foi nesse período que se formou em carioquice - nas arquibancadas do Maracanã, na quadra da Mangueira e na Praia de Ipanema, onde surfava. Em Belo Horizonte, concluiu a faculdade de economia e deu início à exitosa vida pública, trabalhando com seu ilustre avô Tancredo Neves, então candidato ao governo de Minas Gerais. Como secretário do avô, vivenciou um dos episódios mais importantes da história brasilei¬ra: a transição da ditadura militar para a democracia. De lá para cá, construiu uma carreira política bem-sucedida como deputado federal, governador de Minas Gerais, reeleito com excelentes re¬sultados administrativos, e agora como senador. Como homem público, Aécio compõe a mais destacada escola política brasileira. Seu sucesso político ampara-se em sólida herança familiar. O pai, Aécio Cunha, exerceu oito mandatos parlamentares. Seu avô pa¬terno, Tristão Ferreira da Cunha, foi secretário estadual do então governador Juscelino Kubitschek. Aécio é um mestre na arte de conciliar a tradição de sabedoria, entendimento e cordialidade da política mineira com a imperiosa modernidade de gestão.
Eduardo Paes, prefeito reeleito do Rio de Janeiro
EDUARDO CAMPOS 0 governador de Pernambuco comandou o PSB nas urnas e transformou o partido em vitorioso nas eleições municipais No último pleito, o PSB foi a legenda que mais cresceu em relação a 2008. Nada menos de 15,4 milhões de brasileiros viverão em cidades administradas pelo PSB. O partido de tradição também se revela dinâmico, sintonizado com as aspirações populares e preparado para responder aos desafios. Os resultados extremamen¬te positivos do último pleito resultam, em grande parte, da liderança segura do go¬vernador Eduardo Campos. Eduardo traz no sangue a verve da boa política. Neto de Miguel Arraes, de quem foi chefe de Gabinete, exerceu diversos mandatos até assumir o governo do Estado de Pernambuco, onde cumpre o segundo mandato. É conhecido seu destaque nos rankings que procuram retratar o desempenho de nossos gestores públicos. Uma carreira como essa só se constrói com brilho próprio, carisma e indiscutível competência.
Cid Ferreira Gomes, governador do Ceará
MICHEL TEMER O vice-presidente da República uniu o PMDB e fez do partido um dos pilares do governo Dilma Michel Temer é um exemplo de político firme e comprometido com o crescimento de nosso país. Sua carreira pública é sedimentada em seu amplo conhecimento jurídico, em suas aptidões de pro¬fissional do Direito e também em suas qualidades de grande ad¬ministrador. Temer é um homem querido e respeitado por todos. Como presidente nacional do PMDB, conseguiu um grande feito: unir o partido e dialogar com todas as suas correntes. Tem desempenhado impecavelmente o cargo de vice-presidente da República, focado no interesse nacional e nos temas de grande relevância da agenda internacional. Como leal companheiro de jornada da presidenta Dilma Rousseff, vem desenvolvendo uma gestão influente e colaborando para a governabilidade do nosso país.
Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro
GILBERTO KASSAB A capacidade de articulação do prefeito de São Paulo foi provada com a criação do PSD PARTILHEI COM O PREFEITO de São Paulo, Gilberto Kassab, de inúmeros momentos de troca de impressões sobre a política e as questões administrativas. Sua postura é de quem está sempre disposto ao diálogo. Essa é uma das características que hoje o credenciam como uma das principais lideranças políticas de nosso Estado. Sua capacidade de articulação foi comprovada com a criação do PSD, hoje uma das principais forças partidárias do país. Além disso, sua atuação no processo eleitoral deste ano foi marcada por uma forma absolutamente madura, republicana e democrática de fazer política. Apesar de seu apoio na capital a um adversário de nosso partido, ele manteve uma postura de respeito, sem fazer uso da poderosa máquina administrativa da prefeitura para beneficiar esse ou aquele candidato.
Luiz Marinho, prefeito de Sâo Bernardo do Campo, SP
EDUARDO PAES Consagrado pela reeleição em primeiro turno, o prefeito do Rio lidera um momento feliz da cidade O prefeito Eduardo Paes se funde com sua cidade, o Rio de Janeiro, Ele é a cara do Rio, e o Rio o coração de Eduardo. Minha admiração e amizade por este que é um dos mais talentosos líderes da nova geração de políticos brasileiros nasceram na época de sua atuação na Câmara dos Deputados, quando ele ainda pertencia aos quadros do PSDB. É raro um homem público tão identificado com a função que exerce. Despido das pompas do poder, Eduardo alcança aquilo que, para muitos, é pura utopia: uma relação aberta, franca e leal com os cidadãos, rompendo a dicotomia que costuma dividir-nos entre sociedade e Poder Público, entre nós e eles. Eduardo não pertence mais aos quadros do meu partido, que a ele faz oposição no plano político local. Essa circunstância jamais impediu o justo reconhecimento de seus méritos e valores. O político preparado, o líder sensível e o administrador moderno encontram-se nesse tijucano de 43 anos, que aprendeu a governar com incomparável leveza. Aproximou-se dos anseios da população, que o conhece de perto desde que, com apenas 23 anos, começou sua vida pública. Aliada a sua competência, acredito que é a postura de não exercitar a política como um fardo, e sim como escolha e vocação, que deu a ele as condições necessárias para realizar as transformações em curso no Rio. Os mineiros, assim como os sulistas, paulistas, nordestinos, nortistas, brasileiros de todos os cantos, somos também um pouco cidadãos do Rio, pelos laços de afeto que nos unem à cidade. Isso faz com que Eduardo seja um pouco prefeito de todos nós.
Aécío Neves, senador
ANTONIO CARLOS MAGALHÃES NETO 0 prefeito eleito de Salvador se consagrou como uma nova liderança, cercada de expectativas Dinâmico, hiperativo e contundente. Talvez sejam essas as melhores características para definir o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto. Nossa convivência na Câmara sem¬pre foi de respeito. Durante os trabalhos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, tivemos mais contato. Apesar de jovem, ACM Neto carrega duas marcas notáveis. A forte identificação com o avô e a busca constante pela afirmação e construção de identidade própria. O mais importante é que sempre foi um deputado de posição. Despertando amor ou ódio, não gera indiferença. ACM Neto conseguiu manter credibilidade e previsibilidade em sua conduta. Valores difíceis de alcançar e manter na Câmara Federal. Com personalidade forte, ACM Neto por vezes chegou ao limite do rompimento. O tempo o fez amadurecer e hoje se consolida como liderança e com grande expectativa, a partir de sua administração em Salvador.
Gustavo Fruet, prefeito eteito de Curitiba
ARTHUR VIRGÍLIO Nas urnas de Manaus, ele derrotou a candidata adversária, apoiada por Dilma, e mostrou força política Entre 2003 e 2010, convivi diariamente com Arthur Virgílio no Congresso Nacional. Ele, líder do PSDB; eu, do Democratas. Enfrentamos juntos muitas situações difíceis. E é na adversidade que conhecemos bem as pessoas. Por isso, posso dizer com convicção que Arthur Virgílio tem predicados como capacidade de liderança e espírito público. Arthur não convive com a improbidade. Considera a conduta ética um valor democrático. Fui testemunha de sua experiência e capacidade política. Sabe se conduzir em situações favoráveis e desfavoráveis. Depois de perder uma eleição para o Senado, em 2010, venceu neste ano a disputa para a prefeitura de Manaus com larga margem de votos. Está consciente de que a legitimação de uma vitória não é o resultado nas urnas, mas o desem-penho do mandato. Arthur Virgílio usará todas as suas características positivas, toda a sua experiência política para alcançar o sucesso administrativo como prefeito de Manaus. Energia para essa tarefa ele tem de sobra.
José Agripino, senador
GUSTAVO FRUET O ex-deputado federal venceu uma disputa acirrada pela prefeitura de Curitiba Técnico, meticuloso, comprometido com a ética, honesto, cumpridor de suas tarefas e firme em seus propósitos. São essas as características de Gustavo Fruet. É um político de valor inegável. De fala mansa, cordial, simples, sabe ser duro quando o embate é inevitável e conciliador na construção do diálogo. Sem abrir mão daquilo em que sempre acreditou, teve a coragem de enfrentar o desafio das urnas neste ano. Superou uma disputa difícil. Conheço bem as qualidades de Fruet, pois tive a oportunidade de conviver com ele na CPI dos Correios, em 2005, quando fomos sub-relatores e fizemos um grande trabalho. Fruet sempre pensou nos mínimos detalhes e se preocupou em ter resultados verdadeiros, sem máscaras nem qualquer maquiagem. A política brasileira precisa de nomes como Fruet, que servem de inspiração para quem deseja seguir carreira pública em benefício da população. Tenho a convicção de que ele tem um futuro brilhante e a certeza de que aproveitará a oportunidade na prefeitura de Curitiba para comprovar a competência demonstrada como parlamentar.
