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Banco Mundial destaca políticas de redução de risco
Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial, que também propõe iniciativas, teve lançamento nacional no Ipea
O “Programa Bolsa Família no Brasil, tem sido não só um dos principais motores para reduzir significativamente a desigualdade e a pobreza extrema nos últimos anos, mas também a melhoria da gestão de risco individual”. O programa foi citado no Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial (WDR, na sigla em inglês) - intitulado Risco e Oportunidade: Gestão do Risco para o Desenvolvimento -, que o Banco Mundial lançou nesta quarta-feira, 12, na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em Brasília, como exemplo de políticas que minimizam efeitos negativos má distribuição de renda.
Pela análise feita, as transferências monetárias condicionais provaram ser capazes de gerar benefícios em termos de distribuição para os pobres, bem como os impactos positivos em termos de gestão de risco. “A ideia subjacente do programa é proporcionar as famílias pobres com as transferências de renda mensal que estão condicionados ao cumprimento de certos comportamentos de gestão de risco, tais como a conclusão de saúde check-ups, acompanhamento do crescimento das crianças, ou perseguir os cuidados adequados para as mulheres grávidas”, diz o Relatório, destacando que o programa tem sido capaz de alcançar taxas de conformidade para estas condicionalidades de saúde de perto de 100%, melhorando significativamente a gestão dos riscos para a saúde de 11 milhões de famílias pobres.
O WDR deste ano propõe políticas para os níveis domiciliar, local, nacional e global. Seu aconselhamento global, entretanto, centraliza-se na necessidade de gerenciar o risco pró-ativamente em todos os níveis e de uma maneira que seja coerente com seus objetivos mais amplos e os apoie, tais como planos nacionais de desenvolvimento, programas de investimento em infraestruturas municipais ou até mesmo metas de poupança no nível do domicílio. Em se tratando do Brasil, o Relatório recomenda a criação de juntas nacionais de riscos, como uma reforma institucional já implementada em Cingapura e que países como Marrocos, Jamaica e Ruanda estão considerando.
Trabalho conjunto Segundo a diretora do Banco Mundial para o Brasil, Deborah L. Wetzel, esta edição do relatório propõe políticas para os níveis domiciliar, local, nacional e global, observando que seu aconselhamento global, entretanto, centraliza-se na necessidade de gerenciar o risco pró-ativamente em todos os níveis e de uma maneira que seja coerente com seus objetivos mais amplos. “No Brasil, temos trabalhado, por exemplo, com a gestão de desastres”, observou Deborah. “Fizemos análises que mostram que em quatro grandes eventos – em Santa Catarina, Pernambuco, Alagoas e Rio de Janeiro –, em anos recentes, grandes chuvas ocasionaram custos diretos e indiretos próximos de R$ 15 bilhões. Estamos trabalhando para preparar os estados para esse tipo de situação.”
O diretor do WDR, Norman Loayza, apresentou experiências de sucesso de desenvolvimento em momentos de risco. Economista chefe do departamento de pesquisa do Banco Mundial, o peruano afirmou que embora os esforços, iniciativas e responsabilidades das pessoas sejam essenciais para a gestão do risco, seu sucesso – em termos de capacidade que um indivíduo ou uma população apresenta, após momento de adversidade, conseguindo se adaptar ou evoluir positivamente frente à situação e prosperidade – será limitado sem um ambiente de apoio. “A estrada para o desenvolvimento está pavimentada com vários riscos e é preciso gerenciá-los em todos os níveis e de uma maneira coerente com seus objetivos. “O gestor proativo prevê os riscos e se prepara para os problemas”, afirmou Loayza, observando que os benefícios da prevenção são muito maiores que os custos.
Para o ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos e presidente do Ipea, Marcelo Neri, este é um relatório difícil de executar por sua multidisciplinaridade. “O tema é muito pouco analisado, mas tem um papel muito importante para esta dimensão – do risco e da oportunidade -, que por sua natureza, não é muito visível”, ressaltou. Neri citou, como exemplos, três fatos que, geralmente, não são analisados pela dimensão do risco.
O primeiro é a criação do Plano Real, que, ao proporcionar a estabilização monetária, permitiu aos brasileiros prever melhor seus investimentos. O segundo, o que chamou de “Real do Lula”, a fase em que o país conseguiu conciliar crescimento com distribuição de renda e melhora do risco percebido através de um choque de confiança. "Esta parte não consideramos em geral, mas tem um impacto direto no bem estar da nação, além de gerar impactos indiretos sobre as duas demais dimensões", disse.
O terceiro elemento é o Bolsa Família, que, amparado na transferência de renda, e mais recentemente na inclusão produtiva e no acesso a serviços públicos pelos mais pobres, permitiu que uma parcela significativa da população fosse incluída. "Falta complementar este tripé com a perna de Microfinancas, que permite as pessoas lidarem com riscos através de poupança e microsseguro e alavancar oportunidades", argumentou.
O ministro da SAE e presidente do Ipea apresentou também dados sobre o risco de renda per capita no Brasil. “O Brasil vive um processo de redução de risco complementar a aumento de renda e redução forte da desigualdade. No topo disso, está a redução do risco ruim, de cair (em relação à mediada da renda per capita do trabalho), e aumento do risco bom, ou seja, a oportunidade de subir. O risco de grupos tradicionalmente excluídos – como mulheres e negros, analfabetos – é maior que o dos demais, mas houve de 2003 para 2013 uma redução proporcional de risco ruim e oportunidade maior também entre os grupos excluídos”, explicou Neri.
Vídeo: Assista, na íntegra, ao lançamento do Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial
Veja os gráficos de apresentação "Risco e Oportunidade: Comentários sobre o WDR 2014"
Veja os gráficos de apresentação "Will we be ready when crisis strikes or when opportunity knocks"
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