Antonio Carlos Magalhães Neto, prefeito eleito de Salvador, BA
FERNANDO HADDAD Escolhido por Lula como candidato à prefeitura de São Paulo, o ex-ministro da Educação conquistou uma vitória que parecia impossível FERNANDO HADDAD ACABA DE CONQUISTAR a prefeitura de SãO Paulo e já fez disparar a bolsa de apostas sobre seu futuro. "Ele tem tudo para ser presidente da República em 2022 ou 2026" afirmou ninguém menos que o marqueteiro João Santana, que assinou as campanhas vitoriosas de Dilma, em 2010, e do próprio Haddad, em 2012. João Santana não delira, não rasga dinheiro nem pesquisas de opinião. Se você também quer especular sobre onde estará Fernando Haddad em 2022, lembre-se de onde ele estava em 2003. Depois de se demitir, desiludido e silencioso, da gestão de Marta Suplicy, então prefeita petista de São Paulo, mudou-se para a Capital Federal, onde se tornou sub do sub de Guido Mantega, na época ministro do Planejamento. Como assessor de Mantega, costurou o formato das Parcerias Público-Privadas. Sua estrela brilhou na Esplanada. Foi então promovido a secretário executivo do Ministério da Educação e, em 2005, virou ministro e mudou completamente o panorama da educação brasileira. Escolhido por Lula para ser candidato a prefeito em São Paulo em 2012, apanhou um bocado para chegar ao segundo turno. No embate final, foi um passeio. Ganhou fácil do tucano José Serra. Não por ser o candidato de Lula, mas por ter atraído eleitores novos para o PT, inclusive aqueles que não votariam em Lula de jeito nenhum. Haddad só foi candidato porque Lula quis, mas ganhou a eleição por ter méritos que Lula não tem. Sua estrela reluzirá ainda mais - e não é só João Santana que sabe disso.
Eugênio Bucci, Jornalista e colunista de ÉPOCA
JOÃO SANTANA O publicitário baiano, o preferido do PT, elegeu o prefeito de São Paulo e ajudou Hugo Chávez a conquistar a terceira reeleição Conheci João Santana quando ele era apenas um eloqüente secundarista de Salvador. João seguiu para o jornalismo; eu, para a propaganda. Encontrávamo-nos de vez em quando. Ousado, ele exibia cabeleira black power, sandálias de couro cru, bolsa a tiracolo. Era o mais "cult" de nós. Teve exuberantes momentos no jornalismo. Tempos depois, li um anúncio de lanchas que me chamou a atenção. O título era: "Os ricos da Bahia nâo sabem viver a vida". Era João estreando na propaganda. Achei brilhante. Tentei contratá-lo, mas ele queria fazer marketing político. Com talento - e a ajudinha que o Senhor do Bonfim dá a quem nasce sob o dendê - ele conquistou uma notável coleção de êxitos, como as vitórias na prefeitura de São Paulo e na Venezuela, em 2012. Não digo que João esteja no esplendor de sua carreira. É aplicado demais para achar que sabe tudo. Por isso mesmo, ainda crescerá muito. Se eu fosse candidato a qualquer coisa, entregaria a éle minha campanha.
Fernando Barros, presidente da agência de propaganda Propeg
JORGE GERDAU O presidente da Câmara de Gestão do governo federal é um dos principais interlocutores da presidente Dilma no meio empresarial No ano passado, durante um almoço oferecido ao então presidente da Alemanha, Christian Wulff, a presidenta Dilma Rousseff apresentou-o ao empresário Jorge Gerdau. Em minutos, homenageado e convidado conversavam como velhos conhecidos. Em seu discurso de agradecimento, Wulff citou o brasileiro e fez menção ao fato de suas famílias serem originárias da mesma região alemã, banhada pelo Rio Elba. O prosaico episódio que testemunhei serve para ilustrar a enorme capacidade de Gerdau para conquistar pessoas. Esse trânsito é uma qualidade fundamental para quem, ao longo das últimas seis décadas, vem somando ao inequívoco sucesso empresarial uma dedicação crescente à política corporativa. Sua missão é a melhoria constante do ambiente de negócios no Brasil e a busca pela eficiência da gestão. Gerdau coordena a Câmara de Gestão do governo federal e integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O empenho nessa área fez dele um dos principais interlocutores da presidenta Dilma.
Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, indústria e Comércio Exterior
ROMÁRIO 0 deputado federal, ex-jogador da Seleção, se destaca no Congresso ao defender as pessoas com deficiência Como fã de futebol e vascaíno, sempre fui admirador de Romário. Seu senso de oportunidade na busca de gols e sua eficiência em campo nunca deixaram de me fascinar. Romário não gostava de gastar energia à toa. Movia-se no grama¬do apenas o necessário para decidir uma partida. Muita gente confundia isso com malandragem - mas era puro talento. Confesso, porém, que fiquei apreensivo quando ele se lançou na política e foi eleito deputado federal. Que tipo de atuação parlamentar esperar dele? Para minha grata surpresa, os traços de personalidade que fizeram dele um grande goleador também se refletiram no exercício de seu mandato. Altivo, independente e determinado, fez críticas certeiras à gestão do futebol brasileiro e cobrou o cumprimento dos prazos das obras da Copa. Engrossou o coro dos que pediam o afastamento de Ricardo Teixeira da direção da CBF. Usou e usa o esporte como instrumento de inclusão social, algo de que muitos falam na Câmara, mas quase ninguém faz. A defesa dos direitos das pessoas com deficiência foi uma causa que nos aproximou (ambos temos filhas com síndrome de Down) e tem sido uma marca de seu mandato.
Lindbergh Farias, senador
JOSÉ LUÍS DE OLIVEIRA LIMA Ao defender o ex-ministro José Dirceu no julgamento do mensalão, o advogado conquistou projeção nacional Falar do Juca é algo fácil e prazeroso. O que primeiro vem à cabeça é a lealdade, sinceridade e generosidade com os amigos. Ele é muito mais leve e divertido do que parece à primeira vista, com seus suspensórios, ternos bem cortados, gravatas discretas, óculos diferentes, mas distintos. Fala baixo e tem um ar de respeitabilidade que inibe os advogados mais novos. Gosta de ser reconhecido nos melhores restaurantes, de saber que as pessoas o veem como um player quando se discute OAB Seccional, que fala bem com todos os setores da sociedade, que dá palpite na vida do seu time, o Palmeiras, mesmo quando ele volta à segundona. Lembro quando meu querido amigo Zé Dirceu me procurou para advogar para ele no começo desse calvário. Disse-lhe que o processo seria politizado e que ele deveria contratar um advogado ligado ao PSDB. Indiquei-lhe o ministro José Carlos Dias, nosso eterno guru. Embora tenha gostado da causa, ele não poderia assumir, pois já advogava para o Banco Rural. Então, pensei no Juca, por transitar bem em todos os partidos. Fez um belíssimo trabalho técnico na defesa do Zé Dirceu, embora o resultado do julgamento, como eu previra em 2005, já estivesse escrito. Ter trânsito livre em todas as áreas da advocacia, como o uca tem, é uma proeza. Essa profissão é um ninho de cobras.
Antônio Carlos de Almeida Castro (Kakay), advogado criminalista
ARNO AUGUSTIN O secretário do Tesouro Nacional tornou-se uma referência na área de infraestrutura Arno Augustin É um dos principais economistas do PT, tendo exercido, com méritos, relevantes cargos da área econômica. Profundo conhecedor das questões nacionais, presidiu os Conselhos de Administração do Banrisul, do Banco da Amazônia e da Caixa Econômica Federal. Como executivo, comandou as secretarias de Fazenda de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul. Ocupou cargos importantes no Ministério da Fazenda, tais como secretário executivo adjunto e, atualmente, secretário do Tesouro Nacional. Tornou-se uma referência com suas lúcidas opiniões não somente sobre economia, mas também na área de infraestrutura, sobre a qual tem alto nível de conhecimento e argumentação. É considerado, pelo mercado e pela imprensa especializada, um dos protagonistas da condução de programas comprometidos com o desenvolvimento do Brasil.
Delcídio do Amaral, senador
VINÍCIUS CARVALHO Ele capitaneou as mudanças no Cade. o órgão antitruste do governo que ganhou mais poderes e acelerou as decisões sobre fusões e aquisições de empresas Vinícius Carvalho é a pessoa certa para comandar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) nesta fase de salto institucional da autarquia. Três características de Vinícius justificam essa avaliação. Em primeiro lugar, sua sólida formação acadêmica e teórica o credencia a dirigir um órgão colegiado que trata temas complexos que, em geral, exigem abordagem multidisciplinar e análise criteriosa de prós e contras. Mas boa formação acadêmica não basta. Vinícius tem, em segundo lugar, grande experiência em gestão pública e, em particular, no sistema brasileiro de defesa da concorrência. Já foi assessor, conselheiro, secretário de Direito Econômico, além de ter ocu¬pado vários outros cargos no Executivo. Conhece tudo e todos em Brasília. Teve papel central em fazer andar o projeto de lei que acabou se transformando na nova legislação de defesa da concorrência. Terceiro, e mais importante, Vinícius tem dois traços indispensáveis para o gestor, público ou privado: habilidade e bom-senso. Esses dois ingredientes são indispensáveis para quem deseja aplicar uma receita bem-sucedida de forta¬lecimento institucional. Exatamente aquilo de que o Cade e o Brasil precisam para entrar na era da concorrência.
Gesner Oliveira, ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)
JOSÉ SARNEY O presidente do Senado é dono de uma das trajetórias mais longevas da história da política brasileira A trajetória histórica de José Sarney é uma das mais louváveis da política brasileira. Seu papel no fim do período autoritário foi de suma importância para legar ao Brasil instituições sólidas, estáveis e, acima de tudo, democráticas. Com a morte de Tancredo Neves, em 1985, recaíram sobre seus ombros não só a esperança de um povo, mas também a cobrança dos principais atores políticos, econômicos e sociais. Havia acordos a cumprir, reações a apaziguar, crises a superar, um país a reestruturar. Sarney foi sereno, firme, moderado e cumpriu todas as missões que lhe foram impostas. Restabeleceu laços com países que se tornaram fundamentais para o crescimento brasileiro mais de 20 anos depois, como a China. Trabalhou pela integração com os vizinhos da América do Sul. Iniciou a organização das finanças, trazendo nomes que, anos depois, usaram a experiência de seu governo para elaborar o Plano Real. Foi pioneiro na busca da justiça social, com programas focados nos mais pobres e carentes. Sempre respeitou os demais Poderes. Seu legado é palpável nas ruas, onde o povo pode se manifestar de todas as formas pos¬síveis. Pode ser verificado na democracia mais longeva e sólida que já experimentamos. Sarney continua a ser um homem do seu tempo, presente na cena política atual e contribuindo para a melhoria das instituições brasileiras.
Michel Temer, vice-presidente da República
MARCO MAIA Efeito pelo PT cjaúcho, ele deixa a presidência da Câmara dos Deputados como um político de projeção nacional Conheci o deputado Marco Maia em 2005, logo que assumiu o mandato. Eu presidia a Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público. Ele fora eleito vice-presidente, revelando habilidade e sensibilidade política. Gostei desde logo de sua firmeza e determinação. Foi graças a essas qualidades que ele foi vice-presidente da Casa em 2009 e, depois, ganhou apoio da bancada do PT para se eleger presidente. Como líder do PMDB, acompanhei o trabalho do presidente Marco Maia nesses dois anos. Sou testemunha de que soube ouvir as reivindicações, decidiu as questões colocadas sob sua apreciação e convocou a Câmara para votar projetos relevantes. Com ele, a Câmara não empurrou com a barriga nem se omitiu. No apagar das luzes de 2012, Maia foi firme na de¬fesa da soberania do Legislativo para declarar vagos os cargos de deputados condenados pelo STF, alertando sobre o risco de crise institucional em caso de invasão de competência da Câmara. Confirmou as expectativas dos deputados e da Casa. Se chegou aqui como nome regional do PT, deixa a presidência como figura de destaque da política nacional, pelas suas qualidades e pela disposição de enfrentar os obstáculos.
Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara dos Deputados
ALDO REBELO O ministro do Esporte comanda a preparação do país para receber em 2014 a Copa do Mundo O ministro Aldo Rebelo é, sem dúvida, um paradigma de persistência, luta e obstinação. Falo não do amigo fraterno e aliado de tantas batalhas, mas sim do homem público preparado, vitorioso, nacionalista e, sobretudo, honrado. Aldo Rebelo terá um assento de destaque na história brasileira, por ter sido um dos protagonistas dos avanços políticos e institucionais mais relevantes dos últimos anos, seja na militância estudantil ou no Parlamento brasileiro. Nascido em Viçosa, em Alagoas, incorporou a seu comportamento a humildade e a cordialidade, tão características dos homens do interior. O precoce pendor pela política surgiu no Colégio Agrícola Floriano Peixoto, na . década de 1970, quando ingressou na Ação Popular e, sete anos depois, em sua filiação ao PCdoB, onde está ainda hoje, depois de uma passagem meteórica pelo PMDB. O nome de Aldo Rebelo ganhou projeção nos anos 1980, ao presidir a União Nacional dos Estudan¬tes. Logo em seguida, foi vereador e deputado federal por vários mandatos consecutivos. Foi eleito, por larga maioria, presidente da Câmara dos Deputados. A experiência somada ao bom trânsito no Congresso Nacional foram determinantes para Aldo Rebelo assumir a Coordenação Política do governo Lula, mesmo filiado a um dos menores partidos da base aliada de então. Agora, como ministro do Esporte, tenho certeza de que organizará a melhor Copa do Mundo de futebol de todos os tempos.
Renan Calheiros, senador
GARIBALDI ALVES O ministro liderou a mudança na aposentadoria dos servidores federais que deverá reduzir o déficit da Previdência Social Um dos maiores desafios para o homem público que experimenta as mais diversas formas de poder é manter a humildade, a serenidade e a simplicidade. Mesmo ocupando os mais altos postos da República, Garibaldi Alves Filho manteve a singela gentileza do povo potiguar. É com essa fineza de trato que ele vence as eventuais resistências que se erigem contra ele. Assim foi em sua gestão no Rio Grande do Norte, onde ficou conhecido como "governador das águas" ao levar água de qualidade a milhares de conterrâneos. Assim foi na presidência do Senado, defenden¬do o fortalecimento e a independência do Poder Legislativo. Talvez a mais relevante conquista de Garibaldi tenha sido conduzir, em 2012, as negociações para a aprovação da previdência complementar para os servidores públicos federais. Ela foi essencial para garantir, em futuro bem próximo, tanto aos trabalhadores do regime geral quanto aos do Regime Jurídico Ünico, a percepção de uma aposentadoria. Tal legislação estava prevista desde a reforma previdenciária de 2003, mas somente Garibaldi, nove anos depois, reuniu em torno de si as condições políticas para aprovar a criação e regulamentação deste que será um dos maiores fundos de previdência do mundo.
Raimundo Carreiro, ministro do Tribunal de Contas da União
GUIDO MANTEGA Num cenário em que as grandes economias mundiais estão em desequilíbrio, o ministro da Fazenda tem conseguido manter a saúde das contas brasileiras A condução do ministério da Fazenda exige equilíbrio e sobriedade a qualquer tempo. Em tempos normais, as pressões já são enormes, em vista da dificuldade de atender a todos os interesses e demandas sociais, quase sempre cobertos de legitimidade. Não fosse isso bastante, a crise global de 2008 nos devolveu também a uma era de profunda incerteza, o que deveria tornar as políticas econômicas nacionais menos rígidas, mais pragmáticas e voltadas ao bom-senso. Sobriedade, bom-senso e pragmatismo têm sido as características mais marcantes de Guido Mantega em sua traje¬tória nos governos Lula e Dilma. Ele começou pelo Ministério do Planejamento, como parte da equipe econômica que enfrentou os duros desafios de 2003, seguiu pela presidência do BNDES, depois na função de ministro da Fazenda. Nesse caminho, a experimentação, a observação da realidade e o diálogo têm sido qualidades formadoras do estilo de Guido. Sem dúvida, essas características o têm auxiliado presentemente no enfrentamento dos desafios postos pelos desdobramentos da crise financeira global. Até hoje, a manutenção do equilíbrio fiscal, mesmo em período de estímulo ao investimento, num mundo das grandes economias em desequilíbrio e quase estagnadas, tem todo o mérito e tem trazido resultados.
Antonio Palocci Filho, ex-ministro da Fazenda
PAULO BERNARDO O ministro das Comunicações lidera uma das áreas mais importantes para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil Paulo Bernardo tem uma extensa folha de relevantes serviços prestados ao país. Nos três mandatos que lhe foram conferidos pelo povo paranaense como deputado federal, Bernardo demonstrou profundos conhecimentos de orçamento. Trabalhamos juntos na elaboração da legislação das Parcerias Público-Privadas. Os rígidos critérios com que sempre defendeu a aplicação dos recursos públicos o catapultaram para o Ministério do Planejamento, de onde comandou as grandes obras e projetos que fizeram do governo Lula o mais aprovado da história do país. Para ajudar o Brasil a vencer o desafio da universalização com padrões internacionais de telefonia, Bernardo foi convocado pela presidenta Dilma para compor sua equipe. Ele lidera uma das áreas mais sensíveis para o desenvolvimento do país, trabalhando na im¬plantação do Plano Nacional de Banda Larga e na aprovação do marco civil da internet, projeto de lei que estabelece os direitos e deveres no uso da rede.
Walter Pinheiro, senador
NELSON BARBOSA No Ministério da Fazenda, ele dá o tom das políticas de longo prazo o gradualismo e a temperança nas decisões sintetizam bem o estilo de gestão do secretário Nelson Barbosa. Em vez da impulsividade que pode contaminar o pensamento de técnicos jovens e brilhantes como ele, Nelson quer dar passos antecedidos por muita reflexão e em sintonia com o espírito público. Isso não tem nada a ver com imobilismo. Pelo contrário. Ações refletidas se prolongam no tempo e trazem mais benefícios para mais gente. O país inteiro colhe os frutos de medidas talhadas pelas ponderações de Nelson Barbosa, que ganharam forma a partir do Ministério da Fazenda. À frente do Conselho de Administração do Banco do Brasil, Nelson quer a todos imbuídos da função pública do BB. Durante sua gestão, saímos a campo para prover crédito aos setores produtivos do país, quando boa parte das fontes secou, na crise de 2009. Agora, somos indutores do reposicionamento dos bancos, no novo contexto dos spreads menores. Nelson Barbosa sempre nos pede para tratar urgências com inteligência, de olho no interesse coletivo.
Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil
ALEXANDRE TOMBINI O presidente do Banco Central manteve o sistema de metas inflacionárias, mas está dando mais valor para o crescimento econômico Tenho um grande respeito pelo economista Alexandre Tombini. É um profissional muito bem apetrechado, independente, convicto do que faz. No último ano, mostrou que estava mais antenado com a realidade do mundo e com a economia brasileira do que a maioria de seus críticos. Foi muito atacado, mas manteve o sistema de metas inflacionárias funcionando com uma adaptação que aconteceu no mundo inteiro: está dando mais valor para o crescimento do que para a velocidade de aproximação da meta de inflação. Não abandonou a meta de jeito nenhum, mas, em vez de atingi-la em oito meses, como todo mundo queria, e produzir uma recessão, ele chegará à meta em 18 ou 24 meses, com o país crescendo 2% e mantendo a estabilidade financeira. Nenhum Banco Central em nenhum lugar no mundo pode deixar de olhar o nível de atividade. O Banco Central tem de dar as condições monetárias para que o crescimento se realize. Considero o trabalho de Tombini muito bom. Ele é um grande presidente do Banco Central, igual aos melhores que a instituição já teve.
Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento, ex-deputado federal e professor aposentado da Universidade de São Paulo
GRAÇA FOSTER Exigente, a engenheira é a primeira mulher a comandar a Petrobras, a empresa de maior faturamento no Brasil Conheço acompetência técnica da Graça dos tempos em que construía sua carreira como profissional de engenharia da Petrobras. Ela é obsessiva no cumprimento de prazos, metas e obtenção de bons resultados e intolerante com o que foge à correção e à ética. Para os que ainda terão a oportunidade de conviver com a Graça, pode-se dar um conselho: levem argumentos lógicos e fundamentados. Ela tem toda a disposição para discutir propostas sólidas e tecnicamente embasadas. Mas, se sentir que o interlocutor tem argumentos frágeis, a reunião acaba em poucos minutos. O convívio nos últimos dez anos me fez descobrir que a profissional determinada e exigente concilia a pesada rotina de trabalho com uma vida pessoal rica de afetividade, em que a família é fonte de inspiração e motivação para vencer os desafios. É torcedora fanática do Botafogo e desfila em escolas de samba, com destaque para a União da Ilha do Governador. Alia a sensibilidade de quem fala de flores e músicas ao conhecimento privilegiado do setor de petróleo e ao amor à Petrobras - pela qual, afirma, daria a vida.
João Carlos de Luca, presidente da Barra Energia
GLEISI HOFFMANN A ministra-chefe da Casa Civil é o braço firme da presidente Dilma na coordenação e execução dos programas de governo Gleisi, Gilberto Carvalho e eu formamos o "trio do 4º andar", uma equipe harmoniosa que, com muita cumplicidade, enfrenta os desafios cotidianos do Palácio do Planalto. Foi na caminhada política que conheci essa grande companheira. Hoje, à frente da coordenação, gestão e controle dos programas federais, Gleisi revela no cotidiano sua sólida formação técnica e seu perfil de grande gestora e administradora pública, ratificados em todas as funções que exerceu. Sua vasta experiência profissional em gestão pública tem contribuído de forma decisiva para os êxitos dos projetos do governo. É importante reconhecer seu compromisso de assegurar a democracia plena, em especial, aos brasileiros que mais precisam da proteção do Estado. Aliás, esse é o comprometimento do governo da presidenta Dilma, um projeto de desenvolvimento do país com base no crescimento econômico com inclusão social. Ao longo desses quase dois anos no assessoramento direto à presidenta, reconheço na ministra Gleisi uma grande líder, que fará história na defesa do Paraná e do Brasil.
Ideli Salvatti, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República
MÍRIAM BELCHIOR Ela deu relevância ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, enfrentando desafios como a greve dos servidores Miriam optou pela militância desde sua juventude, combinando a generosidade da entrega com a seriedade profissional. Perfeccionista, exigente ao máximo consigo mesma, uniu de forma admirável o ativismo político e profissional ao estudo, ao aprofundamento, à busca de novas ferramentas para exercer de maneira sempre mais competente seu trabalho, o serviço público. O grande diferencial do Partido dos Trabalhadores nesse tempo todo foi contar com gente como Miriam em suas administrações. A Miriam engenheira esteve ao lado da presidenta Dilma, quando esta era ministra da Casa Civil, na concepção e implantação do PAC, do qual hoje é coordenadora. Como ministra do Planejamento, a Miriam gestora promoveu a participação da sociedade na elaboração do Plano Plurianual 2012-2015, experiência inédita e democrática. Por trás de toda a gigantesca mudança que ocorre no Brasil, por trás das ações mais importantes de nosso governo, há esse trabalho, há esta e tantas outras "Mirians", que, com esta, muito especial, merecem uma grande homenagem, um grande e carinhoso reconhecimento de todos nós.
Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República
DILMA ROUSSEFF No segundo ano de mandato, a presidente da República deu sua própria cara ao governo Lucidez e firmeza são duas qualidades harmonicamente combinadas na figura da presidenta Dilma Rousseff. A primeira permite que tenha uma grande margem de acerto cm seus diagnósticos; a segunda dá a ela enorme capacidade de realização daquilo a que se propõe. O que torna Dilma tão presente e influente na vida dos brasileiros não são simplesmente essas qualidades. Dilma tem passado de que se orgulhar. Sua militância contra a ditadura consolidou em sua alma sonhos de um Brasil melhor para todos os brasileiros. Uma rica formação política deu a ela instrumentos para lutar por sua utopia e sensibilidade social para enxergar o homem e a mulher que existem por trás de cada número de uma estatística. O presente de Dilma é fazer o país cada vez melhor, o mais próximo possível de seus sonhos e dos sonhos de todos os brasileiros. É tecer o Brasil do futuro. Como estadista, ela faz diariamente essa construção. No seu segundo ano de governo, Dilma consolidou um governo com cara de Dilma. A presidenta marca sua administração como de continuidade à minha, quando define a mesma prioridade dc erradicação da pobreza e da miséria. Mas até a continuidade de políticas, em seu governo, traz a sua própria assinatura. É dela a política econômica que consolidará a estabilidade e a justiça social conquistada pelos governos petistas; tem a sua assinatura o plano estratégico para tornar o Brasil qualitativamente tão grande quanto o tamanho de seu território. A presidenta Dilma Rousseff foi uma líder influente cm 2012 porque fez a diferença. E será influente nos próximos anos porque continuará fazendo a diferença. Essa é a sua natureza: Dilma nasceu para deixar sua marca. E sua marca no cenário nacional e internacional está sendo construída com muito trabalho e muita coragem.
Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente
LOURENÇO BUSTANI 0 fundador da consultoria Mandalah foi eleito uma das 100 pessoas mais criativas do planeta Lourenço e eu nos conhecemos há quase dez anos, em função da convergência de nossos interesses, ligados à inovação. Hoje, além de parceiros, somos amigos. Filho de diplomata, ele tem uma história de vida internacional. Por isso é um verdadeiro cidadão planetário, com facilidade de entender e navegar pelo universo de empresas e culturas. Tem um olhar de curiosidade e aceitação em relação aos outros - seja empresa, indivíduo ou nação. O povo brasileiro tem uma cultura extremamente criativa, mas não estamos bem colocados no eixo da inovaçao mundial. Isso acontece porque inovar é transformar a ideia em produção, com eficácia e funcionalidade. Essa é a inovação que o Lourenço luta para desenvolver nas organizações.
Christina Carvalho Pinto, publicitária, sócia do grupo Futl Jazz de comunicação
MARCELO NERI O novo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)pôs no mapa a nova classe média brasileira - e deu a ela um rosto humano que as estatísticas escondiam Sempre tive implicância com economistas que, ao olhar os números, acabam se distanciando da realidade. Definitivamente, esse não é o caso do Marcelo Neri. Em suas pesquisas na Fundação Getulio Vargas, ele conseguiu, com uma clareza ímpar, mostrar quem são os seres humanos por trás das estatísticas. É ótimo que esse trabalho tenha continuidade agora no ipea. Estudo o tema da evolução de renda há 11 anos e, desde o início, considerei Neri uma referência. Tive o privilégio de dividir a mesa com ele em palestras e debates. Impressiona sua capacidade de trazer a economia para o cotidiano das pessoas. Ele faz isso de um jeito sempre lúcido e distante das falsas polêmicas que tentam partidarizar o surgimento de uma classe média no Brasil. Classe média cuja presença no debate nacional muito se deve ao trabalho do Neri. Ele me inspira. Tenho certeza de que também inspira milhares de outros que, como eu, esforçam-se para entender as mudanças e as oportunidades deste novo Brasil.
Renato Meirelles, sócio diretor do instituto de pesquisas Data Popular
ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES NETO O herdeiro do grupo Votorantim abriu o primeiro fundo brasileiro de capital para negócios sociais, o Vox Capital Existem no país vários esforços para unir negócios lucrativos e efeitos sociais benéficos, mas o Vox foi o primeiro a se organizar na forma de um fundo de investimento, em 2009. A ideia é investir em empresas com potencial para lucrar e para provocar transformações sociais. O grande desafio é saber medir o impacto social de um negócio e entender de quanto retorno os acionistas e investidores podem abrir mão. Muito do esforço de Antonio está voltado para descobrir essas respostas.
Fernando Reinach, sócio gestor do fundo Pitanga, de investimento em empresas
MIRIAM TENDLER A cientista da Fiocruz comandou o desenvolvimento da primeira vacina contra o parasita da esquistossomose Em junho deste ano, a pesquisadora Miriam Tendler anunciou a aprovação, nos testes clínicos da fase 1, da primeira vacina mundial contra a esquistossomose, uma eilfermidade que afeta 200 milhões de pessoas no planeta e está presente em 18 Estados do país, com maior incidência no Nordeste e em Minas Gerais. Miriam e sua equipe demonstraram que a vacina é segura e capaz de induzir imunidade à doença - isso põe o país numa fronteira da ciência. Todo esse esforço se insere numa das vocações naturais da Fiocruz: enfrentar as doenças negligenciadas. O anúncio é um capítulo relevante de um projeto que começou há mais de 30 anos e, desde então, é liderado por Miriam. Mãe de três filhos, numerosas foram as vezes em que ela os trouxe ao trabalho, devido às longas jornadas devotadas à pesquisa. Nos fins de semana, passou horas redigindo ou lendo artigos acadêmicos que fizeram parte do desenvolvimento do projeto. Miriam é uma cientista obstinada, que não para diante de desafios.
Paulo Gadelha, presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
SUZANA KAHN Participante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, ela tem ajudado governos a criar políticas para proteger o meio ambiente A competência científica de suzana a tornou membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o painel que reúne cientistas destacados de todo o planeta. Mas é como executiva de governo que ela se destaca atualmente. Começamos a trabalhar juntos há seis anos e continuamos até agora. Suzana inaugurou a superintendência do clima no Rio de Janeiro, quando eu era secretário. Depois, tornou-se secretária nacional do Clima e agora é subsecretária de Economia Verde do Rio. Suzana fez o país avançar muito na questão climática. Foi uma das responsáveis pela mudança de postura do então presidente Lula sobre o papel do Brasil nas mudanças climáticas: convenceu-o a estabelecer metas de redução de emissões para o país, ao contrário do que fizeram outros países em desenvolvimento, que preferiram jogar a responsabilidade sobre os países desenvolvidos. O Estado do Rio, sob sua gestão, também avançou muito. Neste ano, Suzana foi responsável pelo conteúdo de um decreto que estabeleceu metas de economia de energia para o Estado. Foi responsável por outro decreto que inclui a sustentabilidade como item essencial das licitações. Agora, não basta a empresa ter o melhor preço. É preciso provar que poupa sua matéria-prima, emite menos poluentes e reaproveita resíduos. Suzana é muito alegre, adora cantar, dançar e reunir as pessoas de que gosta em casa, para celebrar a vida. Realmente, uma pessoa especial, com quem tenho o privilégio de trabalhar.
Carlos Mine, secretário do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro
JOSÉ MARIANO BELTRAME 0 secretário de Segurança do Rio de Janeiro comanda o bem-sucedido programa que pacificou as favelas Mariano é um homem simples, com uma formação que lhe permitiu se destacar na Polícia Federal como líder de sua geração e exemplo para os mais novos. Sua carreira começou na década de 1980, como agente da Polícia Federal na repressão ao tráfico de drogas. Participou de operações de inteligência e repressão em todo o território nacional, acumulando conhecimento para enfrentar o crime organizado. Chefiou a Missão Suporte, um grupo de profissionais experientes organizado pelo governo federal para combater a violência urbana no Rio de Janeiro, e chegou a secretário estadual de Segurança Pública. Em Mariano, o governo estadual encontrou um técnico preparado para a função. Então desconhecido pela opinião pública, mas respeitado pelos profissionais da área, ele iniciou um trabalho que hoje, bastante adiantado, orgulha a toclos que com ele conviveram ou convivem.
Luiz Fernando Corrêa, ex-diretor-geral da Polícia Federal
JOÃO REZENDE O presidente da Anatel agiu contra as empresas de teiefonia para garantir a qualidade dos serviços prestados aos consumidores A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) entrou numa nova fase em 2012, sob a liderança de João Batista de Rezende. Como os serviços de telecomunicação estão presentes no cotidiano dos consumidores brasileiros, é fundamental que as decisões nesse setor sejam amplamente debatidas com a sociedade. A sensibilidade de Rezende com os direitos dos consumidores vem levando a Anatel a aperfeiçoar os mecanismos de participação social e a transparência desse debate. A agência tem as ferramentas necessárias para exercer essa fiscalização de forma rigorosa. Há anos, os órgãos de proteção ao consumidor reivindicam uma intervenção da Anatel em certas situações, Isso começa a ocorrer nesta nova fase. O presidente da Anatel suspendeu temporariamente a venda de chips de empresas de telefonia móvel que vinham prestando serviços abaixo da qualidade desejada. Na gestão de Rezende, a Anatel e o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor, firmaram um acordo, a fim de definir como será a atuação conjunta dos dois órgãos para proteger o consumidor de serviços de telecomunicações. Desde a criação da Anatel, nunca havia existido um ambiente tão propício para a cooperação nessa área.
Juliana Pereira, secretária nacional do consumidor do Ministério da Justiça
JUSTINIANO DE QUEIROZ NETTO O secretário do programa Municípios Verdes conseguiu reduzir o desmatamento da Floresta Amazônica No dia 23 de março de 2011, o Estado do Pará assumiu um compromisso ambicioso: mudar o quadro de devastação na Amazônia, por meio do programa Municípios Verdes. Hoje, 19 meses depois, o programa colhe resultados positivos. O Pará obteve o melhor resultado na redução do desmatamento em extensão territorial entre todos os nove Estados integrantes da Amazônia Legal. A redução foi de 44% entre agosto de 2011 e julho de 2012. Um dos nomes por trás desses resultados é o secretário extraordinário do programa, Justiniano Netto. Desde que firmou esse pacto contra o desmatamento, Justiniano Netto tem sido incansável na busca de parcerias para consolidar o programa. A meta inicial - conseguir a adesão de 100 municípios até o final de 2013 - está prestes a ser batida: 90 municípios já aderiram. Na coordenação, Justiniano demonstra capacidade política admirável, balanceando os interesses legítimos de produtores rurais - que precisam da terra para produzir e desenvolver a economia do Estado - e os interesses, também legítimos, de todos aqueles que querem a Floresta Amazônica preservada, como um. patrimônio vivo da humanidade.
Simão Jatene, governador do Pará
LUIZ FELIPE PONDÉ Com livros e artigos provocativos, o filósofo pernambucano revitalizou o pensamento de direita e pôs na berlinda as posturas politicamente corretas O meu colega Luiz Felipe Pondé é um homem de coragem. Suas colunas - e seus livros - provam-no. É preciso coragem para levantar a cabeça na maré da vulgaridade politicamente correta do mundo ocidental e resgatar uma noção de "individualismo" que, hélas, ganhou mau nome entre os escravos. Não há de temer o termo: individualismo é a capacidade de sermos livres e estarmos dispostos a aceitar as conseqüências dessa liberdade. Não é fácil: Czeslaw Milosz, o notável poeta e ensaísta polaco (ou, como dizem no Brasil, polonês), escreveu em seu livro Mente cativa que aquilo que atraiu os intelectuais para a causa comunista não foi a violência de Estado, ou o medo dessa violência. O que atraiu os intelectuais, para além de razões ontológicas e epistemológicas profundas (encontrar um sentido para a vida, encontrar uma explicação "científica" para o caos social etc.), foi o medo da esterilidade. O medo do isolamento. O medo de estarem isolados ante o consenso. Hoje, não vivemos em regimes totalitários. Mas o pensamento politicamente correto é totalitário, ao desqualificar moralmente qualquer voz dissonante, remetendo-a para as margens do debate "aceitável". Isso é particularmente insidioso na academia e na República das Letras, em que a cartilha marxista/feminista/ecologista/pós-estruturalista/relativista/imbecilista (riscar o que não interessa) reina praticamente sem freios. Que Pondé seja capaz de atuar - e de atuar inteligentemente - na academia e na República das Letras, eis um rasgo de esperança para a vida pública do Brasil.
João Pereira Coutínho, escritor português, professor da Universidade Católica Portuguesa e colunista do jornal Folha de S.Paulo
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Revista Época: Serviço pela metade Por Rafael Ciscati e Marcos Coronato, com Marcelo Rocha O Brasil se prepara para fazer uma faxina nas condições precárias e na informalidade dos serviços domésticos. Só falta tirar a poeira da Lei Trabalhista
A economista Lídice e a estudante Conceição convivem e têm rotinas bem diferentes. Lídice viaja toda semana entre suas duas residências: um apartamento em Salvador, para onde se mudou ainda jovem, a fim de cursar economia, e o apartamento em Brasília, onde passa a semana de trabalho. Maria da Conceição, aos 42 anos, faz faculdade de história e trabalha em Brasília. Na semana passada, ambas ficaram felizes. Lídice da Mata, por ser a senadora (PSB-BA) responsável pela relatoria de um texto que fez história - a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que equipara os direitos dos trabalhadores domésticos aos dos demais profissionais. Maria da Conceição de Jesus, empregada da senadora, por saber que seu trabalho é respeitado. "É bom saber que você tem seus direitos. Você se iguala aos demais trabalhadores", diz.
Lídice sabe que a mudança exigirá um esforço de adaptação por parte dos empregadores. Sabe também que essa transformação da sociedade, para melhor, já estava em andamento. Ela nasceu numa família bem estabelecida, com cinco filhos e duas ou três empregadas domésticas. Em sua infância, nos anos 1960, as relações no trabalho doméstico eram informais. Hoje, Lídice mantém duas funcionárias para cuidar de suas duas casas e lida com elas de forma diferente da habitual uma geração atrás. Fez o registro profissional e recolhe o FGTS de ambas. Ficou orgulhosa com a aprovação da PEC. "Estamos falando de pessoas que, em pleno século XXI, trabalham 12 horas por dia. Trabalham dez anos numa casa e depois são demitidas sem direito a nada", afirma. Com a emenda constitucional, a categoria passará a contar com limitação de jornada de trabalho, hora extra e férias remuneradas.
A lei diz respeito a todos os funcionários do lar (como mordomos, caseiros e motoristas), mas a maior parte desse contingente são empregadas domésticas. A garantia dos direitos desses empregados levará os patrões a gastar pelo menos 8% a mais na contratação formal do serviço, segundo a ONG carioca Doméstica Legal. Mário Avelino, presidente da ONG, considera a mudança "justa", mas faz ressalvas. "Deveria vir acompanhada por medidas que tirassem encargos de cima do empregador", diz.
Diante do custo mais alto, muitos empregadores serão obrigados a demitir suas funcionárias - 800 mil delas, segundo a Doméstica Legal. Para compensar essa perda, será preciso que a economia cresça. Se isso ocorrer, é provável que as ex-domésticas assumam novas vagas abertas para outras funções. Elas podem virar diaristas ou assumir empregos com poucas exigências de qualificação, no comércio e nos serviços, segundo Gabriel Ulyssea, coordenador da área de pesquisas de trabalho e renda do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Poucos questionam que as empregadas devam ter direitos profissionais regulares. A situação dessa categoria profissional, no Brasil, é vergonhosa. Num relatório do início deste ano, a Organização Internacional do Trabalho levantou que as primeiras leis de proteção ao serviço doméstico no Brasil começaram a valer nos anos 1970, com pelo menos uma década de atraso em relação à Argentina e meio século em relação à pioneira Áustria. Quem contrata serviços domésticos nas grandes cidades brasileiras tem a impressão de que as domésticas, faxineiras e babás estão por cima nas negociações. São disputadas pelos patrões e podem escolher entre as ofertas que recebem. Essa não é a realidade da profissão no país todo. Cerca de 70% das empregadas domésticas ainda trabalham em regime informal, sem carteira assinada nem acesso a direitos garantidos aos demais trabalhadores. No Nordeste, essa parcela sobe para mais de 85%.
O problema está na própria Lei Trabalhista brasileira, que não se ajusta a uma economia dinâmica e desestimula a geração de novos empregos. É bom que uma parte maior dos 7 milhões de empregados domésticos do Brasil e seus patrões perceba como é difícil trabalhar e contratar formalmente no país. Quando uma família ou empresa contrata um funcionário, os encargos sobre essa admissão podem ultrapassar 100% do valor do salário. Esse dinheiro não vai nem para o patrão nem para o empregado, mas para o governo. Mesmo em setores beneficiados com algum alívio fiscal, os encargos se mantêm acima de 70%. Esses índices superam os de muitos países, como Japão, Reino Unido ou Canadá, onde o governo oferece serviços de educação e saúde de primeira. Se uma empregada especialmente competente quiser definir um regime de trabalho diferente, com horários mais flexíveis ou só por certo período do ano, encontrará dificuldade. O mesmo ocorrerá se essa empregada resolver abrir um negócio próprio e contratar outras pessoas. Num relatório de 2010 do Banco Mundial, o Brasil ficou mal colocado, em 138o lugar, entre 183 países avaliados no quesito "Facilidade para contratar".
Em 2013, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que congela o país nessa situação, completará 60 anos. Foi inspirada na Carta Del Lavoro, da Itália fascista de Benito Mussolini. Era um conjunto de regras para uma sociedade que imaginava, como motor da economia, a indústria. A relação de trabalho se daria entre alguns poucos e poderosos empregadores e exércitos de operários em linhas de montagem. Desde então, cresceram a participação dos serviços e do comércio na economia. Em vez de contemplar apenas grandes contingentes de operários, as normas trabalhistas de hoje precisam levar em conta os autônomos, os prestadores de serviços ultraespecializados e a necessidade de empresas de todos os tamanhos adaptarem-se agilmente a mudanças de cenário. Isso é especialmente crítico para os setores da economia criativa que vários países, incluindo o Brasil, querem cultivar - tecnologia, moda, design, educação, lazer. "Os serviços e o comércio precisam de contratos de trabalho mais flexíveis, como contratação por hora, que a legislação não permite", diz Ulyssea. O Banco Mundial alerta que esse tipo de rigidez, comum em países em desenvolvimento, pode levar à contenção no crescimento das companhias e ao menor investimento em pesquisa.
Seja pelos altos custos de contratação, seja pelo surgimento de novas oportunidades, a tendência inevitável é que as empregadas domésticas virem uma raridade no Brasil das próximas décadas, como revelou ÉPOCA numa reportagem de capa publicada em 23 de janeiro de 2012. Esse sumiço ocorre por dois motivos. Um é puramente econômico. A demanda por trabalhadores com qualificação de baixa para média cresceu muito nos últimos anos e se mantém firme. São postos de trabalho como vendedoras, manicures ou cabeleireiras. Como diz o pesquisador Naércio Menezes, da escola de negócios Insper, quem insiste em trabalhar como doméstica deixa de surfar essa onda - na linguagem dos economistas, a doméstica passou a encarar uma alta muito forte no custo de oportunidade (o custo de dispensar as alternativas).
O outro motivo para o desaparecimento das empregadas é social. Está ligado à autoestima de uma geração de filhos de empregadas que cresceu com mais acesso à educação (embora ainda de qualidade sofrível) e com poder de compra inédito. Muitas das jovens que podem escolher preferem não ser empregadas domésticas, mesmo que tenham de ganhar menos. "O emprego doméstico muitas vezes se mistura com relações pessoais, desprovidas de profissionalismo", diz a socióloga Luana Pinheiro, do Ipea. "As empregadas às vezes se sentem amigas das empregadoras, mas sabem que não são próximas o bastante para ser convidadas a sair juntas." Hoje, 51% das empregadas têm mais de 40 anos. As filhas dessas mulheres encontram e escolhem outras opções profissionais. Bom para elas e para o país.
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Revista Exame (SP): Negros são minoria em carreiras públicas de níveis superiores
Luciana Lima
Os negros ocupam somente 5,3% dos postos de comando das grandes companhias brasileiras, entretanto, essa realidade não está restrita somente ao setor privado. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), feito para analisar o Projeto de Lei 6.738/2013, que propõe 20% de vagas para negros em concursos de administração pública federal, constatou que cotas raciais poderiam diminuir as disparidades entre brancos e negros em carreiras públicas.
A pesquisa, que foi apresentada no Seminário Cotas no Serviço Público Federal, organizado pelo Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) na Câmara dos Deputados, apontou que o número de negros em cargos públicos de níveis superiores é quase 20% menor comparado aos brancos.
Ao analisarmos os números gerais, negros e brancos ainda se encontram em certa posição de igualdade, já que brancos ocupam 51,5% de cargos públicos e negros ocupam 47,4 de postos no setor. Na instância municipal do serviço público, que não exige nível superior e tem menor remuneração, os negros (51,4) chegam a ultrapassar os brancos (48,0), porém esse quadro se altera quando subimos para as categorias estaduais e federais.
Em cargos de nível estadual os negros ocupam 44,4% ante os 54,0% dos cargos ocupados por brancos; em nível federal esse número salta de 58,6% de cargos exercidos por brancos para apenas 39,9% de cargos exercidos por negros. Quando avaliamos as diferenças por gênero o número é ainda mais desigual, as mulheres negras ocupam apenas 7,5% dos cargos federais.
Nas carreiras mais valorizadas o número de negros também é reduzido, na diplomacia por exemplo, a presença de profissionais negros é de apenas 5,9%. "O Projeto de Lei é uma iniciativa para que o conceito de ações afirmativas se consolide nas políticas de promoção da igualdade racial", disse a ministra-chefe da SEPPIR Luiza Bairros durante o evento na terça-feira (11), o projeto ainda está em tramitação no Congresso Nacional.
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Revista Exame - Estudo do Ipea propõe crédito a juro zero às PMEs para PIB crescer de novo
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Revista Exame - Uma em cada 5 profissões no país pode adotar o home office, diz estudo
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Revista Exame online - Impacto da pandemia é maior para trabalhadores jovens, diz Ipea
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Revista Exame: Fatia do Tesouro nos recursos do BNDES cresce 566% A proporção de recursos originários dos cofres federais, que era de 6% em 2001, chegou a 40% em 2009O porcentual deverá ser ainda maior neste ano, porque foram injetados mais R$ 80 bilhões dos cofres públicos no banco. "Essa dependência aumenta o grau de interferência do Tesouro no banco e diminui a transparência", avalia o economista Mansueto Almeida pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que analisou os dados nos balanços do banco. "Tudo isso vem sendo feito com pouco debate pela sociedade."
Para fortalecer o BNDES, o Tesouro emitiu títulos pelos quais paga a taxa de mercado, mas esse dinheiro é emprestado pelo banco pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), bem mais baixa e atualmente em 6% ao ano. Essa diferença entre taxas de juros é bancada pelos cofres federais, num subsídio cujo valor é desconhecido e que virou o debate do momento entre especialistas.
"Estamos aumentando a dívida pública para tentar suprir a carência de recursos do BNDES para fazer política industrial, dar crédito de longo prazo, financiar obras públicas etc.", observa Mansueto. "Mas essa política tem um custo, por isso é preciso que a sociedade discuta o que quer do BNDES." A Petrobras, por exemplo, tomou R$ 25 bilhões do banco. "Mas essa é uma empresa que consegue crédito em qualquer lugar do mundo." Segundo o economista, não haveria razão para criticar o empréstimo se o BNDES tivesse dinheiro de sobra.
Em defesa do empréstimo à estatal, o assessor da presidência do BNDES Marcelo Miterhof diz que a operação ocorreu em meio à crise, num momento em que as linhas de financiamento eram escassas. "Apesar de a Petrobras ter mais facilidade para tomar empréstimo, se tivesse recorrido ao mercado de crédito privado provavelmente haveria uma drenagem nos recursos para pequenas e médias empresas." Ele classifica o aumento de dependência do BNDES em relação ao Tesouro como 'falso problema', pois a injeção de dinheiro, que chegou a R$ 180 bilhões, foi uma manobra decorrente da crise. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Revista Exame: GENEROSIDADE DE PAÍS RICO Uma pesquisa exclusiva revela que, para fazer o bem, as empresas brasileiras estão tão dispostas a compartilhar parte de seus lucros quanto as americanas ANA LUIZA HERZOG A biblioteca, na qual elas se divertem com livros, foi montada pela Suzano Papel e Celulose, e faz parte do Ler É Preciso, programa que a empresa criou para combater o chamado analfabetismo funcional — deficiências na capacidade de ler e compreender o que se lê —, uma condição que atinge 15% da população brasileira entre 15 e 24 anos de idade. No total, são 84 bibliotecas em U estados do país que recebem mensalmente cerca de 40000 crianças, jovens e adultos. O Ler E Preciso é apenas uma das iniciativas da Suzano, que no ano passado investiu 28 milhões de reais em programas voluntários com foco não só em educação mas também em temas como meio ambiente e geração de renda. Um valor que correspondeu a 3,09% de seu lucro bruto em 2009. O percentual é alto para as companhias do país. E o que revelou a terceira edição de uma pesquisa realizada pela Comunitas, ONG criada pela ex primeira-dama e antropóloga Ruth Cardoso, sobre como as empresas que operam no Brasil gerenciam seus investimentos sociais. Em um universo de 16 companhias privadas de grande porte, que inclui nomes como Vale, Votorantim, Holcim e Bradesco, a mediana da proporção dos recursos aplicados correspondeu a 1,13% do lucro de 2009. Trata-se de um percentual aplicado às causas socioambientais semelhante ao aplicado pelas empresas americanas — ou 1,12%. "Houve um crescimento dessa relação nos últimos três anos no Brasil, o que mostra o fortalecimento do compromisso das empresas com essas questões", afirma a socióloga Anna Maria Peliano, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autora do estudo. "Este é um fato relevante, sobretudo porque o período não foi dos mais favoráveis economicamente." A despeito de carregarmos problemas sociais mais prementes que os Estados Unidos, as leis brasileiras estimulam pouco a filantropia — parta ela de pessoas ou empresas. Enquanto aqui o abatimento do imposto de renda nas doações com fins sociais limita-se a 2% do lucro operacional, nos Estados Unidos chega a 10%. A nova pesquisa da Comunitas revelou- se também a primeira tentativa de colher informações a respeito de um tema sobre o qual se sabe muito pouco no país: o volume dos aportes compulsórios feitos por empresas nos campos social e ambiental em virtude de exigências legais. "As próprias companhias têm dificuldade de discriminar esses valores", afirma Helena Hypólito, gerente da Comunitas. Apenas sete empresas conseguiram fornecer dados sobre aportes compulsórios à Comunitas. A amostragem é pequena. Mas com base nela foi possível deduzir que o volume de dinheiro aplicado de forma compulsória está muito próximo do investido voluntariamente. No caso da mineradora Alcoa, ele foi até mesmo maior. Em 2009, a empresa destinou 42.6 milhões de reais para cumprir uma série de exigências legais. Só para a Secretaria do Meio Ambiente do estado do Pará, onde mantém uma mina de bauxita, a Alcoa teve de destinar 28.7 milhões de reais para apoiar a conservação de florestas. "As empresas não enxergam esses aportes como investimento social, mas achamos importante que eles sejam mais bem monitorados", afirma Anna Maria Peliano. "Afinal, estamos falando de dinheiro privado que está indo para a seara pública, e é preciso saber como esses recursos estão sendo usados." •
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Revista Exame: Ipea vê menos espaço para queda do desemprego em 2013 Após o comportamento contido do desemprego em 2012, a expectativa para 2013 é que as taxas se mantenham estáveis e não caiam muito além do que se registrou no ano passado
Após o comportamento contido do desemprego em 2012, as expectativas para 2013 é que as taxas se mantenham estáveis e não caiam muito além do que se registrou no ano passado. Na avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os trabalhadores, no entanto, podem conquistar um novo aumento no rendimento real em 2013.
"A questão do (aumento do) rendimento pode se repetir sim. Há uma demanda em alta do mercado de trabalho, e quando isso acontece, em geral, os trabalhadores conseguem barganhar salários mais altos", avaliou Carlos Henrique Corseuil, diretor-adjunto da Diretoria de Estudos Sociais do Ipea.
O pesquisador ressaltou que o mercado de trabalho, pelo menos nas regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), continua com taxa de desemprego baixa e indicadores positivos. "Talvez isso se repita em 2013", observou ele.
No entanto, é provável que não haja fôlego para um recuo abaixo do verificado no ano passado. Em dezembro de 2012, a taxa de desemprego ficou em 4,6%. "Melhorar eu já acho que seria mais difícil. Talvez a gente mantenha esse patamar de 2012", disse Corseuil.
O economista apontou que a população ocupada manteve o crescimento no quarto trimestre de 2012, mas houve aumento de pessoas em busca de emprego, o que fez com que o ritmo de queda na taxa de desemprego diminuísse.
"Há um movimento de elevação no quarto trimestre da taxa de atividade, pressionando a informalidade e a desocupação para cima", notou Corseuil. "No quarto trimestre, a taxa de atividade descola e começa a apresentar valores bem mais altos do que em 2011", acrescentou.
A taxa de atividade alcançou 57,8% em dezembro de 2012. No mesmo mês de 2011, a taxa tinha ficado em 56,7%. "Isso significa que havia mais gente disposta a entrar no mercado de trabalho em dezembro de 2012 do que em dezembro de 2011", explicou.
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Revista Exame: Sensor Econômico eleva previsão de crescimento Marli Moreira, O resultado do bimestre maio-junho indica que o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) poderá crescer 6,5% este ano. Nas duas pesquisas anteriores, a taxa tinha sido de 5,2% e de 5,5%.
No que se refere à inflação, o índice do período foi de 5,5%, ligeiramente superior ao do bimestre anterior, mas ainda dentro da meta estabelecida pelo Banco Central (BC), que é de até 6,5%. Quanto à taxa básica de juros da economia (Selic), o setor produtivo espera que encerre o ano com 11,5%. Em reunião na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) corrigiu a taxa de 10,25% para 10,75% ao ano.
Outro sinal positivo apontado pelo setor é de expansão da taxa de crescimento de 15%. Segundo o economista João Sicsú , responsável pela pesquisa, proporcionalmente ao PIB, o país deverá alcançar investimentos 3,5% superiores aos do ano passado, no que se refere aos projetos da União e das estatais. Somando-se aos volumes esperados nos municípios e estados, o crescimento deverá ser de 5%, o maior dos últimos 15 anos.
"A grande maioria desses investimentos deverá estar concentrada nas obras do PAC [Programa de de Aceleração do Crescimento] e da Petrobras", disse Sicsú, referindo-se, no último caso à exploração do petróleo da camada do pré-sal.
Para ele, os investimentos estão no rimo adequado, mas não de acordo com o futuro de um país desenvolvido. "[O ritmo dos investimentos está] de acordo com a superação de nosso passado recente de semiestagnação econômica, em que o investimento era muito baixo e a economia até crescia, mas com trajetória de voo de galinha: subia e caia. Agora, a tendência é de maior consistência, de crescimento da taxa de crescimento do investimento na economia brasileira."
Para destacar o bom desempenho da economia, Sicsú apontou a expectativa do sensor quanto à geração de empregos neste ano, que é mais de um 1,5 milhão de vagas com carteira assinada, e quanto à movimentação do comércio exterior, com exportações de US$ 180 bilhões, acima do volume de importações (US$ 160 bilhões).
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Revista Exame: Só regime de urgência salvará aeroportos na Copa Consultores ouvidos pelo site EXAME dizem que Brasil não fez dever de casa para a Copa do Mundo de 2014 e há muitos erros no planejamento dos investimentos Cacau Araújo e Eduardo Tavares, de EXAME Os aeroportos mais movimentados não recebem a maior parte dos investimentos Todas as notícias de Economia Brasília e São Paulo - A situação dos aeroportos brasileiros é preocupante e já se esgotou o tempo para grandes investimentos voltados à Copa do Mundo de 2014. A opinião é do professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício do Espírito Santo. Segundo o especialista, tudo o que for feito de agora em diante será em regime de urgência.
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"A copa virou referência porque é uma obrigação, mas o Brasil não tem feito seu dever de casa e a 'professora Copa do Mundo' veio e mostrou que o caderno estava em branco", compara o professor, avisando que, agora, o Brasil deveria estar se concentrando apenas em detalhes.
Para o especialista, o brasileiro que usa os serviços aeroportuários no dia-a-dia é quem mais sofre. "Desde 1998 discute-se a privatização da Infraero, mostrando que é um caso antigo. Em 2007, o caos aéreo provou que o problema ultrapassou o limite da infraestrutura aeroportuária e atingiu a estrutura aeronáutica", avalia ele.
E a situação ainda pode piorar muito. Segundo o professor Respício, com o aumento da renda e do parcelamento de passagens aéreas, os brasileiros vão viajar cada vez mais de avião. "O sistema não vai aguentar", prevê.
Aeroportos em números
Dados da Infraero (estatal que administra os aeroportos) mostram que, entre 2004 e 2007, o aeroporto de Guarulhos, na grande São Paulo, teve um fluxo de 646,7 mil aviões, entre voos nacionais e internacionais. No aeroporto de Congonhas, na capital paulista, foram 882 mil aeronaves. Os números de passageiros que circularam em Guarulhos e Congonhas ao longo destes anos foram de 63 milhões e 90 milhões, respectivamente.
Porém, segundo estimativas de um estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Avançadas (Ipea), no período considerado, apenas 7% (cerca de 200 milhões de reais) dos recursos que a Infraero investiu em aeroportos foram destinados a Congonhas, o mais movimentado. Guarulhos ficou com 12%, o equivalente a 340 milhões.
Enquanto isso, aeroportos com uma demanda menor receberam investimentos superiores no período. Ao aeroporto Eurico de Aguiar Salles, em Vitória, foi destinada a fatia de 15% do total (mais de 400 milhões de reais). De 2004 a 2007, neste aeroporto, circularam 129 mil aeronaves e 12 milhões de pessoas.
Veja a distribuição dos investimentos da Infraero entre 2004 e 2007:
